Após atentados, parisienses usam riso como antídoto para a tristeza
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Sebastien Nogier/EFE
Como um antídoto contra a imensa tristeza provocada pelos atentados de Paris, numerosos franceses optaram pelo riso e multiplicaram as brincadeiras nas redes sociais.
No Facebook, Twitter e Youtube, as brincadeiras, das mais inocentes às mais cruéis, foram abundantes depois dos atentados jihadistas do dia 13 de novembro, que deixaram 130 mortos e cerca de 350 feridos.
"Devido ao clima de terror, me surpreendo ao suspeitar de um homem de casaco e kalashnikov que passa por mim", ironizou @Baborlefan no Twitter.
"Em seu comunicado, o Daesh [acrônimo em árabe para o grupo Estado Islâmico] qualifica Paris como a 'capital das abominações e da perversão'. A bajulação não os levará a nenhum lugar", tuitou o blogueiro @Maitre_Eolas a seus 200 mil seguidores.
@IamLepoy se divertiu com o carro usado pelos agressores: "o cara aluga o último carro de sua vida e escolhe um Polo".
Um dos seus alvos preferidos, no entanto, é Jawad Bendaoud, o homem que, como "um favor", emprestou o apartamento onde se esconderam vários jihadistas, em Saint-Denis, ao norte de Paris.
O homem de 30 anos explicou à AFP que um amigo lhe pediu para alojar dois de seus amigos durante alguns dias. "Não sabia que eram terroristas", assegurou aos meios de comunicação, na quarta-feira, antes de ser detido. Suas declarações foram parodiadas sem piedade pelos internautas.
"Me perguntaram se sabia fazer coquetéis molotov e disse-lhes que não era barman", brincou @Zonizoz. "Ouvia falarem em granadas (que em espanhol significa artefato explosivo ou romã), mas pensei que se tratava daquela deliciosa fruta exótica", ironizava @Un_Idiot_Dit, em mensagem compartilhada mais de 5 mil vezes.
Em um evento no Facebook, quase 20 mil pessoas confirmaram presença na "festa do pijama" no apartamento de Bendaoud.
Risoterapia
Comediantes voltaram aos palcos para animar um público menos numeroso desde os ataques, adaptando seus roteiros.
"Somos soldados do humor. Buscamos dar um pouco de felicidade às pessoas, de mudar seus pensamentos neste momento difícil", explicou a humorista Anne Roumanoff, que na quinta-feira retomou seu espetáculo "Aimons-nous les uns les autres" (Amemos uns aos outros).
Na noite dos ataques, ela ficou confinada por duas horas no final de seu show com centenas de espectadores em um teatro no bairro da Praça da República, próximo ao lugar dos atentados, antes de ser resgatada.
A humorista cancelou as duas sessões seguintes. "Não me sentia capaz", disse à AFP.
Mas na quinta-feira voltou a subir ao palco e se declarou "surpresa com as risadas do público" e o "fervor" da sala. "As pessoas sabem porquê estão aqui e estão orgulhosas por estarem aqui", disse.
Os acontecimentos a levaram a mudar um pouco o roteiro. "Em um esquete, fazia piadas sobre os serviços de inteligência franceses; cortei essa parte porque pensei que era indecente brincar com isso", contou.
No teatro Deux-Anes, do bairro de Pigalle, uma obra satírica sobre a vida política foi mantida no dia seguinte aos atentados, também com alguns ajustes.
"Retiramos tudo que poderia parecer deslocado em relação às vítimas", explicou à AFP o diretor do teatro, citando, entre outros, um número sobre o atentado frustrado contra um trem Thalys em agosto passado.
Retomar o espetáculo não foi fácil, segundo o roteirista.
"Explicamos aos espectadores que não baixamos nossas cabeças e que sua presença era nosso maior alento", disse. "Creio que temos um papel terapêutico através de nosso enfoque humorístico".