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Partidos e empresas negam irregularidades em doações em ano não eleitoral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

29/07/2016 06h00

Os quatro partidos que receberam doações de empresas ligadas a investigação por corrupção em 2015 negaram qualquer irregularidade no recebimento dos recursos. Levantamento feito pelo UOL junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indica que PT, PMDB, PSDB e o Pros receberam R$ 5,2 milhões de empresas ligadas a investigações como as operações Lava Jato, Zelotes, Acrônimo, Caixa de Pandora e o escândalo do mensalão.

Empresas como a Alpargatas (que pertencia à Camargo Corrêa), a Caoa Motors do Brasil, o Banco BTG Pactual, entre outras, fizeram parte do grupo de pessoas jurídicas que fizeram doações a partidos em 2015.

PSDB

De acordo com o levantamento, o partido que mais recebeu recursos de empresas ligadas a essas investigações foi o PSDB, com R$ 2,7 milhões de três empresas: Alpargatas, JC Gontijo Engenharia e Caoa Motors.

A Alpargatas pertencia ao grupo Camargo Corrêa quando fez as doações. A construtora Camargo Corrêa, que pertence ao grupo, é uma das principais investigadas pela Operação Lava Jato.

O dono da JC Gontijo Engenharia, José Celso Gontijo, é réu no processo que teve origem na Operação Caixa de Pandora, que revelou o caso conhecido como mensalão do DEM.

A Caoa Motors é alvo de investigações tanto pela Operação Zelotes quanto pela Operação Acrônimo.

Alpargatas

Procurada pelo UOL, a Alpargatas afirmou que as doações ao PSDB foram feitas após uma solicitação do partido.

"No ano de 2015, a partir de uma solicitação do PSDB, doamos os valores de R$ 600 mil e R$ 900 mil, respectivamente nos meses de março e maio, dentro da mais absoluta legalidade", diz a empresa por meio de nota.

A empresa afirma, ainda, que "todas as contribuições da Alpargatas nunca tiveram por base contrapartidas de agentes políticos" e que a Alpargatas está inserida "em um contexto 100% privado".

JC Gontijo Engenharia

A reportagem do UOL fez cinco telefonemas à JC Gontijo Engenharia, entre os dias 21 e 27 de junho, e foi informada de que a única pessoa autorizada a responder aos questionamentos sobre essa matéria era um senhor identificado como Marcos Arruda, funcionário da empresa.

A reportagem também foi informada de que a única via para contatá-lo era o e-mail. Entre 21 e 27 de junho, o UOL enviou três mensagens ao endereço de e-mail de Arruda repassado pela empresa, mas, até a conclusão desta reportagem, o UOL não obteve resposta.

Caoa Motors

A reportagem questionou o Grupo Caoa sobre, entre outras coisas, quais as razões que levaram a empresa a doar para o partido em período não eleitoral.

Após o contato feito pela reportagem, a assessoria do Grupo Caoa informou que não iria se manifestar sobre o repasse.

PSDB

No dia 22 de junho, a reportagem do UOL enviou um e-mail à assessoria do Diretório Nacional do PSDB questionando a natureza das doações recebidas pela Caoa, JC Gontijo Engenharia e Alpargatas em 2015.

Entre outras coisas, a reportagem questionou se o partido não se sentia constrangido por receber doações de empresas sob investigação. O e-mail com sete perguntas foi respondido no dia posterior da seguinte forma:

"Os recursos foram doados pelas empresas seguindo a legislação à época e foram integralmente utilizados para pagar despesas correntes de manutenção de atividades partidárias e para liquidação de dívidas de campanhas eleitorais".

PMDB e BTG

Entre os dias 21 e 22 de junho, a reportagem do UOL enviou quatro e-mails para a assessoria de comunicação do PMDB questionando, entre outras coisas, a destinação dos recursos doados pelo Banco BTG Pactual e pela Globenet Cabos Submarinos, empresa que foi comprada pelo Grupo BTG em 2013, e se o partido não se sentia "constrangido" por receber doações de uma empresa investigada pela Operação Lava Jato. Até a conclusão desta reportagem, o PMDB não respondeu aos questionamentos feitos.

Procurado pela reportagem do UOL, o banco BTG Pactual disse, por meio de nota, que "apoiou candidatos e partidos políticos levando em conta, principalmente, a importância histórica das siglas e de seus representantes". A nota afirma que "o banco enfatiza que todas as contribuições foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral, são públicas e seguem rigorosamente a legislação eleitoral brasileira".

Também questionada pelo UOL, a Globenet afirma que "cumpriu rigorosamente todas as determinações da legislação eleitoral brasileira. Portanto, as contribuições feitas pela empresa foram devidamente declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral e são públicas".

PT, BMG e Grupo Schahin

Procurado pela reportagem do UOL, o PT afirma que a doação que recebeu do BCV (ex-banco Schahin) foi legal e feita "quando o partido ainda recebia doações de pessoas jurídicas". O partido decidiu não aceitar mais doações empresariais em abril do ano passado. O PT afirmou ainda que o dinheiro foi usado para "a manutenção das atividades partidárias".

O BMG, dono do BCV, disse que toda doação ao PT foi legal e feita com "absoluta transparência". Em nota, o BMG afirmou ainda que "só responde pelas atividades do Banco Schahin (atual BCV) após a data de sua aquisição".

Pros

Questionado pela reportagem do UOL sobre a natureza das doações, o partido afirmou, por meio de nota, que elas foram legais e que o dinheiro foi "utilizado dentro do planejamento orientado para o ano de 2015 e 2016, que se configurou em aumentar a presença partidária no país".

O Pros também negou constrangimentos por receber recursos de uma empresa investigada durante a Operação Caixa de Pandora. "Nem sequer temos qualquer relação com a operação citada", disse.

Como citado anteriormente, a JC Gontijo Engenharia não respondeu aos pedidos de informações feitos pela reportagem do UOL.

Correção: Diferentemente do que foi dito inicialmente, não é o grupo Camargo Corrêa que está sendo investigado na Operação Lava Jato, mas sim a construtora Camargo Corrêa, que é controlada pelo grupo.