O 'mistério' JFK: inspiração inesgotável para escritores e cineastas
"Figura romântica" abatida no auge de sua glória por um assassinato cercado de mistérios, JFK é uma fonte inesgotável para romancistas, ensaístas, cineastas e documentaristas de todo tipo - sem ser, contudo, um passaporte para o sucesso.
O 50º aniversário do assassinato do 35º presidente dos Estados Unidos traz de volta aos holofotes, inevitavelmente, os acontecimentos daquele 22 de novembro de 1963, em Dallas.
Filmes, séries de TV, livros: "A vida e a morte de John Fitzgerald Kennedy foram contadas de inúmeras maneiras, e eu acredito que isso vá continuar pelas próximas gerações", declara à AFP a especialista editorial da Universidade de Columbia, em Nova York, Shaye Areheart.
"Gostaria justamente que Shakespeare estivesse vivo para escrever como se deve", acrescenta.
Desde que Kennedy era vivo, o escritor britânico J.J. Marric colocava seu detetive Gideon atrás de pistas sobre um complô para assassinar o presidente, irônico prelúdio ao turbilhão de livros que viriam após sua morte, em 1963.
"O fato dele ter morrido tão jovem, nas mãos de um assassino, antes de ter tido a chance de ficar mais de mil dias no poder, também fazem dele um personagem infinitamente trágico e romântico", explica Shaye Areheart, acrescentando que "estas qualidades sempre exerceram uma atração irresistível para os biógrafos e para os leitores".
Muito rapidamente, o cinema e a televisão também se apossaram do 'mito' Kennedy, fazendo, em geral, adaptações de livros. Jeff Bock, da Exhibitor Relations, empresa que monitora os números da indústria cinematográfica, observa que "a vida de JFK tem todos os elementos de um formidável filme hollywoodiano: desafios importantes, intrigas, infidelidades e muitas pessoas atraentes".
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Embora a relação de JFK com sua mulher, Jackie, ou sua ligação com a atriz Marilyn Monroe sejam objeto de fascínio permanente, é o seu assassinato que mais estimula os criadores.
"O que continua a causar interesse é que (o assassinato) nunca foi realmente elucidado", disse à AFP o diretor Oliver Stone, cujo filme "JFK - A pergunta que não quer calar" (1991), estrelado por Kevin Costner, deu sua contribuição para as teorias conspiratórias.
A Comissão Warren, responsável pela investigação oficial do assassinato, "é um mito, na melhor das hipóteses", disse Stone à AFP.
"Como resultado, qualquer pessoa inteligente deve se fazer essas perguntas, e isso foi feito, sem descanso, durante 50 anos", acrescentou.
Colocando a história oficial em xeque Nelson McCormick, que dirigiu o filme "Killing Kennedy" para o canal National Geographic, também acredita que o assassinato de JFK é "um caso de homicídio sobre o qual quanto mais você investiga, você produz mais perguntas do que respostas".
"Enquanto quisermos encontrar novas pistas, haverá novos livros, filmes e documentários sobre as muitas facetas deste fascinante período da História", disse à AFP.
"Isso me lembra do 'Titanic'. Sabemos como termina, mas continuamos vidrados na tela", completou.
Em seu trabalho, McCormick se concentrou na figura do assassino Lee Harvey Oswald.
"Era a oportunidade de humanizar o cara mau, aquele que classificamos como monstro. Mesmo que seu ato tenha sido abominável, ele continuava sendo um filho, um marido, um pai", alegou.
Stone, que voltou ao caso Kennedy na série de TV "The Untold History of the United States" em 2012, afirmou que seu filme "JFK" tinha o objetivo claro de questionar a versão oficial da História.
"Decidiu-se que Oswald era o culpado, e provas foram criadas para apoiar a tese", afirmou, destacando o caráter fictício do filme.
"Era um filme dramático, e não um documentário. Tive de misturar personagens e situações para poder dizer tudo em três horas", explicou.
Por mais admirado que seja, porém, Kennedy não é, necessariamente, garantia de sucesso.
"Não há apostas garantidas em livros, ou filmes. Ter JFK como tema não é suficiente. Precisa ser bom. E por 'bom' eu quero dizer envolvente, em vez de chato", observa o professor de Cinema Richard Walter, da Escola de Teatro, Cinema e Televisão da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA).
No cinema, por exemplo, se "JFK" foi um sucesso com US$ 205 milhões nas bilheterias do mundo todo, "Parkland", lançado no início de outubro, arrecadou apenas US$ 650 mil nos cinemas americanos.
"Como sempre acontece em Los Angeles, tudo depende da maneira de abordar a história. Não acho que JFK seja gerador de sucesso em si", frisou Jeff Bock.
O próximo "grande sucesso" poderá vir do mestre do suspense Stephen King. Seu livro "11-22-63" (data em inglês da morte de JFK), de 2011, teve os direitos autorais adquiridos pelo estúdio Warner Bros para a produção de uma série de TV. A obra descreve uma viagem no tempo para tentar impedir o assassinato.
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