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Supremo abre inquérito e quebra sigilo bancário do senador Demóstenes Torres

STF deu andamento ao inquérito para investigar elos entre Demóstenes Torres (foto) e Carlinhos Cachoeira - Lula Marques/Folha imagem
STF deu andamento ao inquérito para investigar elos entre Demóstenes Torres (foto) e Carlinhos Cachoeira Imagem: Lula Marques/Folha imagem

Do UOL, em Brasília

29/03/2012 19h25Atualizada em 29/03/2012 20h37

O STF (Supremo Tribunal Federal) abriu nesta quinta-feira (29) um inquérito para investigar elos entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o empresário do jogo do bicho conhecido como Carlinhos Cachoeira. O processo foi enviado pela Procuradoria-Geral da República na terça-feira (28) e deixa o parlamentar como suspeito de integrar uma quadrilha que opera jogo ilegal em Goiás. A pedido do ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso, a corte também pediu a quebra do sigilo bancário do parlamentar e uma relação de emendas ao orçamento apresentadas por ele no Senado.

O pedido foi feito pelo relator do caso no Supremo, o ministro Ricardo Lewandowski. Os processos que envolvem parlamentares são remetidos à mais alta corte do país porque eles têm foro privilegiado. Demóstenes renunciou à liderança do DEM no Senado e sua expulsão do partido já foi cogitada por seus colegas. A suspeita é de que o senador transmitia informações a Cachoeira em troca de presentes. Ele nega as acusações.

Além de Demóstenes, há outros possíveis envolvidos no esquema criminoso: os deputados por Goiás Rubens Otoni (PT), Carlos Alberto Leréia (PSDB) e Sandes Júnior (PP). Na terça-feira, em um acontecimento raro, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recebeu parlamentares da Frente Mista de Combate à Corrupção e sinalizou "indícios robustos" para uma investigação, segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

A pressão no DEM só aumenta para que Demóstenes deixe o partido. A situação dele se agravou depois de o Jornal Nacional, da TV Globo, relatou gravações da Polícia Federal em que Cachoeira --preso em Goiás no início do mês durante a Operação Monte Carlo-- cita o senador seis vezes. Segundo a reportagem, as gravações foram feitas pela PF há um ano. Nas conversas, que duram cerca de cinco minutos, os três falam sobre dinheiro e contas do esquema ilegal de exploração de jogos de azar.

“A abertura de inquérito é normal do rito que esperávamos, mas a situação dele certamente não fica melhor”, disse o presidente do Democratas, senador José Agripino Maia (RN).

Procurado, Demóstenes não foi encontrado para comentar sobre a decisão do ministro do Supremo –a quem certa vez comparou a um “advogado de sindicato”.

DEM

O destino político do senador começará a ser definido na próxima semana. Na terça-feira (3), a Executiva Nacional do Democratas (DEM), partido de Demóstenes, marcou uma reunião para decidir se será aberto um processo de investigação interna que pode levar à expulsão dele da legenda.

A assessoria de Demóstenes informou à Agência Brasil que ele já recebeu da Procuradoria-Geral da República os autos contendo dados das investigações que o envolvem. Se o DEM decidir abrir um processo contra o senador, será designado um relator para o caso e definido prazo de menos de um mês para a defesa.

Há informações, veiculadas em vários veículos da imprensa, de que Demóstenes mantinha ligações com Carlinhos Cachoeira, preso por envolvimento com máquinas de caça-níqueis em Goiás. A suspeita é que o senador transmitia informações para o empresário, mantinha negócios com ele e recebia presentes. O parlamentar confirmou que ganhou de casamento um fogão e uma geladeira importados, no valor de R$ 30 mil, de Cachoeira.

Esta semana, Demóstenes se licenciou da função de líder da bancada no Senado justificando que necessita de mais tempo para elaborar sua defesa. O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), passou a acumular o comando do partido e a liderança na Casa. No dia 27, Agripino disse que o partido pode se sacrificar, em referência a Demóstenes.

Em 2009, o comando-geral do DEM viveu situação semelhante devido às denúncias envolvendo seu único governador na época, José Roberto Arruda, do Distrito Federal. Arruda foi acusado de coordenar um esquema de corrupção no Distrito Federal e em decorrência dessas denúncias ameaçado de ser expulso do Democratas. Para evitar a expulsão, Arruda deixou o partido.