Topo

Quartos de hotel e imóveis continuam "rendendo" mesmo com Youssef na prisão

Um dos quartos do hotel Blue Tree: Youssef é dono de seis apartamentos no local - Divulgação
Um dos quartos do hotel Blue Tree: Youssef é dono de seis apartamentos no local Imagem: Divulgação

Bruna Borges

Do UOL, em Londrina (PR)

11/02/2015 06h00

No momento em que a operação Lava Jato foi deflagrada, em março de 2014, vários imóveis do doleiro Alberto Youssef foram sequestrados pela Justiça. Ele possui investimentos em hotéis de cinco cidades brasileiras, e esses imóveis continuam rendendo com o pagamento das tarifas pelos hóspedes. O UOL visitou um desses locais de que o doleiro é sócio, o hotel Blue Tree Premium, que fica em Londrina (PR).

Assim como os outros imóveis de Youssef, os seis apartamentos do Blue Tree Londrina estão no nome da GFD Investimentos, que é do doleiro. Embora tenha sido divulgado a princípio que o hotel inteiro pertencia a Youssef, a informação não é verdadeira -- o hotel tem outros 126 apartamentos de outros investidores e operou normalmente mesmo com a deflagração da Lava Jato. Os rendimentos dos seis imóveis do réu são depositados em juízo em uma conta bancária determinada pela Polícia Federal.

O hotel atrai principalmente hóspedes que viajam a negócios. Enquanto a reportagem esteve no local, pelo menos duas convenções ocorriam ali e há oito salas para reuniões. No lobby, outros grandes grupos se preparavam para ir a casamentos e festas de formatura, o que indica que a movimentação do hotel segue normal. A localização também é central na cidade paranaense: o hotel fica a apenas dez minutos do aeroporto da cidade.

As comodidades incluem piscina, solarium, sauna, spa, academia, sala de negócios e salas para convenções. Também há espaço para crianças, salão de beleza e bar. É possível se hospedar ali por R$ 159 (apartamento simples). As tarifas de outros hotéis na cidade variam entre R$ 100 e R$ 500.

O empreendimento tem arquitetura que remete ao formato de um barco. A decoração é feita em estilo contemporâneo, com móveis de madeira e revestimento de mármore e áreas internas amplas. O restaurante tem opções de massas frescas, carnes e peixes.

Por determinação da Justiça, os apartamentos de Youssef no hotel estão sob custódia da Polícia Federal para assegurar o ressarcimento de danos causados pelos crimes do doleiro caso ele seja condenado. Youssef é réu em dez ações penais por suspeita de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões.

Como fez acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, o doleiro se comprometeu a devolver à União pelo menos R$ 1,8 milhão em espécie, imóveis em hotéis em nome de suas empresas, incluindo os apartamentos do hotel que visitamos em Londrina. Também irá devolver os imóveis registrados em seu nome, além de todo o dinheiro encontrado em contas pessoais e em suas empresas.

Youssef aceitou devolver ainda um hotel na cidade de Aparecida (SP), parte de um hotel em Salvador (BA), os seis apartamentos do Blue Tree em Londrina, um terço de um hotel em Jaú (SP) e um imóvel em Camaçari (BA). As propriedades não têm avaliação de valores na delação. O doleiro também terá entregar à União um carro Volvo XC60 blindado, ano 2011, um Mercedes Benz CLS 500, ano 2006, e um Tiguan 2.0 blindado, ano 2013/2014. O aluguel de sobrados que estão em um terreno no Rio de Janeiro também será depositado em juízo em conta determinada pela Polícia Federal.

Em compensação, Youssef conseguiu manter a posse de um imóvel em Londrina para suas filhas. Também manteve outro imóvel em São Paulo para sua ex-mulher.

Segundo a Blue Tree Hotels, a administradora do grupo hoteleiro, a informação incorreta veiculada pela imprensa de que o hotel havia sido lacrado pela Polícia Federal quando Youssef foi preso causou “transtorno momentâneo”, mas a operação do hotel não foi afetada. “O faturamento da unidade está alinhado com o planejamento”, informou a administradora.

O Blue Tree é um dos exemplos de investimentos legais que o doleiro utilizava para esconder as operações ilícitas na mesma empresa, a GFD. Youssef é suspeito de emitir notas frias na GFD e em outras empresas suas.

A contadora Meire Poza, que prestou serviços à GFD, afirma que notas eram faturadas, mas que os serviços referentes a elas não eram prestados. Ainda segundo ela, a GFD operava outras atividades legais. Ele também tinha a Marsans, uma agência de turismo, que tinha operações lícitas, segundo a contadora.