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Médico que ficou 35 dias internado passou por traqueostomia e teve delírios

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

20/04/2020 14h42Atualizada em 20/04/2020 20h12

Após ficar 35 dia s internado em um hospital particular na zona norte do Rio, o professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e nefrologista do Hupe (Hospital Universitário Pedro Ernesto), Édison Souza, teve alta no fim de semana e estima que vai precisar de pelo menos mais um mês para se recuperar totalmente dos efeitos da covd-19.

O médico foi um dos primeiros casos de coronavírus diagnosticado em profissionais de saúde. Ele disse ao UOL que durante a internação precisou ficar duas semanas em coma induzido, passou por hemodiálise, traqueostomia e teve delírios ao acordar. "O exame de raio-x do meu pulmão foi uma coisa horrorosa. Alguma coisa não deixava o ar chegar nos alvéolos e a traqueostomia foi necessária", afirmou.

Eu não desejava morrer, mas tinha dias que o sentimento era querer sumir de onde eu estava, do quadro [de saúde] que eu estava. A sensação era que alguém precisava aparecer e me tirar daquela situação
Édison Souza, médico e professor da Uerj

De acordo com o médico, a ventilação mecânica só poderia ser estendida por 14 dias para não provocar necrose no tecido da traqueia. Ao acordar, ele disse teve delírios. Primeiro, achou que estava na Bahia ao lado de cantores famosos e depois chegou a achar que foi sequestrado.

"Quando eu acordei eu via Caetano Veloso, Gilberto Gil na minha frente. Via uns besouros gigantes no teto, mas eu tinha consciência no fundo que aquilo não era verdadeiro. Quando acordei não lembrava de nada e cheguei a achar que tivesse sido sequestrado", afirmou.

A sensação de sair do hospital, dsse ele, é de renascimento. "Ver meu filho de novo foi de uma satisfação, felicidade imensurável", disse Édison sobre o filho de 20 anos.

Apesar da alta, o paciente ainda se recupera das consequências do vírus e de tantos dias de internação. Devido a traqueostomia, o médico e também professor apresenta certa dificuldade para falar e vai precisar passar por fisioterapia. Édison está sob os cuidados da irmã.

No dia 8 de abril, quando ainda estava internado na UTI, ele completou 66 anos e afirma ter se assustado com os efeitos da doença.

"Essa doença tem várias facetas e a mais sorrateira delas é que é silenciosa, parece uma gripe. Começou com coriza, mal-estar, febre baixa e assim eu fui parar no hospital de onde saí mais de um mês depois", disse.

Para ele, a obesidade pode ter contribuído para agravar seu quadro de saúde. Quando chegou ao hospital, o médico pesava 130 quilos. Ele deixou a unidade com dez quilos a menos e agora afirma que pretende cuidar mais da alimentação.