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Criança que tomou injeção em UPA e quase perdeu a perna ainda corre risco de ter dedos amputados

Rodrigo Teixeira

Do UOL, no Rio

04/12/2012 13h18

O menino Luiz Miguel da Silva, 4 anos, quase perdeu a perna e ainda corre risco de perder dois dedos do pé depois de ter recebido uma injeção de antibiótico para dor de garganta no mês passado na UPA ( Unidade de Pronto Atendimento) de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Segundo a família da criança, o medicamento foi aplicado de forma errada.

Em entrevista ao UOL, a mãe do garoto, a dona de casa Angélica da Silva Amorim, 23 anos, conta que havia levado o filho pela segunda vez à UPA porque a criança tinha dor de garganta e os remédios receitados antes não tinham resolvido o problema. Os médicos decidiram, então, dar o antibiótico. "Ele tomou a injeção na parte direita do bumbum. A partir disso, começou a passar mal, sentia dor na barriga e na perna e, depois de um tempo, quase não conseguia ficar em pé", relata.

"Chegaram a dizer que meu filho estava fazendo manha”, lembra a mãe, que já observava sinais estranhos, como a mudança de cor, na perna do garoto.

Segundo Angélica, seu filho ficou em observação na unidade e, depois, foi liberado. “Me disseram que não podiam fazer nada, e que era melhor eu procurar uma emergência. A essa altura a batata da perna do meu filho já estava quase roxa e um pouco gelada", conta a mãe, que decidiu levar o menino para o hospital Adão Pereira Nunes (Saracuruna), em Duque de Caxias.

Ao chegar no hospital, no dia 2 de novembro, Angélica recebeu a informação que seu filho não tinha nada muito grave e que ela deveria aguardar o cirurgião vascular. “Chegaram a dizer que o caso do meu filho não era emergência, mas quando a cirurgiã vascular chegou, disse que teria que operá-lo assim que o viu, caso contrário ele poderia até perder a perna", afirma. A médica disse à mãe que o sangue não estava circulando em parte da perna da criança. 

A mãe enfatiza que o caso de seu filho não foi de reação alérgica, ao contrário do que lhe foi dito, mas uma lesão vascular decorrente da aplicação incorreta do antibiótico na UPA. “Aqui no hospital de Saracuruna me disseram que lá na UPA atingiram uma artéria ou veia do meu filho", diz. O medicamento usado em Lujiz Miguel só pode ser aplicado dentro do músculo.

O menino ficou 25 dias no Centro de Terapia Intensiva, até segunda-feira passada. "Durante a cirurgia que fizeram nele, foi retirada pele necrosada, que estava com mal cheiro, para que o sangue pudesse circular. Um milagre ele ter sobrevivido”, conclui a mãe.

Risco de amputação

A criança terá que passar por duas novas cirurgias. “Ele vai precisar de enxerto na batata da perna, na nádega direita e na coxa porque perdeu tecido muscular na operação", afirma a mãe. O outro procedimento será feito para verificar a mobilidade dos dedos -  dois deles estariam necrosados. "Espero que não sejam amputados. Já escutei neste hospital que uma perna e dois dedinhos não são nada, mas como eu vou explicar isso para meu filho, que tem só 4 anos?"

"Ele fala que quer ganhar uma bicicleta de Natal", comenta a mãe, que fica em período integral com Luiz Miguel no hospital. O marido, explica ela, teve que abandonar o trabalho de ajudante de serralheiro para cuidar da outra filha, de 2 anos. "Estamos vivendo com ajuda de amigos e parentes."

Sindicância

A Secretaria Municipal de Saúde de São João de Meriti informa que abriu sindicância para investigar o caso e diz que acompanha o desenvolvimento do quadro clínico da criança. A secretária, Patricia Coelho, informou que aguarda o relatório médico final sobre o diagnóstico e a evolução do quadro clínico da criança.

Se for comprovado erro no procedimento ou omissão, os responsáveis serão punidos, diz a pasta. 

A reportagem do UOL entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), que informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o caso está em analise, mas que até o momento a entidade ainda não foi notificada e não recebeu nenhuma denúncia sobre a história de Luiz Miguel.