Bagdá enfrenta jihadistas e Brahimi critica inação na Síria

Em Quetta

BAGDA, 15 Jun 2014 (AFP) - O governo iraquiano afirmou neste domingo que "recuperou a iniciativa" contra os jihadistas que nesta semana tomaram boa parte do centro e do norte do país, em um episódio que segundo o ex-mediador da ONU Lakhdar Brahimi deve-se à passividade da comunidade internacional na Síria.

Bagdá anunciou que as forças oficiais mataram 279 insurgentes nas últimas 24 horas, um balanço que não pôde ser verificado de forma independente.

O porta-voz do primeiro-ministro Nuri al-Maliki em temas de segurança, o tenente-general Qasem Atta, afirmou que as forças de Bagdá "recuperaram a iniciativa" contra os insurgentes do Estado Islâmico no Iraque e Levante (EIIL).

O governo sírio, por sua vez, cumpriu com sua promessa de ajudar o Iraque bombardeando várias bases do EIIL nas províncias de Raqa (norte) e Hasaka (noroeste), fronteiriça com o Iraque.

De terça-feira a quinta-feira, os jihadistas tomaram a segunda maior cidade do Iraque, Mossul, sua província (Nínive, norte), Tikrit e outras áreas da província de Saladino, além de outros setores nas províncias de Diyala (leste) e Kirkuk (norte).

As forças de segurança iraquianas, que se retiraram em debandada diante do avanço dos extremistas, parecem estar erguendo a cabeça e no sábado recuperaram as localidades de Ishaqi e Muatasam, na província de Saladino, perto de Bagdá.

Para a capital, as autoridades anunciaram no sábado um plano especial de segurança. Neste domingo, no entanto, um atentado matou nove pessoas.

O objetivo do EIIL é criar um Estado Islâmico em uma região em algum lugar entre Iraque e Síria, onde é uma das principais forças que combatem o regime de Bashar al-Assad.

Segundo fotos divulgadas na internet que não puderam ser certificadas, estes jihadistas teriam executado dezenas de membros das forças iraquianas capturados na província de Saladino.



- Milhares de voluntários civis -

Milhares de cidadãos se apresentaram como voluntários para pegar em armas contra os insurgentes, respondendo a um pedido do governo de Nuri al-Maliki e do grande aiatolá Ali al-Sistani, a maior autoridade religiosa xiita do Iraque.

Ao norte de Baaquba, um dos centros de recrutamento foi alvo neste domingo de disparos de morteiros, que deixaram seis mortos, entre eles três soldados.

Ao norte de Bagdá ocorreu outro incidente no qual ao menos seis combatentes curdos morreram e outros 20 ficaram feridos em um ataque aéreo do exército iraquiano contra um comboio de tropas curdas.

Até o momento não se sabe se o ataque, ocorrido durante a noite em Janaqin, 150 km a nordeste de Bagdá, era dirigido especificamente contra as tropas curdas ou se foi um erro. No sábado, a zona estava dividida entre regiões sob controle dos insurgentes e sob controle curdo.



- Brahimi critica -

Em uma entrevista à AFP, o ex-mediador da ONU na Síria Lakhdar Brahimi declarou que a ofensiva jihadista e a confusão que reina agora no Iraque são o resultado da passividade da comunidade internacional diante do conflito que começou na Síria em 2011.

"É uma regra habitual: um conflito deste tipo não fica restrito às fronteiras de apenas um país. Infelizmente negligenciamos o problema sírio e não ajudamos a resolvê-lo. Este é o resultado", lamentou.

O Iraque "nunca terminou de se recuperar da invasão americana de 2003" e esta "grande ferida se infeccionou" com o conflito sírio, declarou, ressaltando que o pano de fundo do conflito com os jihadistas é uma "guerra civil entre xiitas e sunitas".

A divisão sectária no Iraque é muito profunda e a comunidade sunita, no poder com Saddam Hussein, se sente marginalizada pelas autoridades dominadas pelos xiitas após a queda do regime, em 2003.

"Os sunitas vão apoiar os jihadistas, não porque são jihadistas, mas porque o inimigo do meu inimigo é meu amigo", declarou Brahimi.

Diante da escalada, os Estados Unidos mobilizaram um porta-aviões no Golfo visando uma possível intervenção, que, segundo o presidente Barack Obama, não seria terrestre.

O Irã, potência xiita disposta a ajudar o governo de Bagdá contra os extremistas sunitas, manifestou sua hostilidade a qualquer intervenção militar estrangeira.

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