Combates deixam 500 mortos na capital do Sudão do Sul

JUBA , 18 dez 2013 (AFP) - Os combates entre facções do exército sul-sudanês em Juba, capital do Sudão do Sul, deixaram 500 mortos, 800 feridos e 15.000 deslocados desde a noite de domingo, segundo a ONU, mas nesta quarta-feira eles pareciam ter cessado.

O ex-vice-presidente Riek Machar, que se encontra foragido, tomou a palavra nesta quarta-feira pela primeira vez e negou uma tentativa de golpe de Estado da qual é acusado pelas autoridades e que explicaria, segundo elas, o início dos combates.

Posteriormente, o presidente sul-sudanês, Salva Kiir, anunciou que gostaria de conversar com Machar.

"Eu me sentarei com ele (Riek Machar) e falarei... mas não sei quais serão os resultados das negociações", declarou Kiir aos jornalistas.

Durante a noite foram ouvidos disparos esporádicos em Juba, mas pela manhã eles pareciam ter cessado, constatou a AFP.

Embora não seja possível falar de um retorno à normalidade, nesta quarta-feira era possível ver gente caminhando pela cidade.

Na véspera, o governo pediu que os habitantes de Juba, enclausurados desde a noite de domingo, retomassem suas atividades, assegurando que a situação está completamente sob controle.

As autoridades anunciaram ter ordenado a reabertura do aeroporto internacional e a Air Uganda e a companhia privada queniana Fly540 afirmaram ter retomado seus voos, enquanto outras estão à espera de maiores garantias de segurança.

Entre 400 e 500 cadáveres foram transportados aos hospitais de Juba, afirmou ao Conselho de Segurança o secretário-geral adjunto para a manutenção da paz da ONU, Hervé Ladsous.

Outras 800 pessoas ficaram feridas nos confrontos. O governo sul-sudanês informou apenas sobre 73 soldados mortos.

Segundo Ladsous, entre 15.000 e 20.000 civis se refugiaram nas bases da ONU em Juba.

Riek Machar estimou em uma entrevista ao Sudan Tribune publicada nesta quarta-feira que a tentativa de golpe de Estado atribuída a ele pelas autoridades é um pretexto do presidente Salva Kiir para se livrar de seus opositores.



"Um mal-entendido"

"Não houve golpe de Estado. O que ocorreu em Juba é um mal-entendido entre membros da guarda presidencial, no seio de sua unidade. Não era uma tentativa de golpe de Estado. Não tenho nenhum vínculo nem conhecimento de nenhuma tentativa de golpe de Estado", afirmou Machar a partir de um local desconhecido.

Machar figura junto com outras quatro personalidades políticas do país em uma lista oficial de pessoas procuradas.

Dez personalidades foram detidas. Entre elas encontram-se oito ex-ministros do gabinete destituído em julho, ao mesmo tempo em que Machar, pelo presidente Kiir.

A maioria dos suspeitos são pesos pesados do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM), e figuras históricas da rebelião do sul que lutaram contra as forças de Cartum durante a longa guerra civil sudanesa (1983-2005).

Machar continua sendo oficialmente vice-presidente do SPLM e mantinha uma rivalidade com Kiir no partido, ex-braço político da rebelião.

"O que queríamos era transformar democraticamente o SPLM. Mas Salva Kiir quis utilizar a suposta tentativa de golpe de Estado para se livrar de nós e controlar o governo e o SPLM", explicou Riek Machar ao Sudan Tribune.

A rivalidade entre Kiir e Machar remonta às décadas de guerra civil na rebelião do Sul, que acabou se fraturando em função de critérios étnicos.

De fato, na terça-feira a ONU advertiu para o risco de confrontos étnicos. Além disso, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) afirmou que os hospitais de Juba não conseguem enfrentar "a quantidade de pacientes e a gravidade de seus ferimentos".

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