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Leia a transcrição da entrevista de Marcos Pereira à Folha e ao UOL

Do UOL, em Brasília

26/09/2012 07h00

Marcos Pereira, presidente nacional do PRB e coordenador da campanha de Celso Russomanno a prefeito de São Paulo, participou do "Poder e Política", projeto do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 25.set.2012 no estúdio do UOL em São Paulo.

 

 

Marcos Pereira – 25/9/2012

Narração de abertura: Marcos Antônio Pereira tem 40 anos. É presidente nacional do PRB, o Partido Republicano Brasileiro, desde maio de 2011. Advogado, Marcos Pereira se formou em direito pela UNIP e especializou-se na Universidade Presbiteriana Mackenzie. É também técnico em contabilidade.

Além do PRB, Pereira já foi filiado ao PT do B e ao PSB. Desde 2010 está no PRB, partido ao qual se juntou, em 2005, o então vice-presidente da República, José Alencar.

O PRB foi montado com a simpatia da Igreja Universal do Reino de Deus e da TV Record. Marcos Pereira tem relação estreita com as instituições de Edir Macedo. Tornou-se pastor da Igreja Universal em 1992. Em 1999, tornou-se bispo. No Grupo Record, ocupou várias posições, inclusive a de vice-presidente de relações institucionais.

Agora, em 2012, como bispo licenciado da Igreja Universal, Pereira coordenada a campanha do candidato do seu partido a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno.

Folha/UOL:Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. E a gravação está sendo realizada aqui no estúdio do UOL em São Paulo porque o entrevistado dessa semana é o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira.

Folha/UOL: Eu começo perguntando ao Marcos Pereira sobre a trajetória pessoal e política dele. Marcos, onde você nasceu? Onde você estudou? Qual é a sua trajetória?
Marcos Pereira: Olá Fernando. Olá internautas. Eu queria primeiro agradecer à Folha e ao UOL pela oportunidade de me entrevistar e de me apresentar.

Eu nasci na cidade de Linhares, no interior do Espírito Santo. Sou filho de uma empregada doméstica que ficou grávida do patrão e que me teve lá na cidade de Linhares, no interior do Espírito Santo. E fui criado na cidade de São Mateus, mais ao norte do Espírito Santo, praticamente já fronteira com o sul da Bahia, onde vivi até os meus 20 anos, aproximadamente, 20, 21 anos.

Estudei a vida toda em colégio público, formando-me aos 17 anos no antigo segundo grau, curso técnico profissionalizante em técnico em contabilidade.

Aos 14 anos comecei a trabalhar, meu primeiro emprego, no escritório de contabilidade do meu tio. E aos 17 eu já era sócio de um escritório de contabilidade.?Mas, antes dos 14, eu comecei a trabalhar na rua vendendo picolé, engraxando sapato e por aí vai.

Folha/UOL: O sr. foi uma pessoa religiosa desde cedo??
Marcos Pereira: Desde cedo. A minha formação, a minha família toda é católica apostólica romana e eu sempre frequentei o catecismo, as missas.

Tinha a intenção de ser padre naquela altura mas, por uma circunstância de discordância da família, não foi possível e, aos 17 anos, eu entrei na Igreja Universal do Reino de Deus.

Folha/UOL: E na política? O sr. se filiou muito cedo a um partido político também, é isso??
Marcos Pereira: Sim, a minha primeira filiação foi aos 18 anos...

Folha/UOL: A qual partido?
Marcos Pereira: ... lá na minha cidade de São Mateus, no Espírito Santo. Eu me filiei ao PT do B e eu pretendia, naquela altura, ser candidato a vereador. Acabei não sendo por circunstâncias que não permitiram... Na verdade, nem me recordo mais o porquê. Mas a minha primeira filiação foi aos 18 anos.

Folha/UOL: E depois o sr. teve uma outra filiação, que foi ao PSB. É isso mesmo??
Marcos Pereira: Exatamente. Quando eu me mudei para São Paulo, isso em 1999, alguns anos depois, acho que na altura de 2002, 2003, por aí, eu me filiei ao PSB por qual eu fiquei filiado até pouco antes de ingressar nas fileiras do PRB.

Folha/UOL: Para a Igreja Universal do Reino de Deus, o sr. entrou em que ano e quando o sr. se tornou pastor?
Marcos Pereira: Eu entrei em 1989, em junho de 89, e me tornei pastor em junho de 1992.

Folha/UOL: E depois, mais adiante, se tornou bispo da Igreja Universal.
Marcos Pereira: Isso, em 1999. Outubro de 1999.

Folha/UOL: O sr. hoje comanda o PRB, o Partido Republicano Brasileiro, que é um partido político que foi criado, começou a ser criado em 2003. Teve seu registro definitivo em 2006, recebido pelo Tribunal Superior Eleitoral...?
Marcos Pereira: 2005.

Folha/UOL: ... 2005. E disputou a primeira eleição em 2006.?
Marcos Pereira: Exato.

Folha/UOL: O PRB, na sua origem, teve muita ajuda na coleta de assinaturas, no processo todo, por parte de fiéis, pastores e bispos da Igreja Universal. Como foi esse processo?
Marcos Pereira: Eu não participei desse processo. Infelizmente, eu nessa altura, eu era filiado ao PSB e era executivo de um grupo de comunicação, então eu não participei desse processo de criação. Foi comandado pelo meu antecessor, pelo deputado federal Vitor Paulo. Então, eu não estou habilitado a falar de um processo de que eu não participei. Eu realmente não sei o que aconteceu, como foi feito.

