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Em reunião tensa, PSDB adia prévias para 25 de março em prol de Serra

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

28/02/2012 22h33

Após mais de três horas de reunião na noite desta terça-feira (28), a executiva municipal do PSDB decidiu, por 14 votos a quatro, adiar as prévias para escolher o próximo candidato à Prefeitura de São Paulo, anteriormente marcada para o domingo (4). Agora, a consulta interna foi remarcada para 25 de março.

A mudança ocorreu depois que o ex-governador de São Paulo José Serra oficializou sua intenção de participar da disputa interna –a pré-candidatura do ex-governador foi aceita pela executiva por unanimidade. A reunião foi tensa porque os outros dois pré-candidatos, José Aníbal e Ricardo Trípoli, eram contrários ao adiamento.

Na tentativa de se chegar a um consenso, os integrantes da executiva que inicialmente eram contrários à alteração da data propuseram que a consulta fosse realizada no dia 11. Mas, por dez votos a oito, ganhou a proposta do dia 25, defendida por Julio Semeghini, presidente municipal do partido, e apoiada pelo governador Geraldo Alckmin.

Aníbal, apesar de não integrar a executiva municipal, participou do encontro, mas deixou a reunião no meio, alegando ter compromissos particulares. Depois, via Twitter, criticou o resultado da reunião. "Até aqui o processo de prévias teve deliberações convergentes e transparentes. Com a entrada do novo candidato [Serra], começou a mudar. Lástima.”

Já Trípoli, que é membro da executiva e participou do encontro, disse que a reunião mudou os rumos após alguns participantes atenderem telefonemas. “Foi uma reunião democrática. Estava caminhando para um acordo para o dia 11, mas alguns celulares tocaram, e resolveram adiar para o dia 25. Mas estou na disputa. O PSDB parte para um novo embate”, afirmou o deputado federal.

Semeghini defendeu o adiamento das prévias para o dia 25 para dar tempo de Serra conquistar apoio da militância. “Claro que há um clima tenso na reta final e que mudar uma data não é fácil, mas achamos que o mais importante são as prévias e nós precisamos esclarecer todos os filiados para que votem com clareza.”

O argumento dos favoráveis ao adiamento é que Serra precisa de tempo para se aproximar da militância tucana antes das prévias. Todos os filiados ativos do PSDB na capital estão aptos a votar nas prévias.

Nessa quarta (29), Serra concederá entrevista coletiva à imprensa, a primeira desde que anunciou pelo Twitter, na segunda-feira (28), sua pré-candidatura. Em três dias, é o segundo compromisso na agenda de Serra,

Serra na disputa

Antes da reunião, Serra entregou a Semeghini uma carta manifestando seu desejo de disputar as prévias. “Eu vim aqui para entregar à executiva municipal a carta pedindo minha inscrição nas prévias desse ano”, disse Serra durante o anúncio.

O evento foi marcado pelo atraso do ex-governador, pela ausência dos também pré-candidatos Aníbal e Trípoli e por muito tumulto.

A cerimônia foi realizada no diretório municipal do PSDB – um escritório pequeno no edifício Joelma, no centro da capital paulista –, e estava marcada para começar às 16h. Serra chegou ao local por volta das 17h30. “Estava muito trânsito. Pra vocês terem ideia, demorei, de casa até aqui, 1h05”, justificou Serra, que mora no Alto de Pinheiros, zona oeste da capital.

Derrotado por duas vezes em eleições para Presidente, Serra procurou valorizar a capital paulista para justificar sua intenção de ser prefeito. “São Paulo é a minha cidade, a cidade mais brasileira do país. E também a mais internacional. Se a direção do partido acolher esse pedido, quero que saibam que eu saberei disputar essa eleição interna e a municipal”.

Durante o anúncio, o ex-governador leu a carta que encaminhou à executiva municipal da legenda. Depois, reuniu-se a portas fechadas com os dirigentes do partido, mas não quis falar com a imprensa. Uma entrevista coletiva deve ser concedida nesta quarta-feira (29).

 

Estratégia

Quatro tucanos estavam inscritos para as prévias, mas dois desistiram depois que Serra manifestou sua intenção em disputar a indicação do partido: o secretário estadual de Cultura, Andrea Matarrazzo, e o secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas.

A entrada de Serra, que no início do ano afirmou que não seria candidato em 2012, muda completamente o cenário político que se desenhava para as disputas municipais de outubro e também para a corrida presidencial de 2014.

A aliança na maior cidade do país entre PT e o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, articulada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não deve mais ocorrer. Kassab, que foi vice de Serra quando tucano comandou a prefeitura paulistana entre 2005 e 2006, já declarou apoio ao tucano.

Desta forma, o PT --que terá como candidato o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad-- terá que rever seu leque de alianças. Um dos alvos deve ser o PMDB, que pretende lançar o deputado federal Gabriel Chalita. Haddad tem apenas 5% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha.

A possível candidatura de Serra em São Paulo também fortalece as articulações do governador do Estado, Geraldo Alckmin, e do senador Aécio Neves (MG) para 2014. Alckmin deve tentar a reeleição. Aécio, o Planalto.

Desde a derrota para Dilma Rousseff em 2010, Serra nunca escondeu o desejo de tentar concorrer mais uma vez à Presidência da República em 2014 --ele também foi candidato em 2002, quando perdeu para Lula.