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ITA dispensa alunos apesar de Defesa minimizar risco de covid-19 em escolas

Drone construído pelo IME: instituição do Exército também liberou estudantes - Divulgação/Governo do Estado
Drone construído pelo IME: instituição do Exército também liberou estudantes Imagem: Divulgação/Governo do Estado

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

27/03/2020 20h55

Resumo da notícia

  • Ministério afirma não haver de risco à saúde alunos de academias militares
  • Mas parte delas resolveu suspender aulas e dispensar estudantes
  • Os exemplos são ITA, IME e Colégio Militar de Recife
  • Há queixa se pais de alunos na Academia Militar das Agulhas Negras
  • Instituição divulgou vídeo com cadetes dizendo tomar medidas de segurança

Apesar da "plena convicção" que o Ministério da Defesa afirma ter de que alunos de unidades de ensino militares podem continuar estudando sem risco de contrair coronavírus, parte das instituições tem dispensado os alunos e suspendido as aulas presenciais. O ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), em São José dos Campos (SP), é um deles.

As aulas foram suspensas por 30 dias. O ITA mandou 600 alunos de volta para casa. "Fizemos um esforço conjunto para enviar às suas casas, em segurança, nossos cerca de 600 alunos da graduação que residem no campus", informou o reitor Anderson Ribeiro Correia, em uma nota divulgada na quarta-feira (25).

Como mostrou o UOL na terça-feira (24), várias academias militares mantêm estudantes "confinados" e não os permitem retornar às suas famílias apesar dos decretos dos estados e prefeituras para suspender as aulas. Dois dias depois, o Ministério Público Federal deu prazo de cinco dias para o governo federal explicar a "não suspensão das aulas presencias e de outras atividades em instituições de ensino subordinadas ao Ministério da Defesa, durante o período de calamidade pública decretado".

Na mesma terça-feira (24), o Ministério da Defesa divulgou nota afirmando que "tem plena convicção de que a permanência dos militares nos cursos, em regime de internato, não representa risco à saúde desses alunos, permitindo sim maior preservação da saúde do grupo".

Além do ITA, o UOL apurou que as aulas foram suspensas no IME (Instituto Militar de Engenharia), que funciona em regime de internato, e no Colégio Militar de Recife, controlado pelo Exército. A reportagem pediu ao Ministério da Defesa, há dois dias, a lista de unidades que suspenderam aulas e dispensaram alunos, mas a pasta não revelou a informação.

"De maneira geral, os cursos de formação, que são normalmente conduzidos em caráter de internato, permanecem em andamento", disse o ministério na tarde de hoje.

No IME, no Rio de Janeiro, as aulas estão suspensas pelo menos desde o início da semana. No Colégio Militar de Recife, os alunos de ensino fundamental e médio estão em casa e assistem às aulas pela internet.

Como mostrou o UOL, na Escola de Aprendizes de Marinheiros de Santa Catarina (EAMSC), os alunos seguem em internato e proibidos de voltarem para suas casas. Eles tiveram contato com um navio e, dias depois, alguns acabaram internados com suspeita de coronavírus. A embarcação possui ao menos duas pessoas com a doença.

Pais e amigos reclamaram da situação de seus filhos na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Com medo de represálias, a comunidade escolar relatou apreensão de não ter como pedir o retorno a seus lares. Três dias depois da reportagem, a Aman divulgou hoje um vídeo exibindo alguns cadetes dizendo que estão tomando medidas de segurança: "Fiquem em casa por nós".

ITA busca proteger alunos e manter atividades, diz reitor

Na quarta-feira, o reitor do ITA, Anderson Costa, disse que a instituição segue "orientações do Ministério da Saúde e do Ministério da Defesa, no sentido de minimizar a exposição ao vírus de nossos alunos, professores, servidores, militares e colaboradores". Ao mesmo tempo, a instituição busca "preservar ao máximo nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão, com os recursos hoje existentes em termos de plataformas digitais e atividades de teletrabalho".

As aulas de graduação foram suspensas por um mês. Se esse prazo for estendido, os cursos serão feitos com tecnologia de educação à distância, já utilizada nos cursos de pós-graduação.

Segundo a instituição, a Associação de Engenheiros do ITA ajudou os alunos comprando passagens para que eles voltassem para suas casas. Um grupamento militar forneceu refeições para "os poucos alunos que permaneceram alojados".

Os laboratórios do ITA estão à disposição para enfrentar a pandemia, como "possível manutenção de ventiladores mecânicos", esclareceu o reitor.

Ministério diz que tem compromisso com a saúde

Em nota, o Ministério da Defesa disse ao UOL que "reitera o compromisso das Forças Armadas com a preservação da saúde de seus integrantes e com a manutenção da sua capacidade de combate, especialmente diante do desafio atual da pandemia da covid-19".

"Deste modo, os diversos estabelecimentos de ensino das Forças Armadas, observando sempre as diretrizes do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), tem adotado procedimentos compatíveis com seus respectivos cursos", afirma a nota, enviada na tarde de hoje.

A pasta ainda afirmou que entende que não desobedece à legislação de estados e prefeituras para manter o isolamento contra a pandemia. Isso porque avalia que não se submete às regras das escolas regulares.