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"Achava ele um sujeito sem graça", diz Cabral sobre operador que virou delator

Hanrrikson de Andrade e Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

07/12/2017 18h21

Em resposta ao depoimento de Carlos Miranda, que afirmou ser o responsável por organizar a contabilidade das propinas recebidas por Sérgio Cabral (PMDB), o ex-governador do Rio de Janeiro disse nesta quinta-feira (7) que sequer tinha relação pessoal com o operador, que definiu como um mero empregado.

“Achava ele [Miranda] um sujeito sem graça, casado com a minha prima. Nunca frequentou Mangaratiba!”, disse, referindo-se à mansão que ele e a família mantêm na cidade da costa verde fluminense, apontada como um dos locais em que os valores de propina eram acertados entre políticos e empresários.

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Apontado como o principal operador financeiro de Cabral no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato no Estado, Miranda teve o acordo de delação premiada com o Ministério Público homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A informação foi confirmada pelo próprio Miranda em audiência com o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, realizada nesta quinta-feira (7).

“Carlos Miranda jamais participou de nenhuma reunião minha com empresários. Também nunca dei satisfação a ele da logística dos meus acordos políticos que muitas vezes ele cumpria”, disse Cabral. “Ele recebia um salário. Chega a dar pena”, completou.

O ex-governador disse que Miranda mentiu. Essa é a primeira vez que alguém tão próximo ao ex-governador depõe como colaborador da Justiça. Até o começo de novembro, ele havia permanecido em silêncio durante todas as audiências de que participou.

Segundo Miranda, o próprio Cabral e seu ex-secretário Wilson Carlos discutiam diretamente as propinas com os empresários. O operador reafirmou ainda que Cabral cobrava 5% de propina em cima de cada contrato das empresas com o governo.

O acordo de delação premiada pegou de surpresa a defesa do ex-governador, que chegou a pedir a Bretas que Miranda tivesse o depoimento desta quinta adiado, pedido negado pelo magistrado. Bretas argumentou que a nova condição de delator do réu não afetava o interrogatório.

A audiência desta quinta-feira diz respeito à ação penal derivada da Operação Ratatouille, que revelou a existência de um esquema de cobrança e pagamento de propina em relação a contratos do governo do Estado com fornecedores do setor de alimentos. Além de Cabral, foram denunciados Carlos Miranda, Luiz Carlos Bezerra (operadores financeiros) e o empresário Marco de Luca. O MPF afirma que Luca pagou R$ 16,7 milhões em vantagens ilícitas entre 2007 e 2016.