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Nas escolas e nos mapas do país vizinho, Malvinas são argentinas

02/04/2012 05h25

Nas escolas da Argentina, os estudantes aprendem que as ilhas Malvinas (Falklands, para os britânicos) são argentinas e que a Grã-Bretanha "usurpou" o arquipélago do Atlântico Sul há quase duzentos anos, em 1833.

Eles também aprendem que a guerra de 1982 foi iniciativa da "ditadura militar" no país e que a Argentina insistirá em recuperá-las através da via diplomática. Ensinamentos que neste século ganharam mais espaço nos livros e nas atividades escolares, segundo autoridades e professores ouvidos pela BBC Brasil.

Durante cerca de vinte anos, após a rendição das tropas argentinas, em junho de 1982, o assunto perdeu destaque no currículo escolar, como contaram os professores. Agora, a abordagem foi ampliada e o enfoque nas salas de aula inclui o apoio da região à Argentina, disseram.

Uma das provas foi o mapa pintado no pátio da Escola de Comércio Número 12, Juan XXIII, no bairro de Villa Lugano, a uma hora do centro de Buenos Aires. Ali, os alunos pintaram as bandeiras dos países da região - incluindo a do Brasil - e as Ilhas Malvinas nas cores azul e branca - da bandeira argentina. Junto ao mapa a frase: "Defendamos nossa soberania".

30 anos

A discussão sobre a posse das Malvinas ganhou intensidade este ano, com o aniversário, neste 2 de abril, dos 30 anos do desembarque das tropas argentinas no local e do inicio da guerra com os britânicos, que terminou em 14 de junho daquele ano.

Nos últimos dias, a disputa pelas ilhas envolveu discursos acalorados da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e do primeiro ministro britânico, David Cameron. E levou um grupo de intelectuais argentinos a assinar um documento pedindo que seja aberto o debate sobre as Ilhas levando em consideração o que pensam hoje os ilhéus. O texto gerou polêmicas.

Ouvidos pela BBC Brasil, o subsecretário de Igualdade e Qualidade do Ministério da Educação, Eduardo Aragundi, e os professores da rede pública Edith Fernández, de geografia, e Claudio Chávez, de história, afirmaram que "não há dúvidas" de que as ilhas são argentinas e que elas fazem parte da "identidade" nacional.

"Somos claros com nossas crianças nas escolas. A guerra foi liderada pelo horror da ditadura militar e nosso povo não participou daquela ação. Ensinamos que as Malvinas são argentinas e que negociamos a soberania pela via diplomática", afirmou Aragundi.

Ele contou que o ministério enviou amplo material, incluindo cartazes e DVDs, para as escolas. Os cartazes mostram como as Malvinas estão presentes, de alguma forma, em todo o país. Seja com monumentos, mapas ou dando nome a escolas, bairros e cidades.

"Enviamos ainda aos professores material para orientá-los a abordar esta questão. As ilhas não são pedaços de pedra, mas parte da nossa história", disse Aragundi. A orientação envolve as quarenta e cinco mil escolas do país, com onze milhões de alunos e novecentos mil professores. "Somos um país federal, mas tentamos dar conteúdo escolar similar em todo o nosso território", disse.

Chávez, de 60 anos, professor de escola de adultos, disse que aprendeu, quando estudante, e ensina que as Malvinas são argentinas. Mas ressalvou que às vezes o enfoque sobre a guerra pode mudar, segundo cada professor. "Porém, o clima político no país é o de que a guerra foi um erro, que os militares foram assassinos ao enviarem jovens despreparados (para a batalha) e esse clima se transmite nas escolas", disse.

Silêncio

Fernández, de 45 anos, professora há 23 anos, contou que antes da guerra de 1982, quando estava no primário, aprendeu "intensamente" que as ilhas são argentinas.

"No primário eu já aprendi a fazer o nosso mapa incluindo as ilhas Malvinas", disse. Mas depois da "rendição" dos argentinos para os bitânicos, recordou, houve um "silêncio" sobre a questão nas salas de aula. Com isso, disse, seus filhos, Lucas, de 19 anos, e Florência, de 15 anos, não tiveram, no primário, a mesma intensidade na educação sobre Malvinas.

Como a mãe, eles aprenderam que as ilhas são argentinas, mas em um capítulo sem peso no currículo escolar. Depois da guerra, recordou Fernández, houve "um vazio de conteúdo" escolar sobre as Malvinas. Atitude que, segundo analistas, foi observada em vários setores levando veteranos a se sentirem excluídos e a cometerem suicídios, como indicaram levantamentos.

"Esse silêncio nos livros escolares durou anos. Nos livros a história da usurpação das ilhas pelos ingleses e da guerra era contada rapidamente. Mas essa postura mudou pelo menos a partir do governo Kirchner (Néstor Kirchner, 2003-2007)", disse. Desde então, livros escolares de geografia ensinam, contou Fernández, sobre a importância da soberania das Malvinas.

Tanto o subsecretário do Ministério da Educação quanto Chávez e Fernández afirmaram que as ilhas foram "usurpadas" pelos britânicos em 1833.

"Nos livros de geografia ensinamos que as ilhas foram invadidas pelos espanhóis em 1520, depois ocorreu uma tentativa de invasão francesa, outra inglesa e o domínio da Espanha até a independência. O período de ocupação argentina durou de 1820 a 1833 até a usurpação dos britânicos", disse ela.

Os alunos de Fernández aprendem que os "gaúchos" argentinos foram tirados da ilha "à força". Eles também aprendem que os britânicos "ameaçam os recursos naturais" das ilhas, ao aumentarem a pesca e ao explorarem petróleo na região. E ensinam que esperam que o arquipélago volte a ter "soberania" argentina.