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'Caixa 2 sempre foi a alma do sistema político', diz ex-marqueteiro do PT

O publicitário João Santana concedeu sua primeira entrevista nesta noite (26/10) desde a sua prisão, em 2016 - Reprodução/TV Cultura
O publicitário João Santana concedeu sua primeira entrevista nesta noite (26/10) desde a sua prisão, em 2016 Imagem: Reprodução/TV Cultura

Do UOL, em São Paulo

26/10/2020 22h28Atualizada em 26/10/2020 23h58

O publicitário João Santana, responsável por campanhas presidenciais do PT em 2006, 2010 e 2014, afirmou na noite de hoje, no programa Roda Viva, que a prática do caixa dois é a "alma do sistema eleitoral brasileiro". A entrevista foi a primeira concedida por Santana desde 2016, quando foi preso em operação da Lava Jato.

O caixa dois não foi uma unha encravada no sistema político brasileiro. O caixa dois foi sempre a alma do sistema eleitoral brasileiro, era uma coisa geral, especifica, poucos foram punidos
João Santana

Santana afirmou que a prática era tão consentida no país que "criou-se uma sensação de normalidade" e ainda questionou: "A imprensa não sabia do caixa dois? Sabia!"

A questão não é nem o dinheiro, a questão é a ânsia de vencer, formar um cabedal de vitórias que ninguém na minha geração vai alcançar
João Santana

'Não tinha ideia'

Apesar do acordo de delação premiada com a Justiça, no qual relatou e confirmou as práticas de ilicitudes, Santana declarou que não sabia a origem do dinheiro.

Eu não tinha a menor ideia do esquema tão forte e tão desorganizado. Estou contando, relatando
João Santana

O publicitário também criticou a Lava Jato ao afirmar que poucos foram punidos pela questão ilícita envolvendo campanhas eleitorais. Para ele, trata-se de mexer na estrutura eleitoral e não apenas condenar alguns casos.

Uma pergunta técnica: não seria muito mais importante para a purificação, reorganização do sistema eleitoral brasileiro se a Lava Jato, quando descobrisse um caso de caixa dois da magnitude do nosso caso, tivesse organizado e mandado para a procuradoria-geral da República e pedisse que ela, junto com TSE, fizesse uma grande força tarefa no Brasil para examinar do que centralizado? Pelo próprio escopo da Lava Jato, o Brasil perdeu uma oportunidade de eliminar isso profundamente
João Santana

'Uso até hoje a tornozeleira'

Santana foi preso em 2016 e liberado para cumprir "regime fechado diferenciado" em casa e com tornozeleira eletrônica após fechar o acordo de delação com o STF (Supremo Tribunal Federal).

Ele afirmou na entrevista que progrediu para o regime aberto, recebeu autorização para trabalhar e que só não pode sair de casa aos finais de semana.

Questionado se precisava de autorização judicial para conceder a entrevista à TV Cultura, o publicitário afirmou que não era necessário por ser algo relacionado ao trabalho.

Menos sábado e domingo, posso sair para trabalho sempre. Não preciso [de autorização para entrevista], porque isso tem relação com o trabalho. Tudo que tem relação com o trabalho você pode fazer e depois comunicar ao juiz
João Santana

O marqueteiro na Lava Jato

O publicitário João Santana foi acusado, junto de sua mulher, Mônica Moura, de participação em esquema de corrupção envolvendo contratos ilícitos da Odebrecht e da Petrobras que teriam beneficiado o PT.

Os dois foram condenados a sete anos e seis meses de prisão por diversos crimes de lavagem de dinheiro. Ambos tiveram as penas substituídas por 160 dias de prisão em regime fechado após fecharem acordo de delação premiada, homologado pelo STF.

O casal admitiu, em mais de uma ocasião, o uso de caixa dois — prática de pagamentos não declarados ao fisco.