Me chamo Marina, tenho 37 anos recém-feitos. Até os meus 33 anos, fazer aniversário dava aquele misto de "que feliz, festa!", com "ai, meu Deus! Estou ficando velha..." Mas, aos 33 anos, senti um nódulo na mama que mudou minha vida. Descobri que estava com câncer de mama. E naquela idade em que todo mundo está sendo mãe, curtindo o crescimento profissional, eu levei aquele baque: somos mortais! Isso eu sempre soube. E convivo de perto com a morte. Sou médica e ao ler aquele diagnóstico com palavrões estranhos, sabia bem o que eles queriam dizer. Mas não comigo, né? Poxa, sempre fui uma pessoa tão legalzinha. Será que foi por que xinguei aquele moço no trânsito? Será que peguei o lanche do meu colega no colégio? Ou por que acabei com aquele namorado?

Por que eu? Porque acontece com qualquer um. E aos montes todos os dias. Mas ver que é com a gente (ou com quem a gente ama!) dói. Dói muito. Chorei toda a água que deve estar faltando em São Paulo. Mas tinha que encarar e fui em frente. Era para tirar um peito? Ficar careca? Vamos embora. É ele ou eu. E eu sou mais eu. E valeu a pena. Fiz o tratamento (cirurgias, quimioterapia e hormonioterapia). Sofri, chorei, enjoei. Mas cresci muito enquanto pessoa. Não reclamo mais de coisas pequenas. Minha visão do que realmente importa na vida mudou substancialmente. Virei uma pessoa melhor. Me tornei uma médica mais completa.

Agradeço por ter tido isso? Nunca. Mas, o que não tem jeito, remediado está. E o câncer, ainda bem, tem remédio. Se você está começando o tratamento, força! Não desista. E olhe como o céu azul é azul, o barulho de chuva é gostoso e como aquela bolsa daquela marca não faz a menor falta no seu armário.  Vai dar tudo certo. Para mim está dando há três anos e "uns quebrados". Faltam quase dois anos de uma injeção e um comprimido, mas a força que descobri estar dentro de mim só aumenta a certeza de que vai ficar tudo bem. E com você também. 

Cabelo cresce, a vida volta ao normal e você vai curtir ainda mais tudo o que a vida oferece!