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Sem Datena, novo partido se irrita com Kassab e vê PSD sem ideologia

Filiação de Datena gerou críticas no União Brasil contra o PSD de Kassab - Arquivo - Avener Prado/Folhapress
Filiação de Datena gerou críticas no União Brasil contra o PSD de Kassab Imagem: Arquivo - Avener Prado/Folhapress

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

04/11/2021 04h00

O anúncio da filiação do jornalista José Luiz Datena ao PSD surpreendeu o União Brasil, que ficou irritado com a sigla do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab. No partido —que será criado a partir da fusão entre PSL e Democratas—, não faltam críticas ao PSD, visto como sem lado e "bloco eleitoreiro", sem ideologia.

Interlocutores do União ouvidos pela reportagem, em tom de irritação, disseram que o PSD não sabe para qual lado vai enquanto o novo partido tem clareza de ser "centro-direita liberal". A crítica é ao fato de o partido de Kassab ter alianças com o PT em alguns estados e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em outros.

Embora surpresos com a saída de Datena —que não foi comunicada pelo jornalista antes do acerto com o PSD—, membros do União Brasil dizem que é melhor que se desligue agora do que amanhã, e que o novo partido não quer correr risco de colocar uma "fraude" no Senado, no governo e "muito menos presidente", em referência aos descontentes com a fusão.

Apesar das críticas sobre o que seria a ideologia do partido de Kassab, desde seu surgimento, em 2011, uma característica do PSD é ser governista. Procurado pela reportagem, Kassab não quis comentar as declarações de membros do União Brasil.

Em conversa com o UOL no mês passado, a coordenadora do PSD Mulher, Alda Marco Antônio, disse que, em um país continental como o Brasil, não se pode "traçar uma regra única de norte a sul, de leste a oeste". "Existem particularidades. E um partido de centro, como é o PSD, pode pender para esquerda em um momento, para a direita em outro."

Novos membros

Além de Datena, que estava filiado ao PSL desde julho, o PSD também trouxe o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que era membro do Democratas. Os dois são personagens que deverão ter impacto na disputa eleitoral de 2022.

O jornalista, que seria presidenciável no PSL, agora será candidato ao Senado pelo PSD, gerando um palanque de candidatura majoritária para o partido em São Paulo. A disputa pela vaga de parlamentar era o principal desejo de Datena desde o princípio.

Ele estava descontente com o PSL em razão das conversas do partido com outros possíveis candidatos a presidente. Foi do PSL a ideia de tê-lo como presidenciável. O jornalista chegou a dizer ao UOL que eles têm "uma ética diferente". A fala foi rebatida pelo União Brasil, que disse que Datena poderia ser candidato se conseguisse se viabilizar a partir dos resultados nas pesquisas.

Já Pacheco é tido como possível candidato a presidente —mas, nos bastidores, outros partidos já especulam que essa provável candidatura seria usada como moeda de troca em busca de alianças. Aventa-se até o cenário em que o PSD ocuparia a posição de vice na chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O PSD garante que não, que terá candidato ao Planalto, seja Pacheco ou outro integrante do partido caso o presidente do Senado não queira.

E é a característica natural do partido que mais motivou as críticas ao PSD dentro do União Brasil. A referência é a alianças, por exemplo, com o PT na Bahia. Sendo que, ao mesmo tempo, o PSD tem apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como o governador do Paraná, Ratinho Júnior. Além disso, em São Paulo, o PSD integra o governo de João Doria, com o secretário da Fazenda Henrique Meirelles —que será candidato a senador por Goiás.