Distância de Lula pode ser solução para Haddad, diz cientista político

  • Ricardo Stuckert/Divulgação

    Candidato do PT deve mirar votos de Sul e Sudeste, segundo análise

    Candidato do PT deve mirar votos de Sul e Sudeste, segundo análise

Diante de um segundo turno em que precisará "virar o jogo" contra o rival Jair Bolsonaro (PSL), o candidato petista Fernando Haddad vai precisar adotar um movimento ousado para tentar atrair o eleitor que não simpatiza com seu partido, mas que se assusta com as declarações do ex-capitão do Exército, avalia o cientista político Anthony Pereira, diretor do Brazil Institute da Universidade King's College, em Londres.

Buscar uma imagem de distância do partido e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser a solução para tentar reverter a desvantagem com a qual começa a disputa pela Presidência nesta segunda etapa, na avaliação de Pereira, que concedeu entrevista ao vivo à BBC News Brasil nesta segunda-feira.

Leia também:

"O desafio de Fernando Haddad é tentar distanciar ele mesmo do Lula e do partido e fazer uma aliança bem abrangente e bem diferente da campanha tradicional do PT, buscando votos no Sudeste e no Centro-Oeste", afirma o professor que nasceu no Reino Unido e pesquisa o Brasil desde 1984.

A íntegra da entrevista pode ser vista na página da BBC News Brasil no Facebook ou no canal no YouTube.

Nesta segunda-feira, Haddad visitou Lula na prisão para discutir estratégia - e não dá sinais de que vá se afastar de seu principal mentor.

Para Pereira, Bolsonaro chega ao segundo turno com muitas vantagens - tem mais chances de compor com o Congresso, canaliza a indignação de muitos eleitores com a classe política e não choca uma grande parcela do eleitorado, mesmo com suas posições controversas e frases polêmicas, acredita o pesquisador.

O britânico descreve o candidato do PSL como uma mistura de Donald Trump, Rodrigo Duterte (presidente das Filipinas) e Alberto Fujimori (ex-presidente do Peru que fechou o Congresso e o Judiciário nos anos 1990), com uma pitada de Brasil. "Se você mistura essas três figuras e adiciona a especificidade brasileira, vai ter a essência do Bolsonaro", afirma.

Na avaliação do professor, Haddad terá alguma chance de reagir ao fenômeno Bolsonaro se adotar um discurso mais moderado e, principalmente, se anunciar de imediato que não pretende dar um indulto a Lula, preso desde maio na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro.

"As pessoas chamam Haddad de 'o mais tucano dos petistas'. Ele pode jogar essa carta, essa identidade social que tem para chamar o eleitor que está no centro entre essas duas opções indesejáveis. Muito eleitor não quer nem um, nem outro", afirma Pereira.

Maiores perdedores

Para o professor, o PSDB sai dessas eleições bem mais fraco. "Há um ano, você poderia dizer que o herdeiro natural do antipetismo era o PSDB como partido do candidato de oposição que quase ganhou as eleições em 2014. Mas isso não aconteceu", diz Pereira, lembrando que, apesar de ainda poder levar o governo de São Paulo e estar disputando o segundo turno em diferentes Estados, o partido viu a bancada na Câmara dos Deputados encolher e o candidato Geraldo Alckmin ter o pior desempenho da legenda numa eleição presidencial - o tucano terminou com 4,8% votos válidos. O partido também saiu rachado da eleição.

Pereira pondera que o PT também encolheu, apesar de ter conseguido eleger três governadores no primeiro turno no Nordeste e ter eleito uma bancada de mais de 50 deputados federais.

Fascismo x comunismo

Na entrevista à BBC, o professor da King's College London disse que as palavras "fascista" e "comunista" não se aplicam aos apoiadores de Bolsonaro e do PT, respectivamente.

"Eu sei que são palavras comuns, mas como acadêmico não posso usar essas palavras para a situação do Brasil", diz ele.

"Comunismo para mim é sistema que tem uma economia centralizada e controlada exclusivamente pelo Estado. A economia do governo Lula e Dilma era mista com o setor privado forte", observa. Sobre o fascismo ele diz: "Para mim, fascismo representa grupos como os da Itália nos anos 1920 e os nazistas na Alemanha, projetando o poder nas ruas e usando violência nas ruas. Os bolsonaristas têm conexões nas redes sociais, mas não vejo esse movimento nas ruas. Não estou dizendo que não podem desenvolver essa capacidade, mas não vejo isso", completa.

"Nos dois, casos não usaria essas palavras", finaliza.

Em Londres, manifestantes protestam a favor e contra Bolsonaro

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

UOL Cursos Online

Todos os cursos