Caracaço é lembrado na Venezuela com marcha pelas ruas da capital

CARACAS, 27 Fev 2013 (AFP) - O governo venezuelano deu mostras de unidade e desmentiu rumores de que haveria um desacordo com as Forças Armadas diante da ausência do presidente Hugo Chávez, doente de câncer, durante a comemoração nesta quarta-feira do 24° aniversário do "Caracaço", uma revolta popular que deixou centenas de mortos em 1989.

Milhares de pessoas marcharam pelas ruas na zona oeste de Caracas, exibindo faixas com imagens de Chávez e enviando mensagens de solidariedade ao dirigente, em uma manifestação que acabou com um discurso do vice-presidente Nicolás Maduro, rodeado por uma dezena de chefes militares, vários funcionários do governo e a filha mais velha de Chávez, Rosa Virginia.

"Hoje o povo com a força armada está mais unido do que nunca", disse Maduro frente aos seus seguidores que compareceram à manifestação, a primeira desde que Chávez foi internado no hospital militar de Caracas há nove dias, após passar mais de dois meses em Cuba se recuperando da quarta cirurgia contra o câncer.

"Não venham agora com historinhas de que estamos brigados, onde nos procurarem vão nos encontrar, tanto o povo quanto as Forças Armadas", afirmou Maduro, que na noite de sexta-feira desmentiu boatos nas redes sociais sobre "movimentos suspeitos" no Forte Tiuna, o maior complexo militar de Caracas.

O vice-presidente exaltou o trabalho dos militares e assegurou que "nunca mais suas armas serão para massacrar" o povo, mas sim para "defender a pátria".

O "Caracaço" foi uma revolta popular ocorrida entre os dias 27 e 28 de fevereiro de 1989 em protesto contra a alta do preço do transporte público, após um aumento no preço da gasolina, decretado pelo governo de Carlos Andrés Pérez (1974-1979 e 1989-1993). Durante o levante, cerca de 300 pessoas foram assassinadas pela repressão das forças militares, usadas para controlar a ordem pública.

"Não tenham dúvida que saberemos defender a bela obra do comandante Hugo Chávez Frías", disse Maduro no comício, dirigindo-se à oposição, acusada de tentar dividir o chavismo e de difundir rumores sobre a instabilidade nas Forças Armadas.

O presidente do Parlamento e ex-militar Diosdado Cabello, que participou do fracassado golpe de Estado liderado por Chávez em 1992, também desmentiu os rumores de divisões no governo e garantiu: "O povo e a Força Armada estão unidos ao redor de um projeto, de uma causa, de um líder" como Chávez.

Após anunciar a presença da filha mais velha de Chávez, Maduro anunciou a aprovação de recursos econômicos para indenizar os familiares das vítimas e disse que o presidente, "além de ter entregue sua vida completa à felicidade" dos venezuelanos, "protege de forma direta" o entorno das vítimas.

Por sua vez, Cabello anunciou a criação ao final do ato de uma "comissão da verdade" para investigar e sancionar os crimes contra a humanidade, em razão da aplicação de políticas de terrorismo de Estado. Os crimes foram cometidos desde o final da ditadura de Marcos Pérez Jiménez, em 1958, até a chegada ao poder de Chávez, em 1999, um período que o governo conhece como IV República.

"Sabemos que vão fazer um trabalho para a história, para fazer justiça verdadeira, a justiça que os senhores representantes da IV República e seus derivados (a oposição) não gostam que mencionemos", declarou Cabello, que esclareceu que "a comissão irá apurar "mais de 3.000" casos.

Os crimes do "Caracaço" estarão também incluídos nas investigações.

Em tom de crítica, o líder opositor Henrique Capriles questionou a concentração. "Hoje 27 de fevereiro é um dia para recordar, a dor e a perda de vidas humanas não se comemora!", postou no Twitter.

Nos últimos dias, a oposição pediu reiteradamente que Chávez apareça em público ou renuncie, caso não possa governar.

Na manifestação, contudo, os apoiadores do dirigente se mostraram otimistas sobre sua recuperação.

"Eles querem vídeos, mas se mostramos vídeos, então voltarão em alguns dias para pedir que querem vê-lo em pessoa", disse à AFP María Luisa Sánchez, uma professora escolar de 52 anos, que levava uma faixa com os dizeres: "Chávez, coração do povo".

Após sua operação em dezembro, os venezuelanos apenas viram Chávez em quatro fotos divulgadas pelo governo quando ainda se encontrava hospitalizado em Cuba. Segundo o governo, Chávez tem dificuldade para falar em razão de uma traqueotomia.

O dirigente não pôde comparecer em sua posse em janeiro, após a reeleição em outubro, e a posse foi adiada pelo Supremo Tribunal até que se recupere.

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