PT oficializa Lula como candidato: "ação mais confrontadora que fazemos"

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

O PT oficializou neste sábado (4) a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à eleição presidencial de 2018. O ex-presidente foi confirmado por aclamação dos cerca de 600 delegados que participaram do evento nesta tarde em São Paulo.

O nome de Lula foi oficializado pela presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), que pediu aos presentes que levantassem máscaras com o rosto do petista se o quisessem como candidato.

"Nós dizemos ao Brasil que Lula é o nosso candidato e vamos registrá-lo nos braços do povo no dia 15 de agosto em Brasília", afirmou Gleisi, que disse que essa é a atitude "mais confrontadora" contra o sistema atual e contra a "mídia golpista".

"Essa é a ação mais confrontadora que fazemos contra esse sistema podre por parte da Justiça que não faz outra coisa senão perseguir Lula", disse a parlamentar. "Vamos tirar Lula da prisão. Vamos voltar a governar esse país. Vamos devolver a alegria para o povo brasileiro".

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Em tese, a condenação em segunda instância na Operação Lava Jato deixa o ex-presidente inelegível pelos critérios da Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, o PT diz que vai registrá-lo. A legalidade da candidatura depende de uma análise da Justiça Eleitoral.

Lula lidera as principais pesquisas de intenções de voto para a corrida presidencial. Nos cenários sem ele, quem aparece à frente é o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). O petista foi presidente duas vezes (2003-2010) e concorreu em outras três oportunidades (1989, 1994, 1998).

O evento deste sábado ainda formalizou o apoio do PCO ao PT. Horas antes, o PROS também anunciara aliança nacional com o Partido dos Trabalhadores.

Mensagens de Lula

Durante a convenção, foram lidas duas mensagens escritas por Lula na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso desde o dia 7 de abril pela condenação a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP). Na primeira, que reproduzia texto já divulgado pelo PT, Lula questionava sua impossibilidade de conceder entrevistas.

"A juíza Carolina Lebbos decidiu que não posso dar entrevistas ou gravar vídeos. Parece que não bastou me prender, quer me calar. Aqueles que não querem que eu fale, o que vocês temem que eu diga? O que está acontecendo com o povo? Não querem que eu discuta soluções para esse país? É para isso que vocês, poderosos sem votos e sem ideias, derrubaram uma presidente eleita e humilharam o pais internacionalmente e me condenaram sem provas? Tudo isso com medo de eu dar entrevistas?", escreveu Lula.

No texto, Lula encerra dizendo que o Brasil precisa "restaurar sua democracia, precisa se reencontrar consigo mesmo e ser feliz de novo" e diz que mantém a fé no povo. "A fé dos brasileiros contra o complexo de vira-latas é a solução para a crise que vivemos".

Lula: confirmação inicia "luta sem tréguas"

Na segunda mensagem, lida no encerramento da convenção, Lula diz que sua oficialização como candidato inicia uma "luta sem tréguas" na busca por um novo mandato, que seria o seu terceiro e o quinto do PT, após um mandato e meio de Dilma Rousseff (2011-2016).

"Esta é a primeira vez em 38 anos que não participo pessoalmente de um encontro nacional do nosso partido. Mas sei que estou presente por meio de cada um de vocês, cada dirigente, delegado e militante do PT", disse a carta lida pelo ator e mestre de cerimônias do evento Sergio Mamberti.

"Este encontro nacional do PT talvez seja um dos mais importantes em toda a história do nosso partido. É enorme a responsabilidade que temos pela frente. A decisão de hoje vai nos conduzir a uma luta sem tréguas pela democracia, pelo povo brasileiro e pelo Brasil. E a vitória dependerá do empenho de cada um de nós".

De todos os candidatos à Presidência oficializados até agora, Lula foi o único que não participou da convenção em que foi escolhido.

Mistério e indefinição sobre vice

Diversos dirigentes do PT, de movimentos sociais e partidos aliados discursaram durante a convenção deste sábado, entre eles o vereador Eduardo Suplicy - candidato ao Senado por São Paulo -, o ex-ministro das relações exteriores Celso Amorim, o ex-prefeito de São Paulo e coordenador do programa de governo de Lula, Fernando Haddad, e a ex-presidente Dilma Rousseff, que chegou quando o evento já estava em andamento.

"Lula representa uma ideia, um programa, todas as realizações feitas nesses últimos anos para mudar o Brasil. E sobretudo Lula representa a esperança de que vamos mudar o Brasil", discursou Dilma. "Estamos nessa convenção que abre uma nova etapa da luta, que é a etapa eleitoral. Essa nova etapa precisa que a gente lute todas as horas, todos os dias".

O encontro teve início com mais de uma hora de atraso e foi cercado de mistério sobre quem e quando será anunciado o vice de Lula.

Na sexta (3), após visitar Lula na PF em Curitiba, Gleisi Hoffmann afirmou que Manuela D'Ávila (PCdoB) e Ciro Gomes (PDT) estão entre as opções do partido. Os dois também são presidenciáveis e já foram oficializados por suas legendas em convenções nacionais.

Gleisi se encontrou neste sábado, antes da convenção, com dirigentes do PCdoB, mas segundo o jornal O Estado de S. Paulo, não houve nenhuma definição sobre vice.

Ainda na sexta, Gleisi afirmou que o anúncio oficial só deverá acontecer no dia 14 de agosto, véspera da data limite para o registro de candidaturas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Mas a indefinição pode trazer ainda mais riscos para a chapa do PT. Isso porque há o entendimento, no TSE, de que o dia 6 é o prazo final para confirmação de chapas e coligações. Gleisi, no entanto, alega que o partido não foi oficialmente informado do prazo.

Advogados de Lula recomendam que o PT indique um vice até o dia 6. Segundo eles, não há jurisprudência contrária à indicação até o dia 14, mas tanto o MP (Ministério Público) quanto o próprio TSE emitiram sinais nas últimas semanas indicando uma mudança no entendimento.

Caso resolva indicar um vice ainda no fim de semana, o PT pode ter de fazê-lo sem ter o aval final de Lula. Segundo o UOL apurou, os dirigentes do PT não podem ter nenhum acesso ao ex-presidente durante todo o fim de semana. A comunicação com ele seria restrita, por meio de bilhetes.

Entenda a polêmica sobre a candidatura de Lula

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