Folha/UOL: Aí o sr. se tornou bispo em 1999. Hoje o sr. é bispo licenciado. Explique o que consiste essa função, bispo licenciado, no seu caso da Igreja Universal.?
Marcos Pereira: Na Igreja Universal, todos os pastores ou bispos que deixam de oficiar as funções religiosas em tempo integral, eles se licenciam.

Folha/UOL: Permanece bispo?
Marcos Pereira: Permanece, mas ele não tem mais aquela responsabilidade de gestão de um templo ou de uma região, seja lá o que for. Entretanto, ele permanece nos quadros mas com atividades extras.

Folha/UOL: Ele pode ser reconvocado para a função diuturna, cotidiana, de bispo para, enfim, cuidar de uma área específica da Igreja?
Marcos Pereira: Ele só pode ser reconvocado se ele for cuidar especificamente de questões religiosas, questões eminentemente espirituais.

Folha/UOL: E, no seu caso, o sr. não tem interesse em voltar para esse tipo de atividade?
Marcos Pereira: Eu não diria que eu tenho ou não tenho interesse. Eu acho muito pouco provável porque, veja você, eu já estou licenciado a 18 anos dos meus 23 [anos na Igreja Universal]. 18 [anos ]licenciados, então... Cada dia que passa, as minhas atividades, sejam profissionais, como advogado, como professor universitário, como empresário e também agora como político, agora no sentido de estar numa direção partidária, no comando de um partido. Eu acho que essas atividades todas fazem distanciar um pouco mais esse provável retorno.

Folha/UOL: O sr. teve um período que saiu da Igreja Universal e passou a ser executivo da Rede Record. Quantos anos o sr. passou como executivo da Rede Record e o que o sr. desempenhou nessa emissora?
Marcos Pereira: Eu fui executivo da Record do ano de 2002 até março de 2010. E eu fui, nos primeiros meses de 2002, início de 2003, diretor de rede e depois vice-presidente, vice-presidente executivo e vice-presidente de relações institucionais, quando eu saí em 2010.

Folha/UOL: Aí, foi exatamente, mais ou menos, nesse período que o sr. saiu da Rede Record, ficou cuidado do seu escritório de consultoria jurídica e contábil, não é isso?
Marcos Pereira: Exatamente.

Folha/UOL: E daí, nesse período, o sr. foi convidado a entrar no PRB e daí, eventualmente, comandar o partido. Foi isso que aconteceu?
Marcos Pereira: É. O Vitor Paulo, que era presidente nacional anterior a mim, do PRB, ele se elegeu deputado federal em 2010. Tomou posse em fevereiro de 2011. Então ele estava acumulando cinco funções importantes: Presidência nacional do partido, presidente estadual do Rio de Janeiro, líder do partido na bancada, presidente da Comissão de Legislação Participativa na Câmara dos Deputados e o mandato de deputado federal. Então ele entendeu que era muita responsabilidade e uma sobrecarga grande. O partido jovem, na iminência de disputar sua quarta eleição, que é essa eleição de outubro de 2012, precisava de uma dinâmica e de alguém que não estivesse tão comprometido com tantas funções como essas que ele desenvolvia para poder fazer um trabalho a nível nacional. E me convidou. Falou assim: “Marcos, você está aí com mais tempo agora, está só no seu escritório, dando aulas. Você não aceitaria disputar a presidência nacional do partido? A gente vai fazer uma eleição”. Eu disse: “Olha, eu gostaria, mas a gente tem que fazer um trabalho para que a gente possa ser conduzido, desde que os eleitores, que são os presidentes estaduais, os membros da executiva nacional, assim concordem”. E aconteceu, no dia 9 de maio de 2011, a minha eleição por aclamação lá em Brasília, numa convenção nacional do partido. Então ele [Vitor Paulo] foi substituído por mim na presidência nacional. Continua se dedicando a presidência do partido no Estado do Rio [de Janeiro] e ao seu mandato de deputado federal.

Folha/UOL: Uma coisa, uma crítica que se faz a partidos políticos brasileiros é uma espécie de desconexão dos partidos com a massa dos eleitores. O sr. foi convidado por alguém que era presidente do partido. O sr. já tinha ligações com pessoas que são do PRB. O sr. não acha que o processo de construção de um partido no Brasil às vezes é bastante artificial no sentido de que há um grupo e não é a população que é convidada a participar para esse partido, em geral?
Marcos Pereira: Olha, no caso nosso, do PRB, a população que é representada... Porque o sistema de democracia que nós temos é por representação. Então, você vê, se critica muito a questão da qualidade dos congressistas, sobretudo do Congresso Nacional. Mas nós não podemos esquecer que aquilo ali é uma representação da sociedade e a sociedade é responsável pelo que ela faz e pelo que ela coloca lá. Então, no nosso caso específico, a Executiva Nacional, a diretoria do partido que é composta pelos 27 presidentes estaduais mais alguns outros membros, são representados por essa população, que é a massa, no caso do partido, dos filiados. Então é uma eleição indireta. Não é uma eleição direta como é nos moldes das eleições municipais e presidenciais etc.

Folha/UOL: Quantos prefeitos e vereadores o PRB pretende eleger neste ano de 2012?
Marcos Pereira: Nós temos... O PRB elegeu, em 2008, 54 prefeitos e 780 vereadores. Na minha posse, no discurso de posse como presidente nacional, eu lancei um desafio. Uma meta e um desafio para os presidentes estaduais. De, neste ano [2012], nós, no mínimo, dobrarmos essa bancada de prefeitos e vereadores. E eu acho que a gente deve chegar a isso aí.

Folha/UOL: Seria quanto então? 110 prefeitos?
Marcos Pereira: Nós temos hoje 305 candidatos a prefeito e mais de 13.500 candidatos a vereadores. Eu acho que a gente deve eleger uns 100 prefeitos, aproximadamente, que, dentro da margem, seria dobrar. E devemos eleger, aí, de 1800 a 2000 vereadores.

Folha/UOL: E quais são os planos do PRB pra 2014 nas eleições para governadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores e presidente da República?
Marcos Pereira:Nós não temos um plano fechado porque, você sabe, a política é muito dinâmica. E nós vamos agora sentar com os presidentes estaduais em, provavelmente, novembro, dezembro. No mais tardar, em janeiro agora, de 2013, para discutir [as eleições de] 2014.

Uma coisa é certa: Nós pretendemos ter um crescimento aí de... Nós elegemos oito deputados federais em 2010. Eu acho que a gente consegue fazer uns 14, 15 deputados. É a nossa meta que está na minha programação. Vamos conversar com o pessoal  para ver se é possível

Folha/UOL: Tem uma pergunta sempre, que é importante, que é sobre o plano federal, no caso de presidente da República. O PRB hoje faz parte da base de apoio da presidente Dilma Rousseff. No seu entender, a tendência natural é que o seu partido continue a apoiar a presidente Dilma e, eventualmente, a reeleição da presidente Dilma em 2014?
Marcos Pereira: Hoje, no cenário atual, a tendência é essa, mas...

Folha/UOL: O que poderia atrapalhar??
Marcos Pereira: Eu acho que a gente tem que avaliar o momento. Não dá para dizer agora o que poderia atrapalhar porque eu não sei o que vai acontecer. Mas essas questões serão fechadas e consensadas [sic] sobretudo em junho de 2014, que é o prazo que a legislação permite para você fechar as coligações.

Folha/UOL: No que depender do sr.?
Marcos Pereira: Se o cenário econômico, o cenário político nacional permanecer como está hoje, não tem por que não apoiar a reeleição da presidente Dilma.

Folha/UOL: Na cidade de São Paulo, o PRB tem o seu candidato mais conhecido a prefeito no Brasil inteiro, que é Celso Russomanno, com chances reais de estar no segundo turno, ele é o primeiro colocado nas pesquisas. Poderia, nesse caso, disputar o segundo turno, dizem as pesquisas, contra José Serra, do PSDB, ou Fernando Haddad, do PT. Na hipótese, hoje, não é a mais provável, mas pela ordem, se ele, Celso Russomanno, disputar o segundo turno contra José Serra, o PRB tem expectativa de que a presidente Dilma, o PT e o ex-presidente Lula apoiem Celso Russomanno?
Marcos Pereira: Nós temos essa expectativa e eu acho que é muito mais do que justo, porque o PRB já nasceu aliado com o presidente Lula, com o PT, elegendo o José Alencar vice-presidente no segundo mandato do presidente Lula. O José Alencar foi já reeleito vice-presidente da República pelo PRB. Então, eu acho que é perfeitamente natural porque somos base do Governo Federal.

Folha/UOL: Natural...?
Marcos Pereira: Ao apoio do PT e da presidente Dilma.

Folha/UOL: ...a Celso Russomanno.
Marcos Pereira: Exatamente.

Folha/UOL: O PRB faz parte da base de apoio, mas, neste momento da campanha, a presidente Dilma Rousseff aparece ostensivamente na campanha de Fernando Haddad, que é do partido dela, e às vezes diz que, insinua que, com Fernando Haddad sim São Paulo terá verbas públicas. Por analogia, a gente pode entender que com outros candidatos não teria. É correto que a presidente participe da campanha de Haddad como participa e com o tom que ela usa?
Marcos Pereira: Eu acho que o fato dela participar é porque ela é uma filiada, ela é uma pessoa do partido e partidária. Nesse ponto, ela estaria atendendo à necessidade do partido para aquele momento de participar da campanha de um candidato na cidade mais importante do país. Quando ela diz que o partido ou uma eventual eleição do candidato do partido dela teria verbas federais, eu acho que é o processo que está colocado na maneira brasileira de fazer política.

Folha/UOL: É errado??
Marcos Pereira: Eu não vejo que outros partidos ou outros candidatos da base do governo seriam preteridos pela presidente Dilma. Até porque ela tem feito convênios com o governo estadual aqui do Estado de São Paulo, que é do PSDB, o maior partido da oposição no momento.

Folha/UOL: Ou seja, então é aceitável esse tipo de participação da presidente Dilma na campanha de Fernando Haddad, inclusive com o tom que ela usa na campanha??
Marcos Pereira: Eu acho que é justificável.

Folha/UOL: Se o segundo turno em São Paulo for entre Celso Russomano e Fernando Haddad, são dois partidos que apoiam a presidente Dilma. Nesse caso, como ela deveria se comportar?
Marcos Pereira: [risos] Ela tem que se comportar conforme a consciência dela. Como ela é uma pessoa de partido, eu imagino que ela deverá, obviamente, apoiar o Fernando Haddad. Mas sem críticas e sem tons agressivos ao outro candidato, que a apoiou na sua eleição em 2010 e o partido que a apoiou e hoje faz base do governo dela.

Folha/UOL: Na sua avaliação, quem é o candidato mais forte que poderia se opor a Russomanno no segundo turno? Serra ou Haddad?
Marcos Pereira: Eu acho que ambos são candidatos competitivos. São candidatos que têm condições de ser um oponente forte ao Russomanno mas, você sabe, Fernando e internauta, que a população de São Paulo está buscando por uma mudança. Ela anseia por algo que seja verdadeiramente novo. E é por isso que as intenções do Celso têm crescido e estabilizado no patamar da casa de 35% das intenções de voto. Porque a população está desgastada com esse processo de polarização e quer dar oportunidade para alguém que vem da população e que queira realmente trabalhar pelos interesses da população.

Folha/UOL: Mas o sr. não enxerga nem Haddad, nem Serra, como eventualmente mais difícil de ser batido no segundo turno, então?
Marcos Pereira: Eu acho que eleição é eleição. No segundo turno é uma nova eleição. Qualquer candidato que vier, seja um, seja outro, será uma eleição difícil e o eleitor saberá escolher aquilo que, na opinião dele, é o melhor para a cidade.

Folha/UOL: Uma crítica comum que se ouve sobre o candidato Celso Russomanno é que ele é filiado ao PRB que vem a ser um partido que tem nas suas origens uma influência muito forte da Igreja Universal do Reino de Deus e ligações também com a TV Record. Afinal, qual é a influência que existe nesse caso?
Marcos Pereira: A influência é nenhuma, zero, e eu posso falar isso. O Celso não é da Igreja. O D’Urso, o candidato a vice-prefeito, também não é como muitos não são. E eu sendo posso dizer por que, assim como a Igreja e a Record... O  problema é que se faz uma confusão muito grande, Fernando.

Folha/UOL: Qual é?
Marcos Pereira: Eu sou membro da Igreja Universal. Mas a minha fé ou a minha religiosidade ou a minha maneira de acreditar ou de seguir a Deus não interfere em nada na minha vida política, na minha vida acadêmica. É o que eu disse outro dia para um colega seu. Daqui a pouquinho vão dizer que a Igreja Universal influencia nas minhas aulas de professor de Direito. E não existe isso. Como também ela não influencia na condução do partido e não influenciará numa eventual vitória de Celso e D’Urso.

Folha/UOL: Deixe eu dar um número aqui. Os jornais, volta e meia, publicam números da composição da direção do PRB. O último número, o sr. me corrija se eu estiver errado, diz o seguinte: que dez dos 18 membros da executiva nacional do PRB foram ou são ligados fortemente a Igreja Universal e/ou a TV Record. Isso confere?
Marcos Pereira:Eu não saberia te dizer se esses números batem. Eu precisaria fazer um levantamento. Mas, de fato, eu fui executivo. Eu, por exemplo, fui executivo da Record. Outros... Vitor Paulo foi, muitos anos atrás, executivo... Meu antecessor, né, ex-presidente nacional do partido. Da Record no Rio [de Janeiro], especificamente. Agora, isso não quer dizer que vai haver influência de um veículo de comunicação ou da religião num eventual governo ou, até mesmo, no partido. Porque, veja você, o Estado, primeiro, o Estado é laico. E a laicidade do Estado precisa ser mantida. Isso é uma conquista que nós tivemos e nós não podemos retroceder. E, outra coisa, a imprensa está aí. Rui Barbosa dizia: “A imprensa é a vista da nação”. A imprensa está aí para verificar se a televisão e/ou a Igreja vai influenciar no partido e no governo para denunciar. E o Ministério Público está aí para apurar eventuais denúncias.

Folha/UOL: O sr. falou da imprensa. A Folha de S.Paulo fez uma reportagem há não muito tempo, recentemente, com vans da campanha de Celso Russomanno estacionadas próximas a, ou no estacionamento, de um templo grande da Igreja Universal em São Paulo. Isso não é um sinal ou um indício de proximidade talvez além da conta que vai contra isso que você diz da necessidade de laicidade do Estado?
Marcos Pereira: Isso aí é um ponto que é importante até, a sua pergunta, e nos permite esclarecer o que aconteceu. Eu fui até perguntado sobre a jornalista da Folha sobre essa situação que eu não tinha conhecimento e fui apurar o que estava acontecendo. Existe um candidato a vereador que é pastor licenciado da Igreja Universal e que tem uma das bases dele naquela região ali, de Santo Amaro na cidade de São Paulo. E eu perguntei diretamente a ele o que estava acontecendo porque não é possível que isso aconteça, não é correto realmente. E ele me disse que as vans tinham parado ali por uma questão de que as pessoas que trabalhavam para ele terem a necessidade de ir ao banheiro, de usar, ali, o estacionamento, para dar uma parada estratégica e técnica. Eu disse para ele que não era possível que isso acontecesse e que não deveria mais acontecer. Até para evitar esse disse-me-disse. Ele me garantiu, e eu acredito, que não estava usando o templo como base da campanha dele para vereador. E eu disse para ele, fui mais incisivo, de que ele não devesse nem usar o estacionamento, apesar de que o estacionamento é, de certa forma, público. Mas, para evitar esse questionamento, eu solicitei a ele que não fizesse mais e eu tenho visto, pelo menos tenho tido informações de assessoria, de que ele não tem feito isso mais. Então, para encerrar essa questão, não eram kombis e não eram militâncias da campanha do Celso especificamente, mas de um vereador que é do partido e que está, consequentemente, coligado ao Celso.

Folha/UOL: O Datafolha faz pesquisas há muitos anos e agora uma estratificação de uma pesquisa do Datafolha indica que o eleitorado de São Paulo, quando olhado de perto, ele tende a ser mais conservador do que liberal. E muitos desses que, em tese, se apresentam como conservadores em termos de valores depositam ou pretendem depositar o voto para Celso Russomano. Eu gostaria de fazer algumas perguntas para o sr. sobre alguns desse valores e como eles são vistos pelo PRB e eventualmente como estarão na agenda de Celso Russomanno como eventual prefeito de São Paulo, se eleito. Então, para começar, o PRB é a favor ou contra o ensino religioso em escolas?
Marcos Pereira: O PRB é contra o ensino religioso. O PRB. Não é a opinião necessariamente do Celso Russomanno.

Folha/UOL: A agenda dele, como prefeito de São Paulo, Celso Russomanno, trabalharia de acordo com o partido ao qual ele é filiado para que não houvesse ensino religioso nas escolas?
Marcos Pereira: Não, porque existe uma lei nacional, existe um acordo, internacional inclusive, que privilegia o que está aí. Aí, o Celso... Eu não tenho procuração para falar em nome dele, mas pelo que nós conversamos ele é uma pessoa extremamente legalista. E se a lei existe, ela está aí para ser cumprida. E a lei que existe hoje, nacional inclusive, permite e privilegia o ensino religioso. Então, se ela existe, ela tem que ser cumprida.

Folha/UOL: O PRB trata de que maneira a tese do criacionismo? Ou não trata?
Marcos Pereira: Nós não tratamos de religião no partido. Essas questões de criacionismo, de evolucionismo... Nós não discutimos religião nas nossas reuniões partidárias.

Folha/UOL: O PRB, estatuariamente ou ideologicamente, é a favor ou contra a ampliação dos casos em que seria permitido por lei a prática do aborto?
Marcos Pereira: Veja você, isso aí... Nós não podemos pegar a opinião minha pessoal e a opinião do partido. A opinião do partido é consensada com a militância.

Folha/UOL: E qual é a opinião do partido nesse caso?
Marcos Pereira:Nós não temos uma opinião formada a respeito disso. Eu acho que as formas como estão estabelecidas na legislação devem ser cumpridas. A minha monografia...

Folha/UOL: O sr., pessoalmente, é contra?
Marcos Pereira: ... A minha monografia de graduação em Direito foi sobre aborto de feto anencéfalo quando ainda não tinha sido julgada [a questão] no Supremo Tribunal [Federal]...

Folha/UOL: E qual era a sua conclusão?
Marcos Pereira: ... E manifestei a minha opinião a favor.

Folha/UOL: A favor de?
Marcos Pereira: Do aborto.

Folha/UOL: Do aborto?
Marcos Pereira: Do feto anencéfalo.

Folha/UOL: Do feto anencéfalo. Entendi. Então o sr., pessoalmente, aplaudiu a decisão do Supremo?
Marcos Pereira: Aplaudi, não tenha dúvida. Inclusive, na minha monografia, eu tive acesso aos autos da ação de descumprimento de preceito fundamental que o ministro Marco Aurélio gentilmente cedeu para que eu tivesse acesso dentro do gabinete dele no Supremo para que eu fizesse os estudos da conclusão do curso.

Folha/UOL: E o sr. acha que é possível, ou deveria ser desejado, ampliar os casos em que é possível praticar o aborto?
Marcos Pereira:Eu acho que isso é uma discussão muito complexa e muito específica. E que tem que ser debatida entre a sociedade brasileira e o Congresso Nacional que representa a sociedade brasileira. A minha opinião ou opinião de um partido numa gama de 30 partidos, e sendo que esse partido especificamente... Primeiro que, repito, o PRB não tem uma opinião formada sobre isso.

Folha/UOL: Deveria haver?
Marcos Pereira: Mas se nós tivéssemos uma opinião, hoje não representaria grande coisa porque nós temos apenas dez deputados federais numa Casa de 513. Então é um assunto bastante delicado que, ao meu ver, tem que ser discutido no Congresso e pela sociedade. E nós temos, aí uma boa oportunidade para discutir isso nos próximos dois anos porque, você sabe e o internauta deve saber, está em tramitação no Congresso Nacional, um novo projeto de reforma do Código Penal. E que, em algumas situações, amplia essa questão do aborto.

A comissão juristas, de notáveis juristas, que elaborou esse anteprojeto, na qual eu tenho alguns amigos que fazem parte, juízes, desembargadores, ministros, trouxe a possibilidade de algumas questões de aborto. Eu acho que é um momento oportuno para a sociedade brasileira discutir.

Folha/UOL: O PRB... Então não vai ter posição, imagino também, mas o sr. teria uma posição sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo? O partido não tem posição?
Marcos Pereira: Olha, nós somos... Deixe eu te contar um dado curioso para você ter ideia e é importante que o internauta saiba. Não há preconceitos dentro do partido. Nós somos a favor, por exemplo, de que se combata a homofobia. Não é possível que pessoas sejam discriminadas por opções sexuais, religiosas ou seja lá o que for. E um dado importante que introduz a resposta que eu gostaria de lhe dar, no Estado do Amazonas inteiro, o único candidato a vereador que defende abertamente a bandeira LGBT é em Manaus, na capital, e é filiado ao PRB, E ele teve a sua filiação negada em outros dois partidos porque ele disse para os presidentes partidários quando da sua filiação que gostaria de defender essa bandeira do LGBT. E ele está filiado ao PRB. É candidato de vereador de Manaus pelo PRB.

Então não há essa questão no partido. É importante que se saiba, e é isso que eu tenho dito, não se discute religião. Se discute política. E nessa questão, respondendo a sua pergunta, de casamentos do mesmo sexo é, mais uma vez repito o que eu disse na resposta anterior, tem-se que discutir na sociedade. O país é democrático e, se a maioria decidir, nós temos que respeitar.

Folha/UOL: Agora, a propósito disso então, eu não poderia deixar de perguntar, sobre a polêmica de um artigo que o sr. escreveu em 2011, postou no seu blog, sobre a intenção, à época, do governo, no ano passado, de distribuir nas escolas brasileiras um kit que combatesse a homofobia, chamado por alguns de “kit gay”. E o sr. recebeu muitas críticas agora, durante esta campanha. E eu entrei no seu blog e não encontrei o artigo. Eu não sei se eu não procurei direito ou se o sr. retirou o artigo do ar. O que aconteceu?
Marcos Pereira: O que aconteceu é o seguinte: esse artigo foi escrito há um ano e meio atrás e numa quadra, num cenário político nacional, em que o Ministério da Educação estava na iminência de distribuir um kit que, ao nosso ver, estimulava, ele fazia uma apologia aberta à homossexualidade precoce das crianças.

Uma coisa é você ensinar que não se deve discriminar outra criança ou ser humano por sua opção sexual. Isso nós estamos plenamente de acordo. Outra coisa é você estimular a sexualidade precoce das crianças. Então nós fomos veementemente contra esse kit da forma como ele foi elaborado. E alguém usou um perfil falso no Twitter para trazer esse artigo de volta, agora, num momento totalmente desproporcional.

Folha/UOL: O sr. retirou o artigo do seu blog??
Marcos Pereira: Eu retirei o artigo do blog.

Folha/UOL: Por quê?
Marcos Pereira: Hoje é terça... Ontem. Porque teve uma reunião e o Campos Machado [do PTB-SP], que é um dos coordenadores políticos da campanha de Celso Russomanno me pediu. O Celso me pediu. O D’Urso me pediu e, atendendo aos meus amigos, eu [retirei o artigo do site]... Então, para evitar qualquer problema, solicitei que se retirasse o artigo.

Folha/UOL: O sr. acha que... Nesse artigo, pelo que eu li antes dele ter sido retirado, o sr. fazia um raciocínio dando a entender que a Igreja Católica tinha muita influência sobre decisões do governo e que a própria Igreja Católica estaria ajudando a patrocinar a ideia da distribuição daquele kit contra a homofobia, ou dito contra a homofobia, da forma como havia sido concebido. O sr. mantém essa interpretação de que, na época, a Igreja Católica era a favor daquele tipo de política?
Marcos Pereira: Não. Houve uma confusão na interpretação do texto que eu escrevi. O que eu escrevi está escrito. Não está mais publicado no blog mas ele existe aí para alguém ter acesso. Eu quando me manifestei sobre assunto, quando ele veio à tona, quando ele veio na mídia há duas semanas, mais ou menos, eu coloquei um ponto final nesse assunto. Então, Fernando, eu não gostaria de voltar ao tema porque é um assunto encerrado. É letra morta.

Folha/UOL: Mas, para a gente realmente, encerrar então. O sr. acha que talvez possa ter sido ambíguo além da conta quando escreveu interpretando a participação, a influência da Igreja Católica, ou não?
Marcos Pereira: Não. Não há ambiguidade. A questão é de intepretação. Você sabe que uma vírgula pode mudar totalmente o texto e o sentido do texto. É um assunto que foi escrito para o momento que atendeu a sua finalidade. Não podemos ficar trazendo isso para um momento atual.

Folha/UOL: Mas, olhando em retrospecto, a Igreja Católica influiu ou não??
Marcos Pereira: Nessa questão da formação do kit?

Folha/UOL: É.?
Marcos Pereira: Eu não gostaria de falar sobre o assunto. Porque, para mim, é um ponto final. Já foi colocado um ponto final.

Folha/UOL: O sr. retirou nesta semana?
Marcos Pereira: Foi.

Folha/UOL: Que hoje é terça-feira. Foi ontem, então, segunda-feira [24 de setembro]??
Marcos Pereira: Exatamente.

Folha/UOL: Dia 24 de setembro [2ª feira]. Entendi. O sr. sabe que por conta desse seu artigo, a Igreja Católica se manifestou duramente, de maneira veemente, contra o candidato Celso Russomanno, candidato a prefeito de São Paulo, em cultos da Igreja Católica, em missas. A Igreja Católica faz corretamente esse tipo de ação, no seu entender?
Marcos Pereira: Eu não estou aqui para julgar o que a Igreja Católica faz e deixa de fazer, se é correto ou se é errado. Eu acho que aí você tem que perguntar para a direção da Igreja Católica se eles acham que é correto ou não. Eu só sei o seguinte: você há de convir que o Celso é católico, foi coroinha, foi batizado, participou de várias congregações da Igreja Católica ao longo de muitos anos e ainda no domingo tivemos uma reunião na casa dele de coordenação de campanha e tem lá as imagens e crucifixos. É uma pessoa extremamente religiosa e católica. A mãe dele, faleceu recentemente, católica também, religiosa. Então, não há que se misturar uma coisa com a outra. Nós não devemos ficar discutindo religião porque isso é muito ruim para o fortalecimento e amadurecimento da democracia brasileira.

Folha/UOL: Não se deve discutir religião na eleição.
Marcos Pereira: Na eleição. Exatamente.

Folha/UOL: Dia 24 de setembro. Entendi. O sr. sabe que por conta desse seu artigo, a Igreja Católica se manifestou duramente, de maneira veemente, contra o candidato Celso Russomanno, candidato a prefeito de São Paulo, em cultos da Igreja Católica, em missas. A Igreja Católica faz corretamente esse tipo de ação, no seu entender?
Marcos Pereira: Eu não estou aqui para julgar o que a Igreja Católica faz e deixa de fazer, se é correto ou se é errado. Eu acho que aí você tem que perguntar para a direção da Igreja Católica se eles acham que é correto ou não. Eu só sei o seguinte: Você há de convir que o Celso é católico, foi coroinha, foi batizado, participou de várias congregações da Igreja Católica ao longo de muitos anos e ainda no domingo tivemos uma reunião na casa dele de coordenação de campanha e tem lá as imagens e crucifixos. É uma pessoa extremamente religiosa e católica. A mãe dele, faleceu recentemente, católica também, religiosa. Então, não há que se misturar uma coisa com a outra. Nós não devemos ficar discutindo religião porque isso é muito ruim para o fortalecimento e amadurecimento da democracia brasileira.

Folha/UOL: Não se deve discutir religião na eleição.
Marcos Pereira: Na eleição. Exatamente.

Folha/UOL: Além do sr., quem compõe a coordenação da campanha de Celso Russomanno?
Marcos Pereira: Nós temos um conselho político formado por 13 pessoas. O Campos Machado, presidente do PTB, eu, presidente do PRB... São quatro membros do PTB, cinco membros do PRB e um membro de cada partido da coligação.

Folha/UOL: E a reunião dessa coordenação se dá semanalmente, diariamente?
Marcos Pereira:Semanalmente.

Folha/UOL: Tudo bem. O Celso Russomanno fez carreira na televisão. É uma pessoa conhecida, midiática e atuou em vários programas. E na campanha agora, voltaram a aparecer, postados na internet, vídeos da época em que ele era repórter. Sobretudo em 1990, quando ele, como repórter, cobrindo bailes de carnaval, aparece conversando com mulheres nos bailes de carnaval e apalpando mulheres. O sr. acha que essas cenas que foram agora divulgadas têm algum impacto ou tiveram algum impacto na campanha?
Marcos Pereira: Eu acho que não. Ele estava fazendo o trabalho dele. Um trabalho digno. Um trabalho ao qual ele foi renumerado para isso, devidamente e legalmente renumerado. Uma coisa que não tem nada a ver. Quem nunca teve um carnaval ou alguns carnavais na vida? País do carnaval... Nós vivemos no país do carnaval.

Folha/UOL: Em relação a Paulo Maluf. A relação de Celso Russomanno com o Maluf no passado o prejudica ou não tem efeito nenhum?
Marcos Pereira: Não tem efeito. O Celso sempre teve votação independente.

Folha/UOL: Por que o PT não tem conseguido atrair os votos tradicionais dos eleitores petistas nessa eleição?
Marcos Pereira: O que eu disse para você. A população anseia por algo novo. Por algo em que ela possa realmente confiar e depositar a sua esperança porque ela está desesperançada. Talvez seja por isso.

Folha/UOL: Se Celso Russomanno vencer a eleição para São Paulo, ele se torna imediatamente, é impossível de negar isso, um potencial nome para outros cargos majoritários do país. Afinal de contas, ser prefeito de São Paulo, a maior cidade do país. E, sobretudo, candidato a governador de São Paulo em 2014. O que o sr. acha dessa possibilidade?
Marcos Pereira: Eu acho que essa possibilidade é praticamente nula...

Folha/UOL: Mas não é nula.
Marcos Pereira: ... Porque nós já conversamos sobre isso com o Celso e com o conselho político. O Celso já me disse e já disse para outras pessoas do grupo que ele sempre foi uma pessoa que cumpriu mandatos. Ele nunca abandonou um mandato pela metade ou no final, seja lá o que for. Então, se o Celso for eleito prefeito de São Paulo, ele vai cumprir os quatro anos com certeza. Isso aí é certo, ele já disse isso e nós podemos afirmar isso para você.

Folha/UOL: Não há hipótese de Celso Russomanno deixar o mandato no meio para ser candidato a governador?
Marcos Pereira: Em 2014, nenhuma. Nenhuma. Em 2014, nenhuma. Ele, eventualmente, pode ser candidato em 2016 a reeleição e, aí, em 2018, dependendo do cenário. Mesmo assim, acho muito pouco provável. Se ele for reeleito, se ele for eleito e reeleito, que, em 2018, saia do governo porque esse não é o desejo dele pessoal.

Folha/UOL: Governar São Paulo, é uma cidade muito grande, requer o apoio de muitos partidos. O Celso Russomanno, se vencer, tem poucos partidos ao seu lado. Para fazer uma coalizão, que tipo de estratégia será usada e quais partidos, idealmente, serão convidados numa eventual vitória de Celso Russomanno?
Marcos Pereira:Isso é uma questão que a gente tem que primeiro ganhar para depois discutir. Não dá para discutir isso nesse momento. A eleição está em curso, ainda no primeiro turno, depois nós teremos o segundo turno, que é uma outra eleição. E se no dia 28 de outubro  nós vencermos a eleição, que nós esperamos que aconteça, aí nós vamos estudar e conversar para ver como vamos conduzir essa questão.

Folha/UOL: O PRB subscreveu uma carta de apoio ao ex-presidente Lula junto com outros partidos aliados ao governo federal. Qual a foi a sua participação na construção do texto dessa carta e como foi esse processo?
Marcos Pereira: Eu não tive participação nenhuma na construção do texto, nem sequer li o texto.

Folha/UOL: Mas assinou?
Marcos Pereira: Também não.

Folha/UOL: Não? Quem assinou?
Marcos Pereira: O que aconteceu foi o seguinte: o presidente do PT, Rui Falcão, ligou para mim, não conseguiu falar comigo por duas ocasiões. E falou com o ministro Marcelo Crivella [da Pesca e Aquicultura], que é uma pessoa importante do partido [do PRB], e que me ligou, ato contínuo, dizendo: “Marcos, ó, não consegui falar com você e o Rui me ligou aqui, leu o texto, não achei nada demais. Como nem ele, nem eu”... Crivella dizendo, nem o Rui, nem o Crivella tinham conseguido falar comigo, porque, de fato, naquele dia eu estava numa reunião com o celular desligado... Ele, o Crivella, autorizou que a carta fosse subscrita e, como eu sou o presidente nacional do partido, saiu o meu nome ali.

Agora, é importante que se diga que, de fato, não dá para trazer para o cenário atual uma investigação do presidente Lula com base na matéria que não te fonte. Que foi disse me disse que deu base para a elaboração dessa matéria, [com base na qual] a oposição quis processar ou abrir um processo contra o presidente Lula. Porque quem tinha competência para fazê-lo, que era o Procurador-geral da República na época, não o fez. E se quem, constitucionalmente, tem competência não o faz, por que nós, então, iríamos fazê-lo?

Folha/UOL: Mas aí, deixe-me perguntar para o sr., a carta, que eu nem sabia que o sr. não tinha lido, foi o ministro Crivella que deu autorização em nome do PRB, é isso o que você está dizendo.
Marcos Pereira: Exatamente.

Folha/UOL: A carta diz que partidos de oposição estão trabalhando para tentar um golpe no país. O sr. acredita que existe em curso uma tentativa golpista no Brasil??
Marcos Pereira: Eu acho que esse texto específico precisa ser reavaliado. Como eu te disse, eu não assinei. Se eu fosse assinar, talvez, eu teria discutido um pouco mais com eles o conteúdo da carta. Não há que se falar em golpe, na minha opinião.

Folha/UOL: Então a carta está errada.?
Marcos Pereira: Não, não há que se falar em golpe porque, você veja, nós vivemos num país democrático. A situação não é contra a presidente Dilma. A presidente Dilma não está em cheque e ela que está no poder.

Folha/UOL: Mas então a carta está errada porque a carta fala, a carta assinada pelo seu partido, inclusive, que há uma tentativa em curso de produzir uma situação de golpe.
Marcos Pereira: É. Você sabe, Fernando, que na dinâmica da política e na urgência de certas decisões, decisões são tomadas. E você precisa, realmente, estar ciente do que você está plantando porque ônus e bônus podem vir decorrentes disso.

O ministro Crivella assinou, eu respaldei a assinatura dele porque não dá para você desautorizar uma decisão de uma pessoa da envergadura política do Crivella, senador reeleito com mais de três milhões e trezentos mil votos no Rio de Janeiro, e eu acho que é um assunto que a gente tem que olhar para frente, entendeu? Essa questão de se deve ou não investigar o presidente Lula é questão do Ministério Público e da Justiça. Se o Ministério Público entender que há matéria jurídica para fazê-lo, eles certamente o farão. Porque, se não fizerem, estarão cometendo crime de prevaricação.

Folha/UOL: Desculpe-me se eu insistir nesse assunto, mas eu vou insistir. Está escrito na carta, assinado pelos partidos que há uma tentativa de golpe. Seria melhor, então, fazer outra carta dizendo que isso não há? Foi um erro??
Marcos Pereira: Não. Eu acho que a gente deve olhar para frente. Eu não vou dizer que foi um erro ou que não foi um erro. Vamos olhar para frente porque esse é um assunto que não adianta ficar remoendo aqui agora porque não vai acrescentar em nada nesse momento.

Folha/UOL: Mas o sr., particularmente, acha que não há uma tentativa de golpe em curso?
Marcos Pereira: Eu acho que não há tentativa de golpe nenhum. Porque o presidente Lula não está no poder. E golpe se faz contra quem está no poder.

Folha/UOL: Por falar em quem está no poder, que nota você daria para a presidente Dilma e para o governo dela?
Marcos Pereira: Eu daria nota 8.

Folha/UOL: Para ambos, governo e ela?
Marcos Pereira: Para ambos.

Folha/UOL: Presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, muito obrigado pela sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Marcos Pereira: Obrigado a você por ter nos convidado. Estamos à disposição. Espero ter esclarecido as dúvidas.

Folha/UOL: Muito obrigado.
Marcos Pereira: Obrigado.