Evitadas nas eleições de 2014, reformas polêmicas ganham força com Temer
Já nestas primeiras semanas do governo interino de Michel Temer, o PMDB e seus aliados começam a tentar levar adiante propostas polêmicas presentes no documento “Ponte para o futuro”, divulgado pela sigla em dezembro, como a revisão de programas sociais e mudanças nas regras da aposentadoria.
Propostas já foram testadas, diz fundação
A assessoria de imprensa da Presidência interina foi contatada por email (3 vezes) e por telefone (4 vezes) desde o dia 24 de maio para responder os questionamentos sobre o Ponte para o Futuro. O UOL perguntou se o governo não considera que terá dificuldades para viabilizar as propostas.
Medidas "altamente impopulares"
Para o cientista político Carlos Ranulfo, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), as propostas do PMDB podem ter dificuldades não pelo fato de não terem sido debatidas nas eleições, mas por serem “altamente impopulares” e defendidas por um governo “que não foi eleito por ninguém”.
“É claro, o fato de [o “Ponte para o futuro”] não ter sido discutido hora nenhuma aumenta o problema, mas o problema maior é o teor delas em um período muito curto de tempo com uma parcela da população que não reconhece a legitimidade do Temer e num momento em que a Câmara passa por uma crise brutal. Não é todo dia que você afasta o presidente da Câmara”, disse o professor da UFMG, citando o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
“Sociedade brasileira precisa encarar esses temas”
A historiadora Dulce Pandolfi, pesquisadora da estrutura política brasileira e professora da FGV (Fundação Getúlio Vargas), afirmou que Temer traz um governo que “não tem a ver com a proposta que a população elegeu” em 2014.
Ao mesmo tempo, o Congresso “não está sensível, não representa a maioria”. Dulce lembrou que mesmo movimentos sociais simpáticos a Dilma já vinham questionando as políticas adotadas pelo governo afastado.
“Quando a Dilma tem que fazer um recuo econômico depois da eleição, os movimentos já começaram a chiar com um governo que era aliado deles. Você imagina um governo que vai entrar exatamente com outra percepção sobre políticas sociais, sobre direitos”, disse.
Segundo o economista Mauricio Bugarin, professor da UnB e responsável por um grupo de pesquisa sobre economia e política, qualquer governo que quiser fazer reformas mais profundas no Brasil enfrentará dificuldades.
Para Bugarin, as propostas de Temer deverão ter apoio de “instituições, acadêmicos, empresários e talvez até sindicalistas”, mas o professor diz não ter dúvidas de que movimentos ligados ao governo do PT e o próprio partido farão de tudo para dificultar as reformas propostas pelo PMDB.
O economista vê o fato de tais reformas não terem sido incluídas nos programas de governo de Dilma e Aécio em 2014 como fator de uma corrida eleitoral muito polarizada.
“Cada partido tinha que fazer promessas melhores para se tornar mais competitivo aos olhos do eleitorado. Portanto, nesse processo, fugia-se dessas questões mais profundas, como essas reformas, porque elas envolvem mudanças que vão afetar negativamente alguns grupos. Então, numa campanha política, sobretudo mais competitiva, evitam-se os temas mais delicados”, disse Bugarin.
“É até uma oportunidade que a gente tem. A sociedade brasileira tem que enfrentar esses temas e discuti-los.”
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