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MPF vê propina em mais duas obras e sinaliza novas denúncias contra Cabral

A denúncia aponta que houve pagamento de propina para quitar dívidas da reforma do Maracanã para os Jogos Pan-Americanos de 2007 - Ricardo Moraes/Folhapress
A denúncia aponta que houve pagamento de propina para quitar dívidas da reforma do Maracanã para os Jogos Pan-Americanos de 2007 Imagem: Ricardo Moraes/Folhapress

Gustavo Maia e Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio

07/12/2016 10h14Atualizada em 07/12/2016 12h25

Aceita pela Justiça Federal na terça-feira (6), a denúncia oferecida pelo MPF (Ministério Público Federal) no Rio de Janeiro não deve ser a única contra a quadrilha supostamente comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Além dele, outras 12 pessoas se tornaram réus, entre elas a mulher de Cabral, a advogada Adriana Ancelmo, que se entregou à Justiça no fim da tarde e está presa por tempo indeterminado.

“As investigações prosseguem. E oportunamente, outras denúncias podem ser oferecidas”, declarou o procurador da República Lauro Coelho Júnior, em entrevista coletiva no MPF nesta quarta (7).

Apresentada como "o resultado de parcela significativa da investigação", a denúncia derivada da Operação Calicute aponta suspeitas de irregularidades relacionadas a duas outras obras, que não constavam inicialmente no pedido de prisão de Cabral, feito em novembro.

Segundo o MPF, houve pagamento de propina da construtora Andrade Gutierrez para quitar dívidas do Governo do Estado com a reforma do estádio do Maracanã para os Jogos Pan-Americanos de 2007 e a construção do "Mergulhão de Caxias", uma passagem subterrânea de pedestres sob a linha férrea em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

“Considerando o tamanho e a complexidade da atuação da organização criminosa comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral, no presente momento da investigação, foram produzidas e analisadas provas suficientes ao oferecimento de uma primeira denúncia, englobando, além da imputação de crime de pertinência a organização criminosa, os crimes de corrupção praticados em torno da atuação da Andrade Gutierrez", informam os procuradores da República que assinam a denúncia.

Antes, já haviam sido citadas a renovação do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, a construção do Arco Metropolitano e o chamado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal) das favelas.

"Essa denúncia engloba apenas uma parcela da investigação, que se revelou madura para permitir uma imputação, até porque há réus presos preventivamente. E há a necessidade de que haja uma acusação formal em relação a eles", acrescentou Coelho Júnior.

Procurado pelo UOL, o Governo do Estado não havia se pronunciado até a publicação da reportagem e informou que a responsabilidade seria da Secretaria de Obras --que também foi questionada e não se posicionou. As investigações foram conduzidas pelo MPF e a Polícia Federal, com o apoio da Receita Federal.

Planilha

As referências às obras aparecem em planilha apresentada pelo ex-gerente comercial da Andrade Gutierrez, que fechou acordo de delação premiada com a Justiça.

O controle contábil tem títulos codificados para disfarçar o "conteúdo ilícito" e é considerado pelo MPF "prova fidedigna dos crimes de corrupção", "apesar de ter sido apresentada por um colaborador".

Procurada pelo UOL, a Andrade Gutierrez não quis se pronunciar sobre a denúncia no MPF.