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Farc viram partido político, pedem perdão e defendem governo de transição

Raul Arboleda/AFP
Imagem: Raul Arboleda/AFP

Em Bogotá

01/09/2017 23h39

A antiga guerrilha das Farc pediu perdão ao povo colombiano e defendeu um governo de transição para 2018, ao apresentar seu partido político, definido como "revolucionário" e "de caráter amplo e diverso", nesta sexta-feira (1º).

Na Praça Bolívar, coração político de Bogotá, a poucos metros da sede presidencial, milhares de simpatizantes da que foi a principal organização rebelde da América comemoraram a criação do partido Força Alternativa Revolucionária do Comum.

"Abandonamos as armas para fazer política por caminhos pacíficos e legais, queremos construir com todos e todas vocês um país diferente", proclamou o líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño "Timochenko".

Londoño reafirmou a proposta do grupo para um governo de transição, lançada em dezembro para apoiar um candidato presidencial nas eleições de 2018 que garanta o cumprimento do pacto de paz alcançado com o regime de Juan Manuel Santos após quatro anos de negociações. "Apoiaremos decididamente todos os que estiverem dispostos a defendê-lo (o acordo) e a impedir que o atinjam".

"Timochenko" reafirmou seu pedido de desculpas pelos milhares de crimes durante mais de meio século de conflito armado. "Não vacilamos em estender nossas mãos em sinal de perdão e reconciliação, queremos uma Colômbia sem ódio, viemos para professar a paz e o amor fraternal de compatriotas".

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De guerrilha a partido

Horas antes, em entrevista coletiva, a liderança das Farc apresentou seu partido político, com o qual disputará as eleições gerais de 2018. A Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc) terá um "caráter amplo, um novo partido para uma nova Colômbia", disse o ex-comandante guerrilheiro Pablo Catatumbo.

Será um movimento "comprometido em garantir a justiça social, a paz, a soberania, por uma reforma agrária, pela defesa dos interesses populares", acrescentou. Mais de 1.200 delegados daquela que foi a principal guerrilha da América discutiram entre domingo e quinta-feira alinhamentos, estatutos e candidatos das Farc para a eleição, depois da assinatura em novembro de um acordo de paz.

Catatumbo explicou à AFP que os candidatos serão selecionados pela direção nacional, de 111 integrantes e eleitos no Congresso, e inscritos em novembro ante as autoridades eleitorais. O acordo de paz garante 10 cadeiras no Congresso para as Farc, cinco em cada Câmara, embora ainda devam participar das eleições.

No caso de não alcançarem as cadeiras pelo voto popular, lhes serão outorgados os necessários até que cumpram a cota acordada. Entre os pré-candidatos da ex-guerrilha há comandantes guerrilheiros como Catatumbo, Carlos Antonio Lozada, Iván Márquez e Victoria Sandino.

Os rebeldes definiram na quinta-feira o nome que substituirá o das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que utilizaram desde o seu surgimento em 1964, e o logo do partido, uma rosa vermelha com uma estrela no meio e a sigla das Farc em verde.

"Entramos na vida política legal porque queremos ser o governo ou fazer parte dele", disse Iván Márquez, chefe negociador dos rebeldes nos diálogos com o governo de Juan Manuel Santos. Segundo Márquez, as Farc serão "pragmáticas" e, além de defender as questões que apoiaram durante os 53 anos de luta armada, buscarão "garantir a implementação do acordo de paz".

Para isso, procurarão "uma grande coalizão democrática de ampla convergência, construída a partir de alinhamentos compartilhados e compromissos mútuos", afirmou, sem dar detalhes dos partidos e organizações com os quais poderão se aliar.

Os dirigentes rebeldes declararam que para o seu novo partido convocarão populações camponesas, jovens, operários, mulheres maltratadas e excluídas, intelectuais, ambientalistas, membros de comunidades étnicas, entre outros.

Em um país historicamente dominado pela direita liberal e conservadora, o novo partido manterá a defesa de suas antigas bandeiras: justiça social, reforma agrária e educação e saúde gratuitas e universais. Mas o caminho não será fácil: a maioria dos colombianos relaciona a sigla Farc aos milhares de crimes atribuídos à guerrilha em meio século de conflito armado e os rebeldes têm uma imagem desfavorável para 80% da população.

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AFP