Venezuela vota em eleições municipais, teste crucial para governo e oposição

CARACAS, 08 dez 2013 (AFP) - O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, enfrenta neste domingo seu primeiro teste eleitoral em um contexto de inflação elevada e escassez pontual de produtos básicos, sete meses depois de ter sido eleito após a morte do "Comandante Supremo" Hugo Chávez.

As eleições para definir autoridades de 337 prefeituras foram elevadas à categoria de plebiscito pela oposição, em uma aposta arriscada que pode se voltar contra os partidos reunidos na Mesa da Unidade Democrática (MUD), liderada por Henrique Capriles, que perdeu as presidenciais de abril por 1,5%.

Às 06h00 (08h30 de Brasília), os mais de 13.500 centros de votação no país começaram a abrir suas portas para os mais de 19 milhões de venezuelanos, também convocados a eleger 2.455 vereadores, segundo a televisão local.

A "Revolução Bolivariana" de Chávez venceu quase todas as eleições e plebiscitos nos últimos 14 anos no país, que tem as maiores reservas de petróleo do mundo.

Maduro pediu na noite de sábado serenidade diante da possibilidade de que algumas prefeituras sejam altamente disputadas e tenham resultados apertados neste domingo, declarado "Dia da Lealdade" a Chávez, quando é completado um ano de seu último discurso antes de se submeter a sua quarta operação em Cuba.

O chavismo controla mais de 80% dos municípios e as previsões sugerem que manterá ao menos dois terços, em especial após a guerra econômica do presidente, que ordenou diminuições compulsórias de preços e ameaçou deter especuladores.

Os opositores se entrincheiram em cidades grandes, entre elas as duas principais aglomerações do país, consideradas as "joias da coroa": o distrito metropolitano de Caracas e a petroleira Maracaibo, que somam um sexto dos cadernos eleitorais.

No entanto, a defesa destes dois troféus diante do ataque governamental não está decidida, em especial em Maracaibo, onde o jovem filósofo - doutorado na Itália e na França - Miguel Pérez Pirela é um sério rival da prefeita Eveling Trejo, esposa do antichavista Manuel rosales, exilado no Peru.



Em pé de guerra

Este domingo eleitoral começou para centenas de milhares de jovens várias horas antes do amanhecer, quando saíram às ruas e avenidas de todas as cidades e povoados venezuelanos.

Diferentemente de outros fins de semana, eles não voltavam de discotecas ou bares, mas caminhavam em direção aos seus postos nas Unidades de Batalha Bolívar Chávez (UBCH), eixo da formidável maquinaria eleitoral governista, integrada por quase 14.000 grupos.

Em um país com voto facultativo e abstenção histórica de 50% em eleições locais, as UBCH têm a tarefa de garantir cinco milhões de votos (ou seja, a metade dos votos válidos teóricos), indo buscar os simpatizantes chavistas onde eles estiverem.

As UBCH são a recriação "de velhas táticas de partidos tradicionais para a organização político-eleitoral, com a diferença de que também têm funcionários públicos em campanha e muitos recursos", havia afirmado nesta semana à AFP o chefe de campanha de Chávez em 1998, Antonio Luzardo.

O êxito da maquinaria chavista também se reflete nos apelos que a oposição improvisava pelo Twitter no sábado na conta @CaprilesPuntoTV, pedindo aos que tivessem carros que se inscrevessem para mobilizar eleitores.



O exército mobilizado

Para garantir a segurança, o governo da Venezuela mobilizou 120.000 militares como reforço das polícias em todo o território, onde foram instaladas quase 40.000 máquinas de votação.

As medidas de segurança incluem lei seca durante três dias e medidas adicionais à proibição de portar armas, em um país cuja taxa de homicídios (54 anuais para cada 100.000 habitantes) o coloca como o terceiro mais violento da América Latina e acima de nações em guerra.

Os centros de votação permanecerão abertos por doze horas e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) antecipa que os primeiros resultados começarão a ser divulgados três horas após o fechamento das mesas, às 18h00 locais (20h30 de Brasília), quando eles forem irreversíveis.



O contexto econômico

A Venezuela chegou às eleições com uma inflação de 54% anual, fortes pressões sobre a cotação do dólar no ilegal mercado paralelo e escassez pontual de produtos.

Maduro, que despencava nas pesquisas até outubro, saiu ao contra-ataque em novembro e depois de se definir como um "presidente justiceiro" lançou uma ofensiva que forçou a queda de preços de produtos como televisores e sapatos, registrou comerciantes e ameaçou os que não cumprissem as regras com prisão.

Pesquisas privadas às quais a AFP teve acesso detectaram que as medidas populistas, voltadas basicamente para a classe média, frearam a queda da intenção de voto dos candidatos governistas e inclusive reverteram a tendência.

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