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Presidente da Palmares diz que retirará Marighella de acervo: lixo marxista

O presidente da Palmares, Sérgio Camargo, anunciou a exclusão de obras de Marighella e Che Guevara do acervo da Fundação - Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente da Palmares, Sérgio Camargo, anunciou a exclusão de obras de Marighella e Che Guevara do acervo da Fundação Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colaboração para o UOL

24/05/2021 20h50Atualizada em 25/05/2021 07h23

O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, usou as redes sociais para anunciar que Carlos Marighella será "excluído" do acervo da fundação. Camargo se referiu a ele como "marginal comunista" e "lixo marxista", e afirmou que os textos deveriam ser banidos. Também disse que serão removidas obras relacionadas a Che Guevara.

"A esquerda precisa parar de empurrar estas tranqueiras comunistas para cima dos pretos. Não queremos, muito menos precisamos, de lixo marxista!", escreveu


A declaração acontece duas semanas após um vazamento do filme "Marighella", dirigido por Wagner Moura, e que ainda não foi lançado no Brasil. Camargo também usou seu perfil nas redes sociais para atacar o ator e diretor.

Segundo Camargo, o Relatório Público sobre o acervo cultural da Fundação está na fase final, e a decisão foi tomada porque o local não é "lata de lixo da esquerda caviar". Disse, ainda, que os livros serão doados e perguntou se há interessados. Segundo o presidente da Palmares, uma estante será reservada aos "livros comprobatórios". Assim, aqueles que quiserem conferir terão acesso ao chamado "Cantinho do Comunismo".

Em outro post, também no Twitter, Sérgio Camargo comparou Marighella a Marcola - tido como principal líder do do PCC (Primeiro Comando da Capital). De maneira irônica questionou se não seria "a mesma coisa" e perguntou o motivo de "tanta perseguição a esses doces de pessoas".

Carlos Marighella foi um dos maiores símbolos da luta política contra a ditadura iniciada no Brasil com o golpe militar de 1964. Considerado o "inimigo número 1 da ditadura", fundou a organização clandestina ANL (Aliança Libertadora Nacional) e instaurou a guerrilha urbana durante o período mais violento da história contemporânea do país —os chamados "anos de chumbo" (1964 a 1979).

Entre outros atos, a ALN participou de roubos a bancos e do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969.

Marighella foi perseguido e preso várias vezes, torturado e morto a tiros, em uma emboscada policial, pelo regime militar em 1969.

Retirada de homenagens a negros

Na gestão Sérgio Camargo, a Palmares já tentou retirar os nomes de personalidades negras de uma lista de homenagem no site da Fundação. Segundo o presidente, pessoas como Gilberto Gil, Milton Nascimento, Martinho da Vila, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o transformista João Francisco dos Santos, conhecido como Madame Satã, não merecem o reconhecimento.

A Justiça Federal do Distrito Federal, no entanto, barrou a mudança na lista. A exclusão de mais de 20 nomes, feita no ano passado, foi revertida em decisão liminar após uma ação popular movida pelos advogados Marivaldo Pereira e Ana Paula de Freitas, da Rede Liberdade, grupo que atua em casos de violações de direitos e liberdades.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado em uma versão anterior deste texto, destacado pela Home-page do UOL, Carlos Marighella não participou do sequestro do embaixador americano. Quem se envolveu na ação foi Joaquim Câmara Ferreira, considerado o número 2 no comando da ALN. A informação oi corrigida.