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Políticos e membros do Judiciário elogiam papel de consórcio na pandemia

Do UOL, em São Paulo

08/06/2020 21h45

O inédito consórcio formado por veículos de mídia para coletar e divulgar informações referentes à covid-19 foi elogiado por personalidades do mundo político e jurídico, entidades representativas de profissionais e pela imprensa em entrevistas a O Estado de S.Paulo.

Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro (sem partido) de restringir o acesso a dados sobre a pandemia de Covid-19, os veículos de comunicação UOL, O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo, G1 e Extra formaram um consórcio para trabalhar de forma colaborativa a partir de hoje (8) e buscar as informações necessárias diretamente nas secretarias estaduais de Saúde das 27 unidades da Federação.

O resultado da primeira apuração em conjunto revela que o Brasil registrou 19.631 casos oficiais e 849 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas. São 170 mortes e 3.745 casos a mais do que o divulgado oficialmente pelo Ministério da Saúde na tarde de hoje. No total, o país contabiliza 37.312 óbitos e 710.887 diagnósticos da doença causada pelo novo coronavírus. De acordo com o balanço do governo federal, contudo, os números seriam de 37.134 mortes e 707.412 pessoas contaminadas pela covid-19.

O ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, ressaltou que "a transparência é mandamento constitucional".

São bem-vindas todas as medidas que visem reforçar a transparência e ampliar as fronteiras do acesso à informação. Essa iniciativa é mais uma demonstração do trabalho de excelência realizado pela imprensa em auxiliar nas informações necessárias ao combate da pandemia."
Dias Toffoli, presidente do STF

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ao jornal que a iniciativa é "excelente"

Excelente. Mostra a importância da liberdade de imprensa para que nós tenhamos transparência não apenas na divulgação de dados, mas em todas as ações dos agentes públicos."
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara

É louvável a iniciativa dos jornais. Neste momento de pandemia e de incertezas, trazer a informação correta, consolidada, verdadeira, confiável, é exatamente o que a população espera, da imprensa, e precisa, como nação."
Davi Alcolumbre, presidente do Congresso

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro disse que "a iniciativa só reforça a importância da transparência e a relevância da imprensa em uma sociedade livre". "Infelizmente, a confusão provocada por novas metodologias e atrasos na divulgação do número de mortos e de novos casos confirmados tem gerado questionamentos quanto à confiabilidade dos dados e insegurança em representantes da área de saúde."

O deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), autor de um projeto que obriga o governo a divulgar os dados, também elogiou o consórcio dos veículos de comunicação. "Isso é muito importante porque, no momento em que perdemos o rastro dos dados, perdemos a capacidade de tomar decisão. Que bom que temos essa parceria para nos ajudar."

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também comemorou. "Apesar da determinação de Bolsonaro de nos colocar no padrão da ditadura do Turcomenistão, aqui, no Brasil, nós temos imprensa livre que nos aproxima dos regimes democráticos."

Para o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, a parceria inédita para informar os dados da covid-19 "evidencia a relevância dos meios de comunicação em um momento grave como esse da pandemia no País". Rech lamentou a posição do governo federal de restringir a divulgação dos dados.

"O Brasil, me parece, é o único país onde é necessária uma aliança dos meios de comunicação para trazer a verdade sobre os números da doença." Para o presidente da ANJ, "é lamentável que isso ocorra por parte do governo, porque evidencia uma tentativa de esconder informações da população". Por outro lado, "demonstra a importância da ação dos meios de comunicação na busca pela informação correta para a sociedade".

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Paulo Jeronimo, lembrou que, na década de 1970, a ditadura militar escondeu, por meio de censura, a existência de um surto de meningite.

"Por isso, as famílias não foram alertadas para a epidemia, o que ocasionou grande número de mortes de crianças. Agora, diante da multiplicação de mortos pelo coronavírus, que faz do Brasil um dos recordistas mundiais nesta macabra lista, o governo Bolsonaro tenta esconder os números reais. Estamos diante de um crime."

"Nesse quadro, a iniciativa dos veículos de comunicação de, em conjunto, consolidar esses números e divulgá-los, tem total apoio da ABI. É uma iniciativa que honra a imprensa brasileira", conluiu.

Para Manoel Galdino, o diretor executivo da Transparência Brasil, a iniciativa da imprensa de juntar forças para divulgação de dados sobre o impacto da doença "é uma alternativa importante para a sociedade" no contexto da epidemia de coronavírus. Para Galdino, porém, "o óbvio seria pensar que essa é uma obrigação do governo", destacou.

Segundo o diretor executivo da Transparência Brasil, "o governo brasileiro está omitindo os dados e informações sobre a doença numa decisão de de caso pensado". Para ele, a divulgação dos dados da covid-19 "não é uma responsabilidade da imprensa, mas sim do governo federal".

Galdino afirmou ainda que a mudança na política de informação sobre a covid-19 "faz parte de uma estratégia do governo federal que é um retrocesso claro verificado em várias áreas, como os dados sobre emprego e dificuldades para atender à Lei de Acesso à Informação".

Marcelo Träsel , presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), afirmou que "o presidente da República vem adotando medidas que contrariam a Constituição Federal, a Lei de Acesso à Informação e as boas práticas de transparência pública com o objetivo de retaliar a cobertura jornalística sobre os erros de seu governo no combate à pandemia de covid-19".

Para ele, "ocultar o número de mortos é a mais nova ocorrência em sua política de atacar o mensageiro para não prestar contas ao povo brasileiro. A união de toda imprensa é fundamental neste momento de degradação da democracia."

Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, condenou de forma veemente a atitude do governo Bolsonaro de suspender a divulgação diária do conjunto de números referentes à evolução nacional da Covid-19.

"É um ato de censura e um verdadeiro crime contra a população brasileira, que tem o direito de acompanhar a realidade da doença para poder se defender dela. Consideramos positiva a atitude de veículos de comunicação que decidem somar esforços para suprir esta lacuna informativa, pois é missão do jornalismo profissional fazer todos os esforços para apurar e divulgação o conjunto de informações de interesse público a respeito da doença, neste momento de pandemia."