Estreantes, filhos de Campos, Richa, Crivella e Cunha recebem mais recursos

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/Facebook/João Henrique Campos

    João Campos (PSB), filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, discursa ao lado de Paulo Câmara em em evento em Ibimirim (PE), em fevereiro

    João Campos (PSB), filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, discursa ao lado de Paulo Câmara em em evento em Ibimirim (PE), em fevereiro

Filho de Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, ambos ex-governadores de Pernambuco, o jovem engenheiro João Campos (PSB-PE), 24, quer entrar de vez para a política nas eleições deste ano. Ele concorre pela primeira vez a um cargo eletivo e é um dos 16 candidatos do partido em Pernambuco à Câmara dos Deputados.

Assim como ele, o PSB tem outros três candidatos a deputado federal estreantes no estado. O que os difere, no entanto, é o valor que o partido tem destinado às campanhas.

Juntos, os diretórios nacional e estadual colocaram à disposição do filho de Campos R$ 1,27 milhão dos fundos partidário e especial de campanha. As outras três candidatas estreantes do PSB no estado --Mãe Lucia, Maria Oliveira e Prof. Risolene Ferraz-- receberam entre R$ 100 mil e R$ 300 mil do diretório nacional para suas campanhas. O PSB pernambucano não doou nada para elas.

O valor dado a João Campos é semelhante ao destinado pelo partido aos deputados federais que buscam a reeleição. Danilo Cabral, Felipe Carreras, Gonzaga Patriota e Tadeu Alencar receberam cada um R$ 1,3 milhões do fundo especial de campanha.

O PSB diz que investe na candidatura de João Campos por "entender o potencial" dela, seguindo o mesmo direcionamento dos demais estados, contudo sem "deixar de impulsionar os demais candidatos que disputam vagas proporcionais".

Em nota ao UOL, a legenda diz ainda que a soma da doação feita a Campos "se equipara a de outros candidatos que apresentam o mesmo potencial".

O filho de Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo quando disputava a Presidência em 2014, não é o único com sobrenome político de peso a estrear nas urnas este ano e receber do partido uma doação maior do que as de outros candidatos novos.

Assim como ele, Marcelo Crivella Filho (PRB-RJ), filho do prefeito da capital fluminense, Danielle Dytz Cunha (MDB-RJ), filha mais velha de ex-deputado cassado Eduardo Cunha (MDB-RJ), Marcello Richa (PSDB-PR), filho do ex-governador do Paraná e candidato ao Senado Beto Richa (PSDB), também participam pela primeira vez do pleito e receberam dos partidos uma boa fatia dos recursos públicos para fazer campanha.

O filho do ex-presidente Fernando Collor de Mello, Fernando James (PTC-AL), também está no páreo em Alagoas para ocupar uma vaga na Câmara. Apesar de não ser exatamente um estreante, por ter sido candidato a vereador e a prefeito no município de Rio Largo, a 28 quilômetros de Maceió, em 2004 e 2008 respectivamente, ele nunca conseguiu ocupar um cargo eletivo. 

Crivella Filho recebeu quase R$ 600 mil do PRB

Reprodução/Facebook/Marcelo Crivella Filho
Marcelo Crivella Filho (à dir.) e o pai, Marcelo Crivella, prefeito do Rio

O PRB está investindo recursos do fundo especial e do partidário na candidatura do empresário Marcelo Crivella Filho, 33, filho do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. São, ao todo, R$ 594 mil de recursos públicos, sendo 87% do diretório nacional e o restante do estadual.

Das 24 candidaturas a Câmara dos Deputados, o PRB do Rio destinou recursos a 16, incluindo a de Crivella Filho. No geral, os valores variam entre R$ 982 e R$ 4,1 mil. O filho do prefeito do Rio e o candidato Geraldo Índio estão fora dessa margem. Índio recebeu quase R$ 1 milhão do fundo partidário do diretório estadual.

Considerando os recursos do diretório nacional, Crivella Filho recebeu 76% de todo o valor que o PRB destinou aos candidatos a deputado federal estreantes no Rio de Janeiro. Foram para ele R$ 515 mil do total de R$ 679 mil. 

O UOL entrou em contato com o PRB do Rio para saber que critérios são adotados pelo partido para a distribuição dos recursos públicos. Foi informado por nota que a "administração do fundo eleitoral, conforme as regras, é prerrogativa da executiva nacional do PRB". A reportagem tentou contato por telefone e por mensagens com a coordenação de comunicação do diretório nacional e não recebeu nenhum posicionamento.

MDB deu R$ 2 milhões a Danielle Dytz, filha de Cunha

Pedro Ladeira/Folhapress
Danielle Dytz Cunha é candidata a deputada federal e filha de Eduardo Cunha

A publicitária Danielle  Dytz Cunha (MDB-RJ), 31, filha mais velha de ex-deputado cassado Eduardo Cunha, que está preso desde 2016, disputa a eleição pela primeira vez. Ela recebeu R$ 2 milhões do MDB do Rio para fazer campanha e tem mais dinheiro vindo da sigla do que nomes conhecidos do partido, como dos deputados federais Leonardo Picciani e Marco Antônio Cabral.

Os dois também têm sobrenomes conhecidos da política fluminense, são filhos respectivamente de Jorge Picciani, presidente afastado da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), e do ex-governador Sérgio Cabral, preso também desde 2016. Eles receberam, cada um, R$ 1,5 milhão do diretório nacional do partido, via fundo especial, para tentar a reeleição. O deputado federal Wilson Beserra também recebeu a mesma quantia.

