Haddad desconversa sobre centrão e pede ajuda com quem "vota errado"
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
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Alex Viana/Agência F8/Estadão Conteúdo
Haddad em Canoas (RS) com a vice na sua chapa, Manuela D'Ávila (PCdoB), e Miguel Rossetto, candidato do PT ao governo gaúcho
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira (27) não ter "informação" sobre contatos de seu partido com as legendas do chamado "centrão", que formalmente estão com Geraldo Alckmin (PSDB), para um eventual apoio caso avance para o segundo turno.
"Eu não tenho informação sobre nenhum contato", declarou o petista a jornalistas após discursar em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre.
O PSDB conseguiu montar uma coligação com mais oito partidos em torno da candidatura de Alckmin, o que deu ao tucano o maior tempo na propaganda eleitoral de TV. No entanto, com o tucano estagnado nas pesquisas de intenção de voto a poucos dias da eleição, legendas como DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade já estariam avaliando o que fazer em um segundo turno sem o candidato.
Partidos como PP e PR estariam divididos entre apoiar Haddad e Jair Bolsonaro (PSL), que, segundo as pesquisas, devem estar no segundo turno. Já integrantes de DEM e PTB tenderiam a apoiar o candidato do PSL.
Em seu discurso, Haddad exaltou sua gestão como ministro da Educação de Lula e disse que é necessário "resgatar na memória das pessoas o que foi feito". O candidato petista pediu à militância que busque votos.
"Daqui para o dia 7 de outubro é pouco tempo. Eu acho que o Brasil merece uma hora por dia, uma hora só. Uma hora que você passa a mão no telefone e liga pro companheiro que não está bem do juízo e quer votar errado. Senta com parente, senta com colega de trabalho. Não adianta a gente festejar quem está do nosso lado. Nós temos que convencer quem não está", afirmou.
Segundo a pesquisa Ibope divulgada na quarta (26), Haddad tem 15% das intenções de voto na região Sul, onde Bolsonaro lidera com 36%. No país, Bolsonaro lidera as intenções de voto com 27%, contra 21% de Haddad.
Na parte de propostas, o petista defendeu a revisão da isenção de impostos sobre lucros e dividendos, chamou de "agiotagem" as taxas de juros praticadas por bancos em empréstimos e afirmou mais uma vez que quer revogar o teto de gastos aprovado na gestão de Michel Temer (MDB).
"O governo Temer abriu a porteira de retirar direitos. Isso o Alckmin defende, o Bolsonaro defende, vários candidatos defendem. É uma linha de que o trabalhador tem que pagar a conta", declarou à imprensa no local.
Haddad também propôs a municipalização da Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico), tributo que incide sobre combustíveis. Hoje em dia, a arrecadação da Cide fica com a União e os estados.
Manuela antagoniza com vices
Haddad dividiu o palanque com a vice em sua chapa, Manuela D'Ávila (PCdoB), que fez referências de forma indireta a declarações dadas por outros candidatos à Vice-Presidência.
Primeiro, Manuela disse que não é da "turma do relho", mas do "diálogo", em alusão a uma fala dita pela senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), vice de Alckmin, em março.
Durante a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela região Sul, naquele mês, houve ao menos um caso em que antipetistas usaram um relho (espécie de chicote) para agredir e ameaçar contra apoiadores de Lula.
Dias depois, em evento do PP gaúcho, Ana Amélia declarou que "levantar o relho" servia para mostrar onde estavam os gaúchos estavam. No Senado, ela negou que suas declarações seriam uma incitação à violência.
Manuela D'Ávila voltou a citar indiretamente um adversário na atual eleição quando fez um apelo aos militantes para que convençam conhecidos que não votam no PT a "desarmar os ânimos".
"Olhem no olho daqueles que não vão votar na gente e falem: 'Cara, eu te conheço. Tu foi criado pela tua mãe sozinha. Tu acha certo votar em quem te acha um desajustado?'", disse a candidata.
Há dez dias, o candidato a vice na chapa de Bolsonaro, Hamilton Mourão (PRTB), disse que lares pobres "onde não há pai e avô, mas, sim, mãe e avó" seriam "fábrica de desajustados" para o tráfico de drogas.
Piada com "aceno" ao mercado
À noite, em ato público em Porto Alegre, Mourão voltou a ser alvo, desta vez de Haddad. O petista falou das críticas do companheiro de chapa de Bolsonaro ao pagamento de 13º salário e adicional de férias.
"Vai perguntar para ele se ele abre mão do dele [Mourão] primeiro, se ele dá o exemplo, para depois sugerir isso para o trabalhador que ganha salário mínimo", disse Haddad. "Esses caras estão com a cabeça no século 19. Nós abolimos a escravidão e eles não acordaram para isso ainda."
Haddad também disse que, com a melhora de seu desempenho nas pesquisas, estava sendo cobrado para fazer um "aceno ao mercado", e fez piada com o assunto. Afirmou que por isso resolveu ir ao Mercado Público de Porto Alegre, "passar nos corredores, cumprimentar os trabalhadores".
"O mercado virou uma entidade abstrata que aterroriza o povo, que aterroriza as pessoas, que aterroriza os trabalhadores", afirmou o petista.
Na sexta (28), Haddad fará campanha em Goiânia e Belém. No dia seguinte, deve seguir para Manaus.
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