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"Tucano vai buscar dinheiro na sacristia, no dízimo", ironiza Lula em ato em SP

Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

08/04/2016 23h58

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou nesta sexta-feira (8) as delações premiadas feitas por executivos da construtora Andrade Gutierrez, em que o PT e o PMDB são citados como destinatários de dinheiro oriundo de propina, embora doado de forma legal. "Ontem fiquei pensando: essa delação premiada está me cheirando ao ‘Big Brother'", afirmou, em alusão a quadro dentro do programa televisivo da Rede Globo em que os vencedores da casa fazem a festa no cofre.

Segundo Lula, o cofre onde os partidos vão buscar dinheiro só se torna "podre" quando o PT vai até a ele, diferentemente do que aconteceria quando é o PSDB. "Essa empresa (Andrade Gutierrez) é de Minas (Gerais) e sabidamente é muito ligada aos tucanos", insinuou. "Eu fiquei pasmo, porque na hora em que aparece na imprensa, não aparece tucano." Lula disse, com ironia, que os petistas vão precisar aprender onde e como os políticos do PSDB vão se financiar: "Quando (o PT) for pegar dinheiro, manda o nosso pessoal seguir um tucano e vai atrás dele, porque acho que ele vai na sacristia, vai lá no dízimo". "O PT precisa aprender a ir só no cofre limpo, bom."

No encontro organizado por entidades e sindicatos da educação e professores da rede pública e estudantes secundaristas, em São Paulo, o ex-presidente negou outra vez envolvimento em casos de corrupção e a posse do sítio que usa em Atibaia (SP) e de um tríplex em Guarujá (SP), propriedades que o Ministério Público acredita serem dele. "Ao final (das investigações conduzidas na Operação Lava Jato), vou querer só essa palavrinha: desculpa."

Parábolas da maçã e do chiclete

Lula contou ainda duas histórias de infância para ilustrar e defender a sua honestidade: a primeira foi de quando, menino, desejava comer maçã e não tinha dinheiro para comprá-la na feira; a segunda foi a de querer mascar "chiclete americano" quando cuidava de uma venda da família. Nos dois casos, afirmou que reteve o ímpeto de furtar os objetos "com medo de envergonhar" a mãe. Segundo o ex-presidente, os adversários têm tentado agora atacá-lo naquilo que ele sempre prezou mais: a honestidade.

Ele lembrou ainda realizações de seu governo na área da educação, como a criação dos programas ProUni (Programa Universidade para Todos), Fies (Programa de Financiamento Estudantil) e Ciência sem Fronteiras.

Dizendo não ter orgulho de não possuir diploma universitário, entretanto frisou que ele e seu vice-presidente da República nos dois mandatos, o empresário José Alencar, que também não teve diploma universitário, vão "entrar para a história como o governo que mais fez universidades nesse país". Lula afirmou ter feito uma profunda "revolução social sem dar um único tiro, só dando o tratamento adequado ao andar de baixo".

O ex-presidente encerrou seu discurso, que durou cerca de 40 minutos, convocando os presentes para a luta "contra o golpe" e dizendo que não vai recuar. "Não há hipótese de eu ficar quieto nesse país, a não ser na morte. E todo mundo um dia morre. Ninguém vai me fazer abaixar a cabeça."