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O PT "bateu cabeça" em São Paulo, diz Kassab

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que declarou apoio ao pré-candidato tucano José Serra - Leticia Moreira/ Folhapress
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que declarou apoio ao pré-candidato tucano José Serra Imagem: Leticia Moreira/ Folhapress

Fernando Rodrigues

Em Brasília

29/02/2012 15h33

Para prefeito, titubeio de Fernando Haddad abriu caminho para Serra

O prefeito Gilberto Kassab (PSD) tem feito longas análises sobre o cenário atual. A um interlocutor, fez uma síntese do que se passou até agora na disputa pela sua sucessão, sobretudo a respeito do namoro de várias semanas entre ele o PT para uma possível aliança em torno do petista Fernando Haddad:

“O prefeito de São Paulo vai até você e oferece apoio. Junto iriam a máquina da Prefeitura e 20 vereadores. Aí você vai até o Lula e ele diz para você fechar o acordo. Aí você vai até a presidente Dilma e ela diz para você fechar esse acordo. Mas você fica sonhando na esperança de unificar o PT inteiro. E o PT bateu cabeça. Enquanto isso, o outro lado teve tempo de se reorganizar. Eu acho que esse episódio foi a primeira grande derrota do Haddad para ele próprio. É óbvio que se o acordo tivesse sido fechado e formalizado com o PT eu não teria mais como apoiar o Serra. Aliás, se eu tivesse fechado o acordo com o PT, o Serra não sairia candidato. Mas não houve o acordo por causa da atitude titubeante do Fernando Haddad e de alguns gatos pingados do PT”.

Aos 51 anos de idade e visto em Brasília como um dos mais habilidosos operadores políticos do país, o prefeito de São Paulo nunca fala com ressentimentos ao analisar cenários políticos. Ele de fato queria ter fechado um acordo com o PT. Mas os petistas foram lentos na operação.

Kassab afirma a seus aliados que manteve um relacionamento franco e aberto, de alto nível, tanto com o ex-presidente Lula como com a presidente Dilma Rousseff e com o restante da cúpula do PT. E ressalta que seu partido, o PSD, ficará com petistas em muitas disputas municipais neste ano. Por fim, que se o acordo na cidade de São Paulo não saiu, a culpa não foi dele.

Para Kassab, agora haverá necessariamente uma polarização entre Serra e Haddad, PSDB e PT. E nada mais: “Todos os outros vão virar pó. Não tem jeito. Só se fala nessas duas candidaturas agora”.

Mas e o candidato a prefeito de São Paulo pelo PMDB, Gabriel Chalita, que tem muito tempo de TV por conta do tamanho de seu partido? E Kassab: “Vai ser só Serra e Haddad. O Serra, pela sua dimensão política, pelo que representa para a cidade. E o Haddad porque terá o apoio do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. Não sobrará espaço para os demais”.

A partir de agora, os candidatos começam a caça por aliados com o objetivo de aumentar o tempo de TV e rádio durante o horário eleitoral. A tendência é o PT arrebanhar mais apoios e ter o maior espaço para fazer propaganda.

“Mas isso é irrelevante no caso do Serra e do Haddad. Nesse jogo de alianças, há muitas análises equivocadas. A disputa ficou e ficará polarizada. E no segundo turno os tempos são iguais para os dois candidatos”, pondera Kassab.

O futuro de Kassab

Afinal, o que pensa e o que deseja Kassab para seu futuro político?

O prefeito de São Paulo vislumbra 3 caminhos para si: ser governador paulista, vice-governador ou senador

Kassab, tem um plano bem delineado sobre quais são suas opções e a viabilidade de cada uma delas.

Engenheiro de formação e sistemático por vocação, ele começa o fluxograma com duas possibilidades: vitória ou derrota de José Serra (PSDB) na disputa para prefeito de São Paulo.

Na hipótese de derrota –na qual ele não acredita– ficará pavimentado o caminho para um eventual rompimento entre Serra e o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Claro, porque Serra atribuirá o fracasso em parte à falta de apoio do partido. E Alckmin terá uma responsabilidade razoável no pagamento dessa fatura.

Em caso de derrota de Serra neste ano, Kassab passaria a ser candidato declarado a governador de São Paulo em 2014.

E Serra? Aí tudo dependeria da correlação de forças partidárias em 2014, da popularidade do governo Dilma, do estado da economia e da disposição de um grupo de oposição querer um candidato presidencial de fora do PSDB. Serra, é claro, seria um postulante ao Planalto –mas esse cenário tem tantas variáveis que projetá-lo hoje com precisão é impossível.

Já num cenário de vitória de Serra na disputa para prefeito de São Paulo o horizonte fica mais claro para Kassab. Ele fará o que melhor se adequar aos planos de seu principal benemérito e mentor na política. Os dois caminhos mais exequíveis são encaixar-se (bancado por Serra) como vice-governador de Geraldo Alckmin quando o tucano disputar a reeleição, em 2014, ou sair como candidato ao Senado.

Esse exercício de futurologia em política, como se sabe, é muito arriscado. Kassab tem ciência dessa dificuldade, mas os planos são esses mesmos.

O prefeito de São Paulo tem a vantagem de ter transitado em todo o espectro político e coletado pouquíssimos inimigos irreconciliáveis –exceto parte da cúpula do DEM, sigla que mais sofreu com a criação do PSD.

Quando esteve com o PT e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Kassab sempre disse de maneira clara que teria de apoiar José Serra se o tucano se lançasse candidato a prefeito. Usou uma máxima de ouro na política: “Pactos claros, amizades longas”.

Lula e os petistas podem estar chateados que Kassab de fato cumpriu o que disse, assumindo de vez a sua encarnação serrista. Mas nenhum petista poderá acusar o prefeito de não ter avisado antes como procederia.