Quatro suspeitos comparecem ante a justiça húngara por drama de migrantes na Áustria

Kecskemét, Hungria, 29 Ago 2015 (AFP) - Quatro homens compareceram neste sábado ante a justiça húngara por seu suposto envolvimento no drama dos 71 migrantes encontrados mortos na quinta-feira em um caminhão abandonado em uma estrada no leste da Áustria.

Os suspeitos, três búlgaros - o proprietário do caminhão, de origem libanesa, e dois motoristas - além de um afegão, suspeitos de serem "os executores (...) de uma rede búlgaro-húngara de tráfico de seres humanos", apresentaram-se no final da manhã em um tribunal de Kecskemet, cidade localizada a meio caminho entre Budapeste e a fronteira com a Sérvia.

A promotoria pediu que os quatro - dois dos quais com cerca de 30 anos, e os dois outros com 50 - sejam mantidos em prisão provisória, em razão da "natureza do crime" que são acusados.

O tribunal aceitou o pedido e os suspeitos permanecerão presos até pelo menos 29 de setembro, segundo o juiz Ferenc Bicskei.

A Áustria já anunciou que tentará obter a extradição do grupo.

A polícia austríaca indicou na sexta-feira que os 71 migrantes - 59 homens, oito mulheres e quatro crianças - eram, provavelmente, refugiados sírios.

As autoridades ainda não sabem a hora e a causa das mortes, mas disseram que eles podem ter morrido por asfixia.

De acordo com o jornal austríaco Oesterreich, as vítimas estavam trancadas em um espaço de 15 m2, sem ventilação, e podem ter falecido em apenas uma hora.

'Respostas globais'"Peço a todos os governos envolvidos a dar respostas globais, desenvolver canais legais e seguros de migração e a agir com humanidade, compaixão e respeito por suas obrigações internacionais", exortou neste sábado o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Ele ressaltou estar "horrorizado" com a "tragédia humana" da Áustria. "Temos de fazer mais" para resolver a crise da migração no Mediterrâneo e na Europa, disse Ban, que anunciou uma reunião sobre esta questão, à margem da Assembleia Geral da ONU, no final de setembro.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores austríaco Werner Faymann falou por telefone com o presidente francês, François Hollande, e ambos os líderes expressaram sua determinação em "combater fortemente" as redes de tráfico de seres humanos, de acordo com um comunicado da presidência francesa.

Eles também defenderam uma rápida implementação das decisões tomadas pelo Conselho Europeu, incluindo a abertura dos "abrigos necessários na Itália e na Grécia" e a distribuição "equitativa" dos requerentes de asilo entre os países da União Europeia.

Suíça, Alemanha e Itália vão lançar em setembro uma unidade de intervenção conjunta para detectar e desmantelar as redes de traficantes que trazem os migrantes para a Europa, indicaram as autoridades suíças.

Neste sábado de manhã, grupos de dezenas de pessoas continuavam a atravessar a fronteira entre a Grécia e a Macedônia, segundo um jornalista da AFP.

"São cerca de 1.500 por dia", de acordo com Stella Nanou, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), que evoca um fluxo contínuo.

Naufrágio na LíbiaA descoberta macabra na Áustria é um dos últimos episódios da crise migratória na qual milhares de pessoas morreram nos últimos meses, às vezes famílias inteiras, fugindo de guerras ou pobreza e que depositam as suas esperanças nas mãos de traficantes inescrupulosos.

Na quinta-feira, um navio que transportava cerca de 400 migrantes da África para a Itália naufragou ao largo da costa da Líbia, fazendo ao menos 111 mortos e dezenas de desaparecidos, segundo um último relatório do Crescente Vermelho, que informou do resgate de 198 pessoas.

Um sobrevivente do naufrágio, o paquistanês Shefaz Hamza, de 17 anos, passou nove horas agarrado a um pedaço de madeira, esperando as equipes de resgate.

Sua mãe e irmã mais nova morreram afogadas diante de seus olhos.

Encolhido com seu irmão em uma delegacia perto da cidade líbia de Zuara, Hamza disse à AFP como o barco começou a afundar meia hora depois de sair e antes de se desintegrar.

"Vi meu irmão afastar um homem com um pontapé porque ele estava tentando tirar seu colete salva-vidas. Quanto à minha irmã mais nova, a última vez que a vi, uma pessoa tentava agarrar-se a seus ombros, empurrando-a para baixo, antes de desaparecer sob a água", relatou emocionado.

Mais de 300.000 imigrantes cruzaram o Mediterrâneo desde janeiro e mais de 2.500 pessoas morreram em suas águas, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

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