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'Se necessário', SP vai adquirir e produzir CoronaVac, diz Doria

Governo federal disse ontem que vacina pode ser descontinuada a partir de 2022 - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
Governo federal disse ontem que vacina pode ser descontinuada a partir de 2022 Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

08/10/2021 14h08Atualizada em 08/10/2021 16h37

Após o Ministério da Saúde informar que pode descontinuar o uso da vacina CoronaVac contra a covid-19 em 2022, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse hoje que, "se necessário", o estado vai adquirir, produzir e aplicar o imunizante.

"O Ministério da Saúde não excluiu, apenas disse que não comprará doses da vacina CoronaVac", disse o tucano. "São Paulo, se necessário, adquirirá, produzirá e imunizará com a vacina do Butantan, a CoronaVac", afirmou Doria após evento da Secretaria da Educação.

Para CPI da Covid, o governo federal alegou que a "baixa efetividade" do imunizante na população acima de 80 anos e a falta de um registro definitivo na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) são alguns dos motivos para possível descontinuidade.

Atualmente, as vacinas usadas no Brasil são a CoronaVac, Janssen, Pfizer e Oxford/AstraZeneca. As duas primeiras possuem somente a autorização de uso emergencial, ou seja, estão liberadas apenas durante o período da pandemia.

Segundo Doria, a CoronaVac é a vacina mais aplicada no mundo — mais de 1 bilhão de doses já foram aplicadas. "Não há razão para estigmatizar a CoronaVac, apenas razão política e lamento que o ministro da Saúde se dê a essa tarefa de ser um robô de uma gestão negacionista do presidente Jair Bolsonaro [sem partido]", disse o tucano.

O governador classificou o ministro Marcelo Queiroga também como "um robô de práticas negacionistas, que atacaram a vacina desde o início e dificultaram que ela chegasse aos braços dos brasileiros antes do dia 17 de janeiro" [data de início da vacinação em São Paulo.

Mais cedo, o Instituto Butantan rebateu o posicionamento do governo federal. "A informação [repassada pelo Ministério da Saúde] é equivocada, já que todas as pessoas idosas tem resposta imune inferior a outras faixas etárias, o que ocorre com todos os imunizantes", disse, em nota, o instituto.

Todas as vacinas aplicadas no Brasil são seguradas e têm autorização da Anvisa para uso no país.

Embora a OMS (Organização Mundial da Saúde) tenha avaliado a vacina CoronaVac como a opção com resultados inferiores em estudos internacionais sobre os diferentes imunizantes, não há motivo para preocupação ou para duvidar da eficácia e segurança da vacina.

A OMS já chancelou a CoronaVac e a considera boa o suficiente para aplicações, adicionando-a, inclusive, na rede de distribuição global —sem qualquer indício de que esse status seja revogado. Além disso, os dados diferem de pesquisa para pesquisa. Por isso, não devem ser utilizados isoladamente para desqualificar uma vacina —até porque, para controlar a pandemia, todos os imunizantes precisam "trabalhar em conjunto", imunizando o quanto antes a maior parte da população.

"A eficácia da vacina contra a gripe é menor do que a da CoronaVac e a gente nunca precisa ficar explicando isso, porque já controlamos essa epidemia. O que a gente objetiva com a CoronaVac e os outros imunizantes contra a covid-19 é ter justamente algo como com a gripe. E para ter esse controle da doença, só com vacinação em massa", explica o imunologista Gustavo Cabral, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo)/Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo) e colunista do VivaBem.

Efetividade das vacinas

  • Entre 80 e 89 anos: AstraZeneca mostrou efetividade de 91,2% contra mortes; já a CoronaVac, 67,3%;

  • Acima de 90 anos: AstraZeneca mostrou efetividade de 70,5% contra mortes; já a CoronaVac, 35,4%.

Os dados do fabricante da Janssen afirmam que, independentemente da idade, 96% dos adultos vacinados apresentaram anticorpos neutralizantes.