Dos 22 candidatos a deputado federal do partido no Rio de Janeiro, seis são estreantes na política – incluindo Danielle. O MDB-RJ destinou recursos para todos eles, variando de R$ 15 mil a R$ 500 mil.

Da cadeia, Cunha divulgou uma carta em que pede votos à filha.

Sobre os valores dados a Dytz, o MDB fluminense diz que os critérios para distribuição foram estabelecidos em resolução da Comissão Executiva Nacional encaminhada ao TSE, "como prevê a legislação eleitoral". "Sobre o valor e a forma de distribuição para candidatos específicos, o partido reserva-se o direito de não comentar sua estratégia eleitoral", diz em nota.

Marcello Richa recebeu R$ 40 mil via PSDB

Reprodução/Facebook
Marcello Richa (à dir.) é filho do ex-governador do Paraná Beto Richa

O administrador Marcello Richa (PSDB-PR), 32, quer ocupar uma das cadeiras da Alep (Assembleia Legislativa do Paraná). Recebeu R$ 40 mil do diretório estadual do partido para fazer sua campanha. 

Em nota, o PSDB-PR informou ao UOL que o valor veio de uma doação feita por Juliano Josué Fosqueira, que pediu ao PSDB que sua contribuição fosse compartilhada entre o Marcello e o pai dele, Beto Richa, candidato do partido ao Senado. Richa pai chegou a ser preso por suspeita de corrupção.

Além Marcello, o partido está lançando pela primeira vez cinco nomes para deputado estadual no Paraná. Deles, só destinou recursos a ele e a Ellys Dayene, que recebeu R$ 10 mil do fundo partidário.

Em nota, o partido informou que "as mulheres foram beneficiadas com recursos do fundo partidário", de acordo com o que prevê a legislação. Só uma candidata recebeu recursos do diretório nacional do PSDB: Jandira. Foram R$ 150 mil ao todo, além de R$ 5.000 doados pelo PSB nacional.

PTC deu R$ 300 mil para filho de Collor

Reprodução/Facebook
Fernando James (à dir.) é filho do ex-presidente Fernando Collor de Mello

Fernando James (PTC-AL), filho do ex-presidente Fernando Collor de Mello, não é um estreante na política. Ele foi candidato a vereador e a prefeito no município de Rio Largo, a 28 quilômetros de Maceió, em 2004 e 2008 respectivamente, mas nunca ocupou um cargo eletivo. Tenta pela primeira vez a Câmara dos Deputados. O partido tem apenas dois candidatos a deputado federal por Alagoas: James e Sargento Wagner Simas.

O diretório nacional destinou R$ 300 mil do seu fundo para James e nada para Simas. Todos os R$ 8.000 de receita que o sargento tem saíram do bolso do pai de James.

O UOL entrou em contato com o PTC em Alagoas para saber os critérios adotados para destruição dos recursos e foi informado que o assunto é tratado pelo diretório nacional.

A reportagem entrou em contato com o PTC Nacional na terça-feira (25). Foi pedido que se enviasse um e-mail com a solicitação. A reportagem voltou a entrar em contato na quinta-feira (27) e na sexta-feira (28), mas foi informada que ainda não há uma posição da direção sobre o tema.

Legislação carece de critérios para distribuição das verbas

Os partidos políticos têm autonomia para distribuir os recursos dos fundos partidário e eleitoral aos candidatos da legenda. Especialistas ouvidos pelo UOL chamam atenção, no entanto, para a falta de regras para essa distribuição na legislação eleitoral.

Para Eduardo Grin, cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a falta de transparência sobre os critérios adotados pelos partidos para dar mais dinheiro a um candidato em comparação a outro é uma falha "antidemocrática", pois aumenta a probabilidade de que lideranças políticas influentes possam conduzir o direcionamento dos recursos para familiares.

Dá muita margem para que a gente fique especulando que os acordos políticos feitos para apoiar A e para não apoiar B tem eventualmente outros interesses que não podem vir a público por alguma razão"

Eduardo Grin, cientista político da FGV

Grin cita o caso de Danielle Dytz Cunha como exemplo. "O que explica que a filha do Cunha tenha mais verba do que outros?", questiona. E completa: "Cunha é uma bomba-relógio. Quando ele abrir a boca, pode ser a delação do fim do mundo. Talvez uma maneira de minimizar isso seja direcionar uma verba maior para a filha", afirma.

Ele diz ainda que esse tipo especulação não aconteceria se houvesse critérios transparentes na distribuição.

"O partido poderia mostrar que a filha do Eduardo Cunha está recebendo mais dinheiro porque recebeu mais indicação dos filiados, ou porque se fez uma pesquisa de opinião que mostrou que ela tem mais elegibilidade eleitoral que outro concorrente na mesma região", exemplificou.

Assim como Grin, Maria do Socorro Souza Braga, cientista política da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), também diz acreditar que a falta de critérios é ruim para democracia.

"Falta transparência, falta uma legislação partidária que insira critérios e punições se não faz distribuição equânime. Era para ter penalidade", declara.

Ela afirma que a má distribuição e a alta concentração desses recursos públicos em certas candidaturas interferem diretamente na renovação política. "As elites são verdadeiros donos dos partidos e estão fazendo distribuição o que atende aos interesses desses grupos. Quem quiser se lançar vai ter maior dificuldade de conseguir recursos", diz.

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos