Favorito à presidência da Câmara, Cunha "atormenta" o Planalto
Líder monolítico, cumpridor de acordos, intransigente. Esses e outros adjetivos, alguns elogiosos, outros nem tanto, podem ajudar a definir um dos políticos mais influentes do Congresso e um dos mais temidos pelo Palácio do Planalto: Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
As eleições para a presidência da Câmara dos Deputados, marcadas para o dia 1º de fevereiro, colocam o Planalto diante da possibilidade de conviver com um presidente bastante diferente do atual, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Se o líder potiguar é conhecido pela diplomacia e pela afinidade com as vontades da Presidência da República, Eduardo Cunha parece não carregar as mesmas prerrogativas. Mal as luzes das eleições presidenciais tinham se apagado e Cunha, líder do PMDB na Câmara, mandou seu recado dizendo que a bancada não seria “aliada automática” do governo. Cunha disputa a presidência contra Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG). Chinaglia é tido como o candidato favorito do Palácio do Planalto.
Político com “fama de mau”, Eduardo Cunha é economista formado pela Universidade Cândido Mendes e radialista. Foi presidente da Telerj (antiga estatal de telefonia do Rio de Janeiro) entre 1991 e 1993. Em 1999, foi subsecretário da Cehab (Companhia Estadual de Habitação) em 1999 e titular da pasta entre 1999 e 2000.
Em 2000, Cunha se licenciou do cargo após denúncias de irregularidades supostamente cometidas por ele virem à tona. Em dezembro, o STJ arquivou, por prescrição de prazo, o processo por improbidade administrativa e superfaturamento.
O escândalo, que não foi primeiro no qual Cunha esteve envolvido, parece não ter respingado em sua imagem. Em 2002, foi eleito deputado federal, cargo para o qual foi reeleito em 2006, 2010 e 2014. Em 2014, foi o terceiro deputado federal mais bem votado do Rio de Janeiro, com 232.708 votos, ficando atrás apenas de Clarissa Garotinho (PR-RJ) e Jair Bolsonaro (PP-RJ). Mais recentemente, reportagens indicaram que o policial federal preso durante a operação Lava Jato, Jayme Alves de Oliveira Filho, teria dito que pagou propina a Eduardo Cunha a pedido do doleiro Alberto Youssef. O deputado negou e, um dia depois, advogados de Youssef negaram que o doleiro tivesse negócios com o parlamentar.
Opiniões divididas
As opiniões sobre Cunha se dividem. Aliados, como o deputado federal Mendonça Filho (DEM-PE), o definem como um “sujeito cordial”. “Ele é muito cordial, inteligente e é normalmente muito bem preparado para as discussões das matérias”, diz Mendonça Filho, cujo partido apoia a candidatura de Cunha.
A cordialidade de Cunha, porém, está longe de ser unanimidade. Não é à toa que ele tem a chamada "fama de mau" no Congresso. “A impressão que eu tenho é que, muitas vezes, ele fecha as coisas na tora. Na raça, mesmo. Isso pode não agradar muita gente”, diz um parlamentar que acompanha a disputa pela presidência da Câmara de perto, mas que pediu para não ser identificado.
O líder do PP na Câmara, Eduardo da Fonte (PP-PE), vai direto ao ponto. "Ele não é de ficar adulando ninguém, não. O que ele tem que falar, ele fala é pela frente, não é pelas costas. É direto", diz o parlamentar.
O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy, por sua vez, define Cunha como “cumpridor de acordos”. “Ele exerce uma liderança monolítica sobre o partido dele. Não é fácil fazer setenta pessoas seguirem a seguirem a sua posição, e ele consegue”, diz Imbassahy, que apoia a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) à presidência da Câmara.
As relações desgastadas com o PT, por exemplo, fizeram com que o sempre comunicativo e diplomático líder do partido na Câmara, Vicentinho (PT-SP), se recusasse a falar sobre Cunha. “Eu não falo sobre Eduardo Cunha. Não quero falar sobre ele”, afirmou.
Na Câmara dos Deputados, Cunha se notabilizou como um dos principais interlocutores da Casa com o setor de telecomunicações, sobretudo durante as discussões que levaram à aprovação do marco regulatório da internet, aprovado em 2014.
Propostas
Como plataforma de campanha, Cunha prega que vai fortalecer a independência da Câmara em relação ao Planalto, numa crítica aberta à forma como o Executivo e o Legislativo vêm se relacionando.
Além disso, Cunha defende a equiparação definitiva dos salários dos parlamentares ao teto do funcionalismo público, hoje em R$ 33,7 mil, e a construção de mais um prédio anexo ao Congresso para acomodar os parlamentares e demais funcionários.
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