Evento de partido de Bolsonaro exibe apoio inexistente de entidades da PF

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

  • Fátima Meira/FuturaPress/Estadão Conteúdo

Duas entidades representativas da Polícia Federal apareciam até esta quarta-feira (18) como apoiadoras da Cúpula Conservadora das Américas, que será realizada em Foz do Iguaçu (PR) no fim do mês por uma fundação do partido do presidenciável e deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Os apoios foram retirados do site oficial do evento a pedido das associações por um motivo simples: não existiam.

A reportagem do UOL procurou a ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) e a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) para questioná-las sobre a suposta contribuição com a cúpula, que foi criada para servir de contraponto ao Foro de São Paulo --conferência que reúne partidos da esquerda latino-americana.

Reprodução
Antes: site do evento exibia logotipos de entidades ligadas à PF

O presidente da ADPF, Edvandir Paiva, demonstrou surpresa ao ser informado que uma logomarca da associação era exibida na página do evento (foto acima) e logo disse que não houve autorização por parte da entidade. "Está desautorizada a utilização da marca da ADPF no evento", declarou. Ele notou, inclusive, que o logotipo utilizado era o antigo da associação.

Representante de cerca de 2.300 delegados da PF, Paiva disse que iria entrar em contato com a organização do evento para saber "que história é essa" e frisou que a ADPF não tem relação com partidos "nem de esquerda nem de direita", incluindo o PSL. Menos de duas horas depois, a logomarca havia sumido do site. Restavam a da Fenapef e a do CES (Centro de Estudos em Seguridade), única a confirmar o apoio.

Já a federação nacional, que representa os quase 15 mil policiais federais brasileiros, informou que houve uma "conversa inicial" com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável e um dos dois organizadores do evento, mas que as duas partes "não fecharam nem formalizaram nenhum apoio". Eduardo é escrivão da PF e tem relações próximas com representantes da categoria.

Reprodução/Cúpula Conservadora
Depois: site da Cúpula Conservadora retirou logotipos de associações ligadas à PF

Segundo a entidade, a intenção inicial era que a Fenapef apoiasse com a indicação de um palestrante, o que acabou não ocorrendo. Ainda de acordo com a federação, a organização da cúpula justificou a exibição do apoio inexistente dizendo que houve uma "precipitação". No início da noite, a marca da Fenapef foi retirada da página do evento (foto acima).

A reportagem questionou a assessoria da organização da cúpula nesta quarta por telefone e por meio de mensagens. Após a publicação da reportagem (no dia 18), a organização da cúpula respondeu, no dia 23, que "houve autorização de membros das entidades, mas como não houve tramitação formal de processos, a organização decidiu excluir".

A cúpula está marcada para o próximo dia 28 e será realizada pela Fundação Indigo de Políticas Públicas, que pertence ao PSL. Além de Eduardo Bolsonaro, o deputado federal Delegado Francischini (PSL-PR) também atua como organizador do evento.

O plano é "reunir importantes líderes e economistas liberais da América Latina para debater os problemas atuais que ocorrem em nosso país e no mundo", em mesas-redondas abordando economia, segurança, cultura e política. Jair Bolsonaro será um dos palestrantes.

"Apoio técnico"

Com a retirada dos dois apoios, sobrou apenas o Centro de Estudos em Seguridade, associação civil sem fins lucrativos fundada por professores dos cursos de ciências atuarias e contabilidade da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Diretor executivo do CES, Abraham Weintraub explicou ao UOL que a entidade está apenas "dando apoio técnico ao selecionar e convidar alguns acadêmicos no Brasil e em outros países para o debate econômico e jurídico". Ele é um dos palestrantes confirmados para a mesa-redonda de economia.

"Não há valor financeiro algum envolvido. Nossa motivação é colaborar para o desenvolvimento do debate técnico e científico neste segmento liberal de pensamento político e filosófico", explicou Weintraub.

Questionado se via algum problema em associar a entidade a um evento realizado por um partido, o diretor foi categórico: "muito pelo contrário".

"Uma de nossas funções em nosso estatuto é fomentar o debate científico e a troca de informações técnicas, como realizado em nossa proposta de Reforma da Previdência Fásica, apresentada no Congresso Nacional como uma alternativa melhor que a reforma da previdência que os governos Lula/Dilma/Temer tentaram impor ao Brasil", explicou.

Bancada da Lava Jato

Apesar de não apoiar a Cúpula Conservadora, a ADPF realizou na semana passada, em Curitiba, um evento para reunir 13 delegados federais pré-candidatos a cargos públicos na eleição desse ano. O objetivo da associação é tentar eleger uma espécie de "bancada da Lava Jato" no Congresso.

Edvandir Paiva afirmou que a entidade deve contribuir com a sociedade em um momento no qual "não se sabe qual caminho seguir". "Há uma descrença em nomes, em projetos e em plataformas. Nós temos essa responsabilidade de oferecer caminhos, como um dos órgãos mais respeitados pela sociedade", afirmou.

Os aspirantes estão filiados a partidos como Rede, PSL, PPS, PR, PDT, PRB e PPL – sendo que o PSL, de Bolsonaro, representa a grande maioria.

Veja o vídeo dos pré-candidatos da Lava Jato

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