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Dilma diz a jornais estrangeiros que há um "golpe" em curso no Brasil

Dilma Rousseff concedeu entrevista de quase duas horas à imprensa estrangeira - Eraldo Peres/AP
Dilma Rousseff concedeu entrevista de quase duas horas à imprensa estrangeira Imagem: Eraldo Peres/AP

Do UOL, em São Paulo

24/03/2016 14h28

A presidente Dilma Rousseff concedeu nesta quinta-feira (24) entrevista de quase duas horas à imprensa estrangeira, na qual denunciou “golpe” em curso no Brasil. A ação faz parte da tentativa de buscar apoio internacional contra seu afastamento.

Dilma avalia que seu processo de impeachment tem “vácuo de fundamentos legais”. De acordo com o “The Guardian", ela denunciou o que entende por "métodos fascistas" usados por parte de seus oponentes políticos. “Nunca vimos tanta intolerância no Brasil”, lamentou a presidente. “Não estou comparando o golpe de agora com o golpe dos militares [de 1964], mas de todo modo poderá quebrar a ordem democrática do país. E isso terá consequência. Talvez não imediatamente, mas será uma cicatriz na vida política nacional”, prosseguiu. 

Na sequência, informa o "The New York Times", a mandatária atacou Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizendo que o presidente da Câmara dos Deputados pôs a votação de afastamento em pauta para encobrir seus próprios problemas com a Justiça. E acrescentou: “Por que eles querem que eu renuncie? Pensam que sou uma mulher fraca? Não sou”, argumentou. “Querem evitar a dificuldade de retirar, ilegalmente e criminosamente, a legitimidade de uma presidente eleita”.

Dilma voltou a afirmar que não pedirá renúncia e prometeu "apelar com todas as armas legais disponíveis", se o Congresso votar a favor do impeachment. "Não vou dizer que é agradável ser vaiada [em protestos], mas não sou uma pessoa depressiva. Durmo bem à noite”. Segundo ela, a oposição tem dificuldade em reconhecer a derrota nas eleições de 2014 e age pelo "quanto pior, melhor", boicotando agenda legislativa proposta pelo governo, o que "afundou o país". 

Lula ministro

Dilma também defendeu a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para ministro chefe da Casa Civil, ao ressaltar que o talento do ex-presidente para a negociação política é fundamental para o momento de crise, e rechaçou o argumento de que Lula estaria buscando amparo legal com foro privilegiado. “Estando no governo, ele responderia à maior Corte do país [Supremo Tribunal Federal]. O STF não é bom o suficiente para julgá-lo?"

Ela crê, no entanto, que se manterá firme no cargo, e o Brasil estará em paz durante os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. 

Os jornais convidados foram "Le Monde" (França), "The Guardian" (Reino Unido), "The New York Times" (EUA), "El País" (Espanha), "Pagina 12" (Argentina) e "Die Zeit" (Alemanha).

Vale lembrar que alguns destes veículos já se manifestaram sobre a crise política do Brasil. Em editoriais recentes, o "The Guardian" sugeriu como saída positiva a renúncia da presidente, e o "The New York Times" classificou como "ridícula" a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva à Casa Civil. Outro veículo a se posicionar foi a revista britânica "The Economist", que publicou editorial intitulado "É hora de ir", no qual indica caminhos para saída de Dilma do poder.

Dilma adotou postura combativa recentemente. Na terça-feira, disse em Brasília que não renunciará ao cargo e que o processo de impeachment em curso no Congresso é uma tentativa de golpe, porque não foi cometido crime de responsabilidade. "Não cabem meias palavras. O que está em curso é um golpe contra a democracia. Eu jamais renunciarei."

A mandatária disse que a tentativa de derrubá-la é tramada nos "porões da baixa política". "Eu preferia não viver esse momento, mas que fique claro que me sobram energia, disposição e respeito à democracia para enfrentar a conjuração que ameaça a estabilidade democrática do país."

As afirmações foram feitas em discurso no Palácio do Planalto, em Brasília, durante encontro com juristas que criticaram o processo de impeachment e a divulgação de gravações telefônicas da presidente interceptadas pela operação Lava Jato. 

Ainda nesta semana, os ministros Jaques Wagner (Gabinete da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União) utilizaram o mesmo expediente. À mídia internacional, Wagner disse que um possível impeachment acirrará a crise econômica, e não a contornará.

Apoio internacional

Ao longo da última semana, líderes de outros países, especialmente os latino-americanos, posicionaram-se a favor da continuidade do mandado de Dilma. Evo Morales afirmou, em ato público, que "a direita no Brasil quer voltar, mediante um golpe do Congresso e um golpe judicial, para castigar o Partido dos Trabalhadores, o partido do companheiro Lula, para derrubar e processar a companheira Dilma". 

Rafael Corrêa, chefe de Estado do Equador, seguiu a mesma linha: "Já não se precisa mais de ditaduras militares, de juízes submissos, de uma imprensa corrupta, que inclusive se atreve a publicar conversas privadas, o que é absolutamente ilegal", disse, em entrevista à TV estatal do país. Tom parecido com o adotado por Nicolás Maduro, presidente da Venezuela: “Há golpe de estado midiático e judicial contra Dilma Rousseff e Lula, líder da nossa América”, avaliou, em discurso no Palácio de Miraflores, em Caracas.

Já Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, durante visita à Argentina, na última quarta-feira, preferiu não emitir opiniões sobre a crise política brasileira, e limitou-se a dizer que "o Brasil é um país grande, é amigo dos nossos países. A boa notícia é que a democracia brasileira está madura, as leis e as instituições são fortes o suficiente para que isso seja resolvido de maneira que o Brasil prospere e seja o líder mundial que é".