Em meio à crise, líder do governo gaúcho chama servidores de "vadios"
Em meio a uma grave crise financeira que faz com que o governo gaúcho parcele o salário de seus servidores, o líder do PMDB na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Álvaro Boessio - do mesmo partido do governador José Ivo Sartori - chamou servidores estaduais de "vadios". A declaração foi dada à rádio Spaço FM, de Farroupilha, no interior do Estado, nessa segunda-feira (31).
"Hoje, tem alguns funcionários públicos, não todos, uma boa parte, e falo isso porque trabalho na Assembleia, que são vadios, não correspondem. Depois que passaram no concurso, que estão lá há tempos, querem mandar mais do que os deputados. E assim é no governo, deve ser nas prefeituras, por tudo. Não todos, mas uma boa parcela dessas pessoas", disse o parlamentar.
A declaração acirrou ainda mais os ânimos dos funcionários públicos do Executivo estadual, que, desde agosto, recebem seus salários parceladamente. Nesse dia 31, eles ganharam uma parcela de R$ 600. Grande parte possui financiamentos e empréstimos com débito em folha, o que fez com que muitos não vissem a cor do dinheiro.
Boessio optou por utilizar as redes sociais para se explicar. Em sua conta no Facebook ele chamou a repercussão que sua fala tomou de "no mínimo maldosa". Ele afirmou que a declaração foi dada em outro contexto.
" Falávamos sobre concursos públicos. Eu expressava a minha opinião, buscando afirmar que a máquina pública precisa de mais eficiência; quando usei um termo infeliz em um comentário."
E se desculpou: "Errei. Peço as mais sinceras desculpas se ofendi alguém, ou alguma classe de trabalhadores. Os amigos que conhecem minha trajetória sindical sabem que eu jamais teria a intenção de criticar, de nenhuma forma, os policiais que acordam cedo para garantir a nossa segurança, ou os professores que cuidam do futuro do nosso estado, entre outras tantas categorias."
Amigos,Quero aqui me manifestar sobre a repercussão, no mínimo maldosa, que aconteceu no dia de hoje sobre minha...
Posted by Alvaro Boessio on Segunda, 31 de agosto de 2015
Crise no Estado
A crise que afundou o Rio Grande do Sul em dívidas vem de décadas de administrações que gastavam mais que arrecadavam. Segundo o próprio governo, em poucos anos desde a década de 1970 o saldo anual terminou positivo.
Conforme a Secretaria da Fazenda do RS, por exemplo, 2015 deve fechar com um buraco de R$ 5,4 bilhões em suas contas. Agora a situação se agravou, fazendo com que o governo pedale dívidas e seja obrigado a parcelar os salários do funcionalismo - que abocanha 75,5% da receita todo mês.
Todo mês faltam R$ 400 milhões para o governo quitar suas contas. Além disso, existe a dívida com a União, por exemplo, que utiliza mensalmente 13% do orçamento do RS, além de empréstimos e precatórios.
Para tentar amenizar a crise, o governo estadual optou por dar um calote na União, utilizando o dinheiro para pagar o funcionalismo, o que fez com que - com base em contrato - o governo federal sequestrasse R$ 60 milhões da conta gaúcha na Secretaria do Tesouro Nacional.
A alternativa que o governador Sartori optou para remediar a situação é o corte de gastos. Estão sendo suspensos os pagamentos a fornecedores e as nomeações de novos funcionários públicos. Outra medida é o enxugamento de 20% das despesas das secretarias e o corte de 35% nos cargos em comissão.
O Executivo gaúcho enviou à Assembleia um pacote de projetos com a proposta de criação de uma previdência complementar para os futuros servidores, a extinção de três fundações estaduais, além de outras medidas emergenciais.
Há também um projeto que prevê o aumento da alíquota básica do ICMS de 17% para 18%, assim como o tributo sobre gasolina, álcool, telecomunicações e energia elétrica passe de 25% para 30%. Ainda não há data para a votação no Legislativo desses projetos.
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