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Falhas no processo de vacinação na fronteira são preocupantes, diz Fiocruz

Segundo estudo, áreas de fronteira estão mais vulneráveis à entrada de novas variantes do coronavírus - Ishara S. Kodikara/AFP
Segundo estudo, áreas de fronteira estão mais vulneráveis à entrada de novas variantes do coronavírus Imagem: Ishara S. Kodikara/AFP

Do UOL, em São Paulo

22/12/2021 21h53Atualizada em 22/12/2021 21h58

Um levantamento feito por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) aponta que as desigualdades sociais também interferem negativamente na evolução da campanha de vacinação contra a covid-19. Essas falhas, mais evidentes em municípios de menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), também são preocupantes em área de fronteira — hoje vulneráveis à entrada de novas variantes do coronavírus.

O estudo da Fiocruz analisou o comportamento da pandemia nos últimos dois anos, além de indicadores sociais e aqueles relativos ao avanço da aplicação das vacinas contra a covid-19 ao longe de 2021. Considerando apenas o aspecto geográfico, os pesquisadores identificaram que algumas regiões têm uma parte expressiva de seu território abaixo dos índices ideais de vacinação.

"Enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentam elevado percentual da população imunizada, áreas da região Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda apresentam bolsões com baixa imunização para covid-19. Se considerarmos como um cenário de segurança a vacinação com esquema completo acima de 80%, temos no Brasil apenas 16% dos municípios nessa situação", aponta o documento.

Entre as áreas consideradas "preocupantes" pela Fiocruz, estão o limite entre Rondônia e Bolívia, as tríplices fronteiras entre Brasil, Peru e Colômbia — onde se localizam as cidades de Tabatinga e Letícia — e entre Roraima, Venezuela e Guiana, além de todo o estado do Amapá, com fronteira com a Guiana Francesa.

Esses territórios [de fronteira] são hoje vulneráveis para a entrada de novas variantes e espalhamento do vírus da covid-19 para todo o país. (...) Nesse sentido, a exigência de passaporte vacinal deve ser estendida para fronteiras terrestres, que se encontram extremamente vulneráveis às novas fases da pandemia.
Fiocruz, em nota técnica

Segunda a Fiocruz, o IDH ajuda a qualificar a desigualdade da vacinação no país, uma vez que locais com baixo índice de desenvolvimento também têm taxas de cobertura mais baixas. Quanto à primeira dose, por exemplo, o grupo de municípios com IDH muito alto apresentava percentual de imunização de cerca de 80%, enquanto o grupo com IDH baixo registrava 60%.

Já com relação à segunda dose, as cidades com IDH muito alto tinham cerca de 70% da população com esquema vacinal completo, enquanto aquelas com IDH baixo chegava a apenas 50%. Na terceira dose, a diferença se mantém: municípios mais desenvolvidos tinham 10% da população com esquema reforçado; entre os menos desenvolvidos, o percentual era de 2,5%.

"Apesar do componente longevidade considerado no IDH poder ter inflacionado o percentual de população coberta, passados quase um ano do início da campanha de imunização e o avanço da vacinação para as demais faixas etárias, é pouco provável que este fator tenha influência sobre a cobertura vacinal", emplica Diego Xavier, pesquisador do MonitoraCovid-19.

Os especialistas reforçaram ainda que, além da aceleração da aplicação de segundas doses e doses de reforço, é importante manter medidas de prevenção do contágio, como uso de máscaras — preferencialmente dos modelos PFF2 e N95 — e cancelamento de eventos de grande porte que possam gerar aglomerações.

"O uso de máscaras adequadas, a não realização de eventos que causem aglomeração e os cuidados para evitar situações de risco de infecção devem ser adotados pela população para evitar aumento de casos graves em locais com baixa cobertura vacinal", recomenda a Fiocruz.