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Serra promete cumprir mandato em SP e diz que sonho da presidência está "adormecido"

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

29/02/2012 20h18

Em sua primeira entrevista coletiva como pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, nesta quarta-feira (29), o ex-governador José Serra afirmou que não abandonará o mandato caso o seja eleito, diferentemente do que fez quando governou a cidade entre 2005 e 2006.

O tucano disse que o sonho de ser presidente está “adormecido” até 2016, negou que haja um racha interno no PSDB e afirmou que a polarização entre tucanos e petistas não deve centralizar o debate político durante o pleito paulistano.

“Pelo menos até 2016 [o sonho] está adormecido, porque, evidentemente, a decisão de ser candidato implica em não ser candidato em 2014.”


Na coletiva de hoje, o ex-governador mostrou-se descontraído e fez diversas brincadeiras com jornalistas e com o presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias, o único quadro da sigla que acompanhou Serra na coletiva --os outros pré-candidatos, o secretário estadual de Energia, José Aníbal, e o deputado federal Ricardo Trípoli, assim como Bruno Covas e Andrea Matarazzo, que abandonaram suas candidaturas em prol de Serra, não compareceram ao evento.

“Vou cumprir os quatro anos”

Eleito prefeito em 2004, Serra prometeu que não abandonaria o posto para disputar as eleições de 2006. O tucano descumpriu a promessa --registrada em documento assinado durante sabatina do jornal Folha de S.Paulo-- e foi eleito governador, deixando a prefeitura para o vice Gilberto Kassab. “Estou sendo candidato para governar a cidade até quando o mandato durar, que é 2016. Vou cumprir os quatro anos”, afirmou.

Questionado se o fato de não ter cumprido a promessa na primeira gestão o faria perder votos, Serra citou seu desempenho nas últimas eleições.“Ganhei em São Paulo em 2004, ganhei em 2006 na capital e no interior ganhei em 2010 ---perdemos no pais, mas ganhamos no Estado e na capital”.

Sobre a disputa de 2018, Serra disse que “está muito longe”. “Vai saber o que vai acontecer até lá”, afirmou.

Derrotado por duas vezes em eleições presidenciais (2002 e 2010), Serra procurou destacar, na carta em que oficializou sua pré-candidatura, o caráter “nacional” da capital paulista. "São Paulo é a maior cidade do país. E é aqui, neste ano, que se travará uma disputa importante para o futuro do município, do Estado e do país", diz um trecho da carta.

Durante a entrevista, Serra negou a informação divulgada nesta quarta (29), pelo blog do Josias de Souza, de que Kassab teria dito que Serra, caso venha a ser eleito, romperia com o PSDB e abandonaria os quadros da legenda.

PT x PSDB

Na carta que entregou à direção municipal do PSDB, Serra justifica a sua escolha dizendo que, no plano nacional, há dois projetos distintos no país. O ex-governador, entretanto, afirmou que a polarização entre PT e PSDB não deve centralizar o debate político ao longo das eleições.

“Evidentemente há estilos muito diferentes de se governar.  Minha idéia não é considerar que a polarização seja um elemento chave. A população de São Paulo não quer debater a polarização, quer debater seus problemas. E estou muito preparado para isso, porque os conheço muito bem”, disse.

O tucano admitiu, entretanto, que o pleito paulistano gera influência no debate político nacional como um todo. “É uma eleição nacional no sentido que SP é uma cidade nacional. Então tem um peso político grande, mas a motivação dela tem a ver com as necessidades da nossa população. Estou sendo candidato por necessidade e por gosto. Se fosse só por necesssidade, seria ruim. Se fosse só por gosto, sem necessidade, seria algo muito narcisista, e, entre meus defeitos psicanalíticos, não está o narcisismo”, disse.

Kassab e PT

O pré-candidato reafirmou que pedidos de vários políticos, entre eles Kassab e do governador Geraldo Alckmin, influenciaram em sua decisão de querer disputar a Prefeitura de São Paulo. Serra admitiu que a aproximação do prefeito de São Paulo com o PT teve peso na sua escolha, mas disse que não foi o fator preponderante. “Foram diversas circunstâncias. [A aproximação do Kassab com o PT] foi só uma delas.”

O tucano avaliou positivamente o governo Kassab, que tem altos índices de rejeição junto à população, e considerou que o apoio do peessedista o ajudará, caso seja o candidato do PSDB. “[O apoio do Kassab] É positivo. Ele assumiu em 2006, ganhou a eleição depois e desenvolveu muitos projetos que eu tinha começado.”

Após Serra anunciar a pré-candidatura, Fernando Haddad, candidato petista à prefeitura, afirmou sentir-se aliviado, por não ter que discutir o apoio de Kassab –que incomoda parte da militância petista e da cúpula do partido. “Se eu não estivesse na briga e ele tivesse o apoio do Kassab, como faria?”, questionou. “Tenho uma relação cordial com o Fernando Haddad. Se ele ficou mais feliz, sorte dele.”

O tucano prevê páreo duro nas eleições paulistanas. “Essa disputa em São Paulo vai ser muito difícil. Estou convencido que nós ganharemos, mas estou convencido também que vai ser uma campanha muito difícil. Não vai ser sopa, não.”

Racha no PSDB

Após a entrada de Serra na briga pela candidatura, o PSDB decidiu ontem (28) adiar para 25 de março as prévias da sigla, anteriormente marcadas para o próximo domingo (4). A decisão revoltou alguns integrantes da executiva municipal do partido, como o vice-presidente tucano na capital, João Câmara, que afirmam que Serra chegou para rachar o partido e impor suas vontades.

Pelo Twitter, José Aníbal, não poupou críticas à direção do partido e a Serra: "Até aqui o processo de prévias teve deliberações convergentes e transparentes. Com a entrada do novo candidato [Serra],começou a mudar. Lástima.”

Na entrevista de hoje, Serra classificou a insatisfação do partido como “uma disputa normal” e disse não acreditar que a base tucana resistirá a sua candidatura, caso seja o escolhido da sigla. “Vamos ter um partido bem unido”.

Serra negou que tenha pedido para a direção municipal adiar as prévias para que tivesse tempo de conquistar a militância. “Não pedi nem que fosse dia 25, nem dia 4, nem dia 11. Entrei sem condições [de fazer exigências].”