Crise política no Paraguai: As visões dos países vizinhos
A crise que provocou o impeachment de Fernando Lugo teve forte repercussão em toda a América do Sul.
A maior parte dos governos condenou a retirada do ex-presidente do poder, afirmando que ele não teve tempo suficiente para se defender das acusações no Congresso.
Alguns países tomaram medidas duras, como a Venezuela, que suspendeu o envio de petróleo ao Paraguai. Outros, como o Brasil, se limitaram a convocar seus embaixadores para consultas e ainda estão avaliando quais são as medidas mais adequadas.
Confira abaixo, no relato de correspondentes da BBC, como a crise política do Paraguai repercutiu na região.
ARGENTINA E BOLÍVIA - Vladimir Hernandez
O governo argentino foi o primeiro país a retirar seu embaixador do Paraguai, após a indicação de Federico Franco como presidente interino.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, condenou rapidamente o resultado da votação, chamando o episódio de "um golpe de Estado".
O ministro das Relações Exteriores da Argentina foi um dos enviados da missão da Unasur à Assunção para tentar mediar a situação no Senado e evitar a destituição de Lugo.
Na Argentina, a crise foi coberta com bastante profundidade pela imprensa e televisão. Os principais jornais enviaram correspondentes à capital paraguaia. Rádio e televisão - em especial os canais alinhados ao "kirchnerismo" - cobriram constantemente o caso Lugo, com acusações de "golpe de Estado".
Uma das principais comunidades imigrantes da Argentina é a paraguaia.
Na Bolívia, também se alinhou aos demais governos da região, enquanto o país enfrenta uma crise interna própria, em meio a uma greve da polícia.
O presidente boliviano também chamou a destituição de Lugo de "golpe de Estado". Bolívia e Paraguai foram adversários ferozes nos anos 1930.
BRASIL - João Fellet
O governo brasileiro condenou o "rito sumário de destituição" e convocou o embaixador no Paraguai para consultas. No entanto, o Itamaraty disse em uma nota oficial que o governo brasileiro "não tomará medidas que prejudiquem o povo irmão do Paraguai".
A convocação do embaixador brasileiro para consultas, que no protocolo diplomático indica séria reprovação à decisão paraguaia, foi anunciada horas após a Argentina adotar a mesma postura.
A queda de Lugo teve repercussão favorável entre grande parte dos "brasiguaios" - como são chamados os cerca de 350 mil brasileiros e seus descendentes que começaram a migrar para o Paraguai em busca de terras baratas nos anos 60.
Primeiro presidente esquerdista na história recente do Paraguai, Lugo era apontado por brasiguaios e grandes proprietários de terra como um aliado dos sem-terra. Segundo fazendeiros "brasiguaios", enquanto permaneceu no cargo, ele estimulou ocupações, o que teria provocado uma escalada na violência no campo.
CHILE - Rodrigo Bustamante
No Chile, a imprensa seguiu de perto o processo que levou à destituição de Fernando Lugo. No campo político, as reações foram variadas.
O governo do presidente Sebastián Piñera teve uma atitude classificada de "prudente" pelos ministros: chamou seu embaixador em Assunção, Cristián Maquieira, para consultas.
A oposição chilena falou em "golpe de Estado institucional" no Paraguai e cobrou uma postura "mais proativa" do governo, mas o ministro das Relações Exteriores, Alfredo Moreno, enfatizou que o Chile não tomará nenhuma atitude enquanto os presidentes da região não se pronunciarem nas cúpulas da Unasul e do Mercosul.
EQUADOR - Paúl Mena Erazo
O presidente equatoriano, Rafael Correa, reiterou que não reconhecerá nenhum outro presidente do Paraguai que não Fernando Lugo.
Ele também disse que "em oito meses haverá eleições no Paraguai, e que o governo que emergir destas eleições - se forem transparentes, democráticas - será aí sim reconhecido pelo governo equatoriano".
Seguindo esta orientação, o governo de Quito retirou seu embaixador do Paraguai, Julio Prado. Para o governo equatoriano, a saída de Fernando Lugo é um golpe de Estado. Correa quer que a Unasur aplique a Carta Democrática - estabelecendo medidas em caso de "rompimento democrático" em um país da região.
Setores da oposição criticam o fato de o Equador rechaçar "intervencionismo estrangeiro" em países como Síria e Líbia, mas estar agora pressionando o Paraguai.
URUGUAI - Denise Mota
O presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, classificou a destituição de Fernando Lugo de "golpe de Estado parlamentar". Em comunicado oficial, o chanceler Luis Almagro considerou que "a imposição de um novo presidente nessas condições não condiz com as práticas democráticas fundamentais".
Mujica disse ainda não estar de acordo com a imposição de sanções econômicas ao Paraguai, porque "isso termina sendo pago pelas pessoas", mas apoiou a suspensão da participação do país em processos de decisão do Mercosul. O Uruguai também retirou seu embaixador, Enrique Fischer, de Assunção.
"Em solidariedade com o povo paraguaio", entidades como a Federação de Estudantes do país e a coalizão governista Frente Amplio estão organizando manifestações pró-Lugo no centro de Montevidéu. Mas partidos de oposição (Nacional, Colorado e Independiente) vêm ressaltando a constitucionalidade do processo.
Os meios de comunicação do país também se dividem sobre o tema. Os mais conservadores enfatizam a legalidade da saída de Lugo. Os que estão mais próximos da esquerda criticam sua deposição.
VENEZUELA - Abraham Zamorano
O presidente Hugo Chávez fez críticas duras contra o novo regime Paraguaio e classificou o impeachment de Fernando Lugo como um golpe de estado. Ele chamou o novo presidente paraguaio de "usurpador".
"Para nós, o presidente do Paraguai ainda é Fernando Lugo. Nós não reconhecemos este governