Refugiados não são números, mas pessoas, diz papa Francisco em ilha grega

Em Lesbos

  • Alkis Konstantinidis/Reuters

O papa Francisco pediu ao mundo e, sobretudo, à Europa, para que responda de maneira "digna de nossa humanidade comum" à crise migratória, durante uma visita ao campo de Moria, na ilha de Lesbos, símbolo do endurecimento da posição europeia frente a crise.

O Papa chegou no final da manhã deste sábado (16) neste campo onde 3.000 pessoas, incluindo muitas mulheres e crianças, estão bloqueadas, à espera de serem reenviadas para a Turquia e a seus países de origem porque chegaram em solo grego depois do dia 20 de março, data da entrada em vigor do acordo UE-Turquia.

"Queridos amigos, quero dizer que vocês não estão sozinhos (...). Não percam a esperança!", declarou o Papa, dirigindo-se aos refugiados e migrantes em Moria, sobre quem ele enfatizou o sofrimento e a incerteza "face ao que o futuro reserva".

"Que todos os nossos irmãos e irmãs deste continente, como o Bom Samaritano, venham ajudá-los no espírito da fraternidade, solidariedade e respeito pela dignidade humana que marcou sua longa história", acrescentou, em uma repreensão implícita a vontade das autoridades europeias de reenviar esses migrantes à Turquia.

"Os imigrantes, antes de serem números, são pessoas", ressaltou.

Francisco, acompanhado pelo patriarca de Constantinopla Bartolomeu e de Ieronymos, o arcebispo ortodoxo de Atenas e de toda a Grécia, passou uma hora no campo, cumprimentando, abençoando e recebendo com carinho os desenhos de várias crianças.

"Viemos aqui para atrair a atenção do mundo sobre esta grave crise humanitária e pedir por sua resolução", acrescentou o pontífice.

"Freedom" (liberdade) gritou a multidão, que o recebeu com cartazes de "Help" (ajuda).

"Abençoe-me", soluçou um migrante ajoelhado diante do Papa.

"Aqueles que têm medo de vocês não olharam em seus olhos (...) não viram os seus filhos", acrescentou o patriarca de Constantinopla, e "o mundo será julgado sobre a maneira como tem os tratado".

Antes de ir almoçar com alguns refugiados no campo, os três prelados também assinaram uma declaração conjunta pedindo ao mundo para mostrar "coragem" para enfrentar esta "crise humanitária colossal".

Os exilados de Moria estão detidos em condições denunciadas como miseráveis por ONGs, após o endurecimento europeu frente ao êxodo iniciado em 2015 de pessoas que fogem de guerras e da pobreza.

Uma situação marcada pelo fechamento da rota dos Balcãs e pelo acordo UE-Turquia.

A visita do Papa à ilha de Lesbos, porta de entrada dos migrantes na Europa, visa insistir em uma mensagem de solidariedade e acolhida, que ainda encontra dificuldades para superar as tensões xenófobas.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ecoou essa mensagem durante uma breve entrevista depois da chegada do Papa, criticando "alguns parceiros europeus que, em nome da Europa cristã, elevaram muros altos".

'Pessoas que sofrem' No avião, o Papa ressaltou à imprensa que sua viagem seria "marcada pela tristeza".

"Vamos ver tantas pessoas que sofrem, que fogem e que não sabem para onde ir. E nós também estamos indo para um cemitério, o mar", disse o Papa aos repórteres durante o voo.

Os três líderes cristãos devem realizar uma cerimônia aos mortos no porto da ilha, jogando coroas de flores no mar.

Desde o início do ano, 375 migrantes, em sua maioria crianças, morreram afogados tentando a travessia, somando-se aos milhares de mortos em 2015.

Essas tragédias diminuíram consideravelmente desde a entrada em vigor do acordo UE-Turquia, uma vez que as chegadas nas ilhas gregas baixaram de milhares por dia para algumas dezenas atualmente.

O papa deve retornar a Roma às 15h15 (9h15 de Brasília). De acordo com o governo grego, ele expressou o desejo de levar ao Vaticano alguns refugiados de Lesbos que chegaram antes do dia 20 - três famílias, uma dúzia de pessoas - de acordo com a agência grega Ana.

Uma maneira de evitar uma intervenção muito política, enquanto que de acordo com o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, a visita à Lesbos é "estritamente humanitária e ecumênica, não política".

Neto de imigrantes italianos, o Papa intensificou o seu posicionamento em favor da acolhida dos refugiados e migrantes.

Poucos meses depois de sua eleição, Jorge Bergoglio havia visitado a ilha italiana de Lampedusa, principal porta de entrada para os migrantes, para criticar a "globalização da indiferença" às tragédias migratórias.

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