Considerado favorito, Rosso fala em "renovação" ao discursar na Câmara
Em seu discurso no plenário, o candidato à presidência da Câmara Rogério Rosso (PSD-DF), considerado o favorito no pleito e que foi para o segundo turno da eleição que aconteceu ainda esta noite, reconheceu que é um deputado federal inexperiente e que sua eventual vitória tem um significado de mudança. Ele afirmou que ainda que o próximo presidente da Casa tem a obrigação de garantir a governabilidade e estabilidade. "Não era hora de inventar a roda", afirmou Rosso, que no começo de seu discurso pediu desculpas por estar rouco.
Ele também citou que esta eleição na Câmara deve ser marcada por "renovação". "Uma eleição como essa precisa ter um significado, de mudança, de renovação, e, principalmente, de chegar aqui de cabeça erguida de nós somos parlamentes que honramos os compromissos e os votos do povo brasileiro", disse, envergando a lapela do paletó com o broche de deputado.
O candidato Gilberto Nascimento (PSC-SP), que discursou logo em seguida, declinou da candidatura e declarou apoio a Rosso. "Declino em respeito à decisão do meu partido."
Rosso integra a base de apoio de Temer e foi apontado como favorito entre os candidatos do chamado "centrão", grupo de 13 partidos que apoiam Temer e reforçaram seu peso político durante a gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara.
O deputado está em seu segundo mandato na Câmara (o primeiro foi em 2011, quando assumiu como suplente) e presidiu a comissão especial que analisou o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Quando o caso foi a plenário, Rosso foi um dos 367 deputados que votaram pela abertura de processo no Senado contra Dilma.
A eleição para a presidência da Câmara foi precipitada pela renúncia de Eduardo Cunha ao cargo, na última quinta-feira (7), dois meses após ser afastado do exercício do mandato, e, portanto, do cargo, pelo STF (Supremo Tribunal Federal), por suspeitas de que usava o cargo para interferir nas investigações contra ele.
Atualmente, além do processo de cassação, Cunha enfrenta diversas investigações no STF por suspeitas de participação em esquemas de corrupção. O deputado nega irregularidades e diz que vai provar sua inocência.
O novo presidente da Câmara vai cumprir um "mandato-tampão" até fevereiro de 2017.
Para eleger em primeiro turno o presidente é preciso 257 votos, quantidade que representa a maioria absoluta da Câmara, que tem 513 deputados (nessa eleição, votarão 512, já que Cunha está afastado).
Mais discursos
Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi o primeiro dos 14 candidatos a ocupar a tribuna. Na sua fala, ele fez elogios a ex-presidentes da Casa, a exemplo do atual presidente interino, Michel Temer (PMDB), Ulysses Guimarães (PMDB), e Aécio Neves (PSDB). "Vivemos um momento de grande de crise política. Peço seus votos porque sei que estou pronto para navegar por esta tormenta", disse. Maia declarou ainda que um Câmara paralisada "é a fraqueza de cada um de nós deputados".
Após Maia, discursou Evair Vieira de Melo (PV-ES). O deputado defendeu a renovação política ao afirmar que a Casa precisa de um líder pacificador. "É tempo de abandonar os pensamentos retrógrados e a cultural medieval que persiste arraigada na Câmara". O deputado declarou ainda que a Operação Lava Jato atingiu "a direção da Câmara" e que, segundo ele, é preciso recolocá-la para trás o personalismo e o patrimonialismo.
Em seguida, falou Miro Teixeira (Rede-RJ), que afirmou que não veio "pedir voto" e desejou sucesso "ao eleito". "A Câmara de Deputados perdeu o protagonismo legislativo para o Senado", disse o deputado, ao reiterar que a Casa não tem apresentado uma pauta própria, independente dos projetos do Executivo. Ele também defendeu que o processo de eleição contemple um debate entre os postulantes ao comando da Casa, como defende um grupo de 52 entidades da sociedade civil, a exemplo da Transparência Internacional.
Giacobo (PR-PR) afirmou que o novo presidente da Câmara precisa ser capaz de retomar a estabilidade da casa legislativa. Seu discurso foi pontuado por uma defesa da imagem do Poder Legislativo e dos deputados federais. "Todas as mazelas do país são jogadas com exclusividade e, por isso, sem razão nos ombros desse poder. afirmou o atual 2° vice-presidente da Câmara. "Tenho orgulho de ser deputado federal e digo isso com altivez", acrescentou.
A deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) afirmou que novo presidente da Câmara tem que ser um político ficha-limpa e que saiba dialogar com o Planalto. "Sou uma candidata mulher, ficha-limpa e aliada ao movimento do diálogo. E sou contra os aumentos de impostos e contra os gastos públicos", declarou em seu discurso de dez minutos. Para a candidata, o Congresso deve voltar a trabalhar em prol da população brasileira, e promover o equilibro diálogo entre a situação e a oposição. "É sobreviver a uma devastadora decepção com a gestão desastrada do PT no governo federal".
Já Luiza Erundina (PSOL-SP) gritou "Fora Cunha!" e chamou de "golpista" o presidente interino, Michel Temer, em seu discurso no plenário da Câmara. Erundina classificou ainda o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de "presidente-réu" e de "fantasma". Erundina afirmou também que a atual eleição é uma grande oportunidade da Câmara pagar uma dívida histórica com as mulheres. "Em 192 anos de existência do Legislativo nenhuma mulher ocupou a presidência da câmara e poucas foram eleitas para a mesa diretora", declarou em seu discurso no plenário. Ela fez uma citação direta ao Planalto, ao afirmar que "golpistas que tomaram de assalto o mandato da primeira mulher presidenta do Brasil".
O candidato Carlos Manato (SD-ES) iniciou sua fala rasgando o discurso escrito, segundo ele, por seus assessores. "Me desculpa! Me desculpa! Mas o que vocês escreveram aqui é a mesmice, a mesma coisa que os outros já disseram", afirmou ao rasgar a papelada na tribuna. Manato afirmou ainda que candidatos usaram de pirotecnia e o que processo eleitoral é totalmente distorcido. "Eu não ouvi ninguém dizendo aqui que quer trabalhar mais. Eles querem pegar o avião da FAB (Força Aérea Brasileira) na quinta-feira para ir embora de Brasília".
Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO) pediu voto especialmente aos 253 deputados federais que, assim como ele, estão em primeiro mandato. "Gaguim não é de promessa, Gaguim é de compromisso", declarou ao se referir a si mesmo na terceira pessoa. "Eu preciso de um cada um de vocês. Vocês, de vários mandatos, não só os novatos, eu preciso de votos de cada um de vocês. Dá um votinho no Gaguim."
Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro da Saúde de Dilma, afirmou que "sempre teve lado". Ele defendeu prerrogativas dos deputados, como a liberação de dinheiro do Orçamento por meio de emendas. "O deputado Marcelo Castro nunca baixou a cabeça. Nunca esteve indeciso. Nunca esteve em cima do muro", disse. "Porque o deputado Marcelo Castro sempre teve lado, e nosso lado é pelo Poder Legislativo."
Espiridião Amin (PP-SC) defendeu o respeito às diferenças no Legislativo brasileiro. "Está na hora de nós deputados sermos menos partidos e mais unidos", disse em discurso no plenário. "Quem for eleito vai cumprir uma missão em um dos momentos mais difíceis do país", acrescentou.
Cada candidato tem 10 minutos para discursar na sessão de eleição, em ordem definida por sorteio. Caso nenhum dos candidatos consiga os 257 votos para vencer no primeiro turno, o segundo turno de votação será realizado com os dois mais votados, na mesma sessão, uma hora após apurado o primeiro resultado.
Orlando Silva (PCdoB-SP), último a discursar, afirmou que a Casa violou a Constituição ao aprovar a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma, em votação realizada no dia 17 de abril. "A Câmara precisa ajuda a restabelecer a normalidade democrática. O que se espera da Câmara é colaborar que nosso país supere uma crise de grandes proporções. A política tem sido fator determinante para o aumento da crise brasileira", declarou. Assim como a também candidata Luiza Erundina. Silva se referiu a Eduardo Cunha como "presidente-réu".
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