Os passos de Lee Harvey Oswald

Em Dallas

Minutos depois de testemunhar o assassinato de John F. Kennedy, Pierce Allman cruza com um homem que deixa um depósito e parecia incrivelmente calmo.

Esse homem era Lee Harvey Oswald, de 24 anos, o ex-marine americano que derrotou a então União Soviética, voltou para casa e teria matado o 35º presidente dos Estados Unidos na sexta-feira de 22 de novembro de 1963, em Dallas. Dois dias depois, esse mesmo homem seria abatido por Jack Ruby.


Pierce Allman, então com 29 anos, havia acabado de presenciar o assassinato do presidente no Dealey Plaza. "Falei para mim mesmo que eu precisava encontrar um telefone", contou à AFP o jornalista que era, na época, diretor dos programas da rádio WFAA/ABC.

"Subo as escadas do depósito de livros escolares do Texas. Pergunto a um cara na entrada onde tem um telefone. Ele me diz 'lá'. Eu respondo 'obrigado' e entro", afirmou Allman.

Mais tarde, ele saberia que acabara de passar pelo assassino do presidente. "Ele estava muito calmo, não parecia apressado, não estava ofegante, não parecia nervoso de jeito nenhum", lembrou.

Segundo conclusões da Comissão Warren, que investigou o caso, Lee Harvey Oswald havia acabado de matar JFK - três minutos antes -, atirando do quinto andar do depósito de livros, onde ele trabalhava como auxiliar há cinco semanas.

O andar se transformou no "Museu do Sexto Nível de Dealey Plaza". Perto da janela dos tiros, pilhas de caixas, com a inscrição "Livros", foram reconstituídas em uma pequena área de alguns metros quadrados, em um espaço protegido por paredes de vidro.

De lá, ele dá três tiros de fuzil, conta Stephen Fagin, curador adjunto do Museu, citando a investigação oficial, antes de descer por uma escada até o primeiro andar.

"Ele foi visto ali no máximo dois minutos depois, na cozinha dos funcionários", onde - também segundo testemunho do policial Marrion Baker - "ele não parecia nem ofegante, nem nervoso".

Três minutos depois dos tiros, Oswald deixa o prédio, toma um ônibus e, então, um táxi, na direção do bairro Oak Cliff, onde morava. Da rua, ainda se vê a janela de seu quarto em uma casa de madeira.

Ele coloca um casaco, pega um revólver e sai a pé. À 13h15, mata o policial J.D. Tippit que o parou na rua para interrogá-lo. Pelo menos 45 minutos já tinham se passado desde que Kennedy havia sido atingido.

Oswald busca abrigo um pouco mais longe, no Cinema Texas, que ainda mantém seu estilo anos 1960. Ele se senta no fundo da sala. A polícia entra, e ele muda de lugar. Ele é, então, cercado pelos agentes.

"Quando ele se levantou, eles (fontes policiais) me contaram que, naquela tarde, ele disse 'bom, está tudo acabado agora'", relata Hugh Aynesworth, que trabalhava como jornalista no "Dallas Morning News" e é autor de "November 22, 1963: Witness to History".

"Mas não estava, porque ele sacou uma arma e tentou matar um policial", acrescentou.

Os curiosos continuam a visitar o local, totalmente redecorado e sem qualquer menção histórica em particular.

"Em menos de um minuto" Oswald foi levado para a delegacia local. Lá, James Tague, um vendedor de carros de 27 anos, testemunha do assassinato do presidente, foi contar que ficou ligeiramente ferido pelo projetil de uma bala perdida.

"Dois homens entram com um terceiro, algemado", diz ele à AFP. "Um deles diz 'esse é o homem que matou o policial Oak Cliff'. À noite, pela televisão, eu vejo que o homem sentado no guichê do lado do meu era Lee Harvey Oswald".

Ironia da história, Tague, apaixonado por história, acredita na inocência de Oswald e publica "LBJ and the Kennedy Killing". No livro, ele acusa o vice-presidente de Kennedy, Lyndon Johnson.

A cela onde Oswald dorme a partir de sexta-feira ainda existe e continua intacta, em um andar desativado. Ele nega todas as acusações.

No domingo, ele seria transferido para o presídio do condado, passando pela multidão de policiais e jornalistas do mundo inteiro.

Um carro espera por ele no subsolo do prédio, que se tornou um estacionamento. Jack Ruby, um personagem local, "desce a rampa de acesso e atira no momento em que Oswald atravessa a porta", conta Paullus Armstrong, agente de Segurança do imóvel. "Tudo isso em menos de um minuto".

Às 11h21, depois do tiro, "eu vejo Oswald colocar a mão na barriga e cair", lembra o jornalista Bob Huffaker, da estação KRLD/CBS, que consegue apenas repetir "atiraram no Oswald! Atiraram no Oswald!".

Lee Oswald foi levado às pressas para o Hospital Parkland - o mesmo onde Kennedy esteve dois dias antes. O ex-marine morre quase duas horas mais tarde. Esse foi apenas o início de cinco décadas de dúvidas, polêmicas e teorias conspiratórias de todo tipo.

 

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