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Greve de servidores fecha emergências em Santa Catarina

Valdinei e Rogério Espindola, com o filho Henrique no colo, aguardam atendimento na portaria do ambulatório Carlos Gomes Bastos, em Florianópolis - Renan Antunes de Oliveira/UOL
Valdinei e Rogério Espindola, com o filho Henrique no colo, aguardam atendimento na portaria do ambulatório Carlos Gomes Bastos, em Florianópolis Imagem: Renan Antunes de Oliveira/UOL

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis (SC)

19/11/2012 15h45

A greve dos servidores dos hospitais públicos de Santa Catarina já dura um mês, provocando caos no atendimento à população em Florianópolis, Joinville e Lages, cidades onde é maior a adesão – ela cresceu muito na semana em que os catarinenses se preocuparam mais com a inédita onda de violência no Estado.

Segundo o SindSaúde, sindicato dos trabalhadores, 90% do pessoal (exceto médicos) está paralisado na capital, provocando fechamento dos setores de emergência em dois hospitais pediátricos e um de cardiologia.

O superintendente da Secretaria da Saúde Valter Gomes disse que não há clima para entendimento. "O governo do Estado não negocia com a faca no peito, só vamos conversar quando a greve terminar."

Espera

Nesta segunda-feira (19), às 11h, Elenice Pereira já esperava por cinco horas atendimento para o neto Francisco no ambulatório de oncologia pediátrica Carlos Bastos Gomes, no complexo do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis. "A saúde morreu", afirmou Elenice, queixando-se da espera. Ela é de Joinville, 180 quilômetros ao norte da capital, e havia viajado a madrugada inteira. O neto dela sofre de um raro tipo de câncer no sangue, de baixa letalidade quando bem tratado.

No mesmo local, Rogério Espindola e a mulher, Valdinei, buscavam atendimento para Henrique, portador de leucemia. O menino dava sinais de fraqueza e estava muito abatido, depois de quatro horas de espera num banco do lado de fora da instituição.

Pouco depois, no hospital Carmela Dutra, referência em atendimento materno-infantil do Estado, cerca de 30 grávidas aguardavam na fila por consultas médicas, sem saber quando seriam atendidas 

A falta de pessoal de apoio em muitos casos inviabiliza o atendimento pelos médicos. "O que é que eu posso fazer se não dá para pedir um exame, ou encaminhar um simples raio-x?" A pergunta é de uma médica que não quis ter seu nome divulgado "para não me incompatibilizar com gente que amanhã ou depois vai voltar ao trabalho comigo".

Polícia

Ricardo Samways, diretor da maternidade, radicalizou. Na sexta-feira (16), depois que a UTI neonatal com 13 bebês ficou sem nenhum funcionário, ele chamou a polícia. E  registrou um boletim de ocorrência contra os funcionários do turno da noite, por "abandono de incapaz" - situação na qual se enquadra quem é encarregado da uma enfermaria infantil.

Nada de ruim aconteceu com  as crianças da unidade. O diretor Samways disse que "isto só foi possível porque a direção do hospital chamou uma força de enfermeiras de reserva, para substituir os grevistas. O que este pessoal quer? Que alguma criança morra?".

Sobre os problemas na UTI do Carmela Dutra, um dirigente sindical explica o impasse: "Nós mantínhamos um piquete lá na porta. Quando era necessário, nosso pessoal ia ajudar, para que os pacientes não sofressem. Mas, quando a Justiça [na última quinta-feira] determinou que os grevistas ficassem a 200 metros da portaria, tivemos que nos afastar. A culpa é da insensibilidade do governo".

Segundo o SindSaúde, os grevistas querem a criação de uma gratificação "idêntica àquela que o Estado paga aos servidores da Secretaria da Fazenda" - para enfermeiros ela seria de R$ 1.730,00 para quem tem ensino médio e de R$ 2880,00 para os de cursos superior.

A direção do sindicato afirma que um técnico de enfermagem ganha R$ 930 mensais, por 30 horas semanais. Uma escala de plantão com horas extras aumenta o salário. O governo quer cortar as extras e manter a mesma jornada. "Vamos ganhar a mesma coisa para trabalhar mais", reclama uma enfermeira enquanto jogava cartas com colegas grevistas, no principal acampamento deles, na rótula do Hospital Infantil Joana de Gusmão.

Outra reclamação da categoria é com a nomeação de 611 concursados pela Secretaria de Saúde para o Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis, em 28 de agosto. "Mesmo com a entrada deste pessoal em serviço, as condições continuam precárias. Mas o governo piora as coisas, pois o pagamento do salário deles vai se dar com o enxugamento da folha salarial dos que estão trabalhando", afirma o representante sindical no Hospital Celso Ramos (ele não dá o nome temendo represálias da administração).

Segundo Valter Gomes, a Secretaria da Saúde ainda não fechou a folha de pagamento do mês de novembro. "Mas na certa vamos cortar o ponto dos grevistas, ninguém pode ganhar horas extras sem trabalhar."

Quanto às denúncias contra servidores à polícia ele disse que se justifica porque "o que estão fazendo é um crime". Gomes disse ainda que "a Justiça determinou que eles (os grevistas) mantenham 75% dos postos preenchidos, mas eles não estão fazendo isto".