Dirceu defende alianças do PT na eleição e diz que Lula não aceita indulto

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

  • Lula Marques/Folhapress

    Lula e José Dirceu durante cerimônia em Brasília em 2005

    Lula e José Dirceu durante cerimônia em Brasília em 2005

O ex-deputado e ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, José Dirceu (PT), afirmou nesta segunda-feira (17), em Maceió, que não existe hipótese de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitar um perdão de pena --suposição levantada nos últimos dias tanto por petistas como por opositores.

"A questão do indulto é simples: o Lula não vai aceitar. Tem que acertar com os russos, como dizia o Garrincha com o Feola. O Lula é inocente e quer que a Justiça o inocente. Ele já disse que não aceita liberdade cautelar com tornozeleira eletrônica, como eu usei por um ano e um mês; não aceita prisão domiciliar; seguramente, se perguntado [sobre o perdão], dirá que não aceita. Aliás, isso não é indulto, é graça, é perdão. Indulto tem que cumprir parte da pena, passar por regime semiaberto e aberto", afirmou.

Em uma longa entrevista em que elogiou alianças com "lulistas" que votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff --como o senador Renan Calheiros (MDB) e o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI)-- Dirceu disse crer uma eleição presidencial já marcada por interferência judicial indevida.

Carlos Madeiro/UOL
O ex-ministro petista José Dirceu lança seu livro em Maceió

"Impediram o Lula, e isso transformou em uma eleição controlada", disse. "Mas eles não esperavam que o Lula ressurgisse com tanta força depois de tudo que fizeram conosco", completou, citando os índices de intenção de voto do ex-presidente nas pesquisas que incluíram o nome dele.

Dirceu está em liberdade graças a uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) para que o ele espere uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) sobre a execução da pena de 30 anos e nove meses dada pela Justiça no âmbito da Operação Lava Jato

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Apoio a alianças

Em Alagoas, onde lança seu livro "Zé Dirceu, Memórias - Volume 1", o ex-ministro criticou duramente os defensores do impeachment de Dilma Rousseff, mas defendeu os apoios dados ou recebido pelo PT a políticos que votaram a favor do impedimento da então presidente, em 2016. Para ele, esses nomes fizeram uma "revisão" no posicionamento, como foi o caso do senador Renan Calheiros (MDB-AL) --que se coligou com o PT em Alagoas para tentar reeleição.

"Quem deu o golpe está com [Geraldo] Alckmin (PSDB). O núcleo e os partidos estão com Alckmin. Você vai encontrar personalidades que fizeram uma revisão, mas que sempre foram lulista. O Renan nunca deixou de ser lulista, sempre foi leal. Há outros casos sem tanta visibilidade, como o presidente do PP, Ciro Nogueira, que está fazendo campanha por Lula no Piauí", disse. 

Questionado sobre a dificuldade do PT em assumir erros em suas gestões, Dirceu disse que isso se trata de uma tática política forçada pela situação do país. "Eles negaram totalmente o governo do Lula, criminalizaram o PT e o Lula. Ou seja, nos colocaram em uma situação em que primeiro nós temos que nos defender, dizer o que nós fizemos, e não nossos erros. Seria uma absurdo se nós ainda nos apresentássemos perante o país dizendo nossos erros. O Lula saiu do governo com 85% de aprovação, eles negam o governo do Lula, dizendo que foi a continuidade do FHC", afirmou.

"PT vence Bolsonaro"

O ex-ministro se negou a responder se, em um eventual segundo turno sem Haddad, o PT apoiaria Ciro Gomes (PDT) contra Jair Bolsonaro (PSC). "Essa é uma pegadinha que o Fernando Henrique fez, dizendo que votaria no PT no segundo turno contra o Bolsonaro. Isso não vou responder, vamos esperar o segundo turno. Quem está agora no segundo turno é o Haddad, então são eles que têm de responder. Nós não temos de responder", comentou, fazendo críticas em seguida às propostas do militar reformado.

"Bolsonaro é retrocesso para o país, do ponto de vista democrático e cultural. É um sujeito que diz que vai resolver o problema do Brasil na bala. Isso é bravata, é mentira. Sou totalmente contrário a ele, não contrário à candidatura dele. Ele se elegeu, tem filhos eleitos, isso faz parte da democracia. Mas ele tem um discurso antidemocrático. Sem falar as coisas que ele fala da mulher e dos homossexuais. Com esse discurso ele não entra em país nenhum que a juventude não deixa", pontuou.

Dirceu ainda rebateu a ideia de que a eleição estaria sob suspeita por uma tentativa de fraude às urnas eletrônicas pelo PT, e que isso levaria a uma contestação do resultado. "Se formos levar em conta o princípio de que vão rejeitar o resultado da eleição, não vamos concorrer nunca. Tentaram isso em 2002 quando o Lula venceu. Se eles querem romper as regras do jogo, nós não vamos romper. Se o Haddad ganhar a eleição, e eles não deixarem assumir, tentem um golpe, nós vamos resistir", afirmou.

Decepção com Lula

Em um dos trechos do seu livro, Dirceu revela que teve decepção com o ex-presidente Lula em 2005, quando foi demitido da Casa Civil ao ser acusado de chefiar um esquema de pagamento de propina a deputados da base aliado, apelidado de mensalão. Dirceu viria a ser condenado depois a sete anos e 11 meses de prisão.

"Meu questionamento é que [à época] não havia um plano de voo, não tinha um plano de defesa, não tinha um Estado Maior. Não era uma coisa que a minha demissão fosse resolver, nem depois a minha cassação, nem depois a minha condenação. Não guarde magoa, ressentimento. Claro no momento foi um choque muito grande, uma decepção muito grande porque de 1979 a 2002 eu não fiz outra coisa que não me dedicar ao PT. E no meu caso, com protagonismo desde o começo porque eu vinha de uma experiência passada de organizar e liderar", afirmou.

Para Dirceu, não o defender foi um erro que custou caro. "Lógico que eles erraram, e a prova do erro está como terminou: com Lula condenado e preso, e a Dilma sofrendo impeachment. [O certo seria] não me demitir e resistir. Eu falei, quero me defender, mas no governo não posso, vou para a Câmara. Eu tive apoio em ato público em Brasília do vice José Alencar, de ministros. Eu rodei o país, ia aos estados e tive apoio. Mas tentaram me expulsar do PT cinco vezes. Facções usaram aquela crise para fazer um acerto de contas com a maioria", avaliou.

Questionado se imagina que o ex-presidente Lula poderia ter tido destino diferente caso tivesse lutado junto a ele contra sua prisão, Dirceu se mostrou cético.

"A vida a gente nunca sabe, poderia até ter caído o governo. Mas eu resolvi me retirar e apoiar o governo. Nunca critiquei o governo nunca falei isso até agora [aponta para o livro]. Nós e o Lula tínhamos discordância o tempo todo, mas ele era democrático, ouvia. Só que ele tomava a decisão e eu seguia todas. Não teve ninguém mais leal a Lula que eu, e ele sabe disso. Mas o PT é um partido de correntes, de discussão, de liberdade, e o Lula sempre conviveu bem com isso", finalizou.

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