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Com três meses no cargo, Bolsonaro já reclamava sobre ser presidente

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto - GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto Imagem: GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

15/10/2021 12h11Atualizada em 15/10/2021 20h19

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reclamou mais uma vez sobre a dificuldade que é ser presidente da República. Em um evento em uma igreja evangélica, ontem, ele disse chorar no banheiro do Palácio da Alvorada sem que a mulher, Michelle, veja.

"O que me faz agir dessa maneira [chorar no banheiro]? Eu não sou mais um deputado. Se ele errar um voto, pode não influenciar em nada. Um voto em 513. Mas uma decisão minha mal tomada, muita gente sofre. Mexe na bolsa, no dólar, no preço do combustível", lamentou.

Não é a primeira vez que o presidente reclama do cargo que ocupa. Desde o primeiro ano de mandato, Bolsonaro mostra insatisfação com a cadeira em declarações a apoiadores e interlocutores —ainda assim, já deu pistas de que não pretende deixar a Presidência tão cedo.

Em abril de 2019, pouco mais de três meses depois de assumir o mandato, Bolsonaro fez uma espécie de mea culpa para tratar das dificuldades e disse que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar.

Às vezes me pergunto, meu Deus, o que fiz para merecer isso? É só problema.
Abril de 2019, no Palácio do Planalto

Após um mês, em entrevista à revista Veja, ele voltou a reclamar sobre a função, dizendo que está "faltando o mínimo de patriotismo para algumas pessoas que decidem o futuro do Brasil".

Já passei noites sem dormir, já chorei pra caramba também.
Maio de 2019, em entrevista

Eleito com o discurso de rejeitar um segundo pleito, ele diz oficialmente que não sabe se vai disputar o cargo de novo —embora já tenha entrado em contradições. Em entrevista a uma rádio de São Paulo, em julho deste ano, ele colocou a proposta em xeque.

Eu não me lancei, ainda não sei se vou ser candidato.
Julho de 2021, em entrevista

A indicação bate, no entanto, com os questionamentos que o presidente tem feito sobre as urnas eletrônicas. Um dia antes da entrevista, ele teria adicionado um detalhe à resistência de se reeleger a interlocutores: não sabe se será candidato se o sistema seguir eletrônico.

Ele voltou a tratar disso em agosto. Durante uma inauguração em Mato Grosso, o presidente, que diz ser contra vitimismos, mais uma vez lamentou as dificuldades do cargo e disse que na Presidência "a barra é pesada" e "tem que ter couro grosso".

Tem muita gente melhor do que eu por aí. Não faço questão de ser presidente.
Agosto de 2021, no Mato Grosso

Apesar das lamentações e indicações, é consenso em Brasília que Bolsonaro tentará a reeleição. Ele tem rodado o país em eventos voltados a apoiadores, como as motociatas. Ele ainda precisa, no entanto, filiar-se a algum partido.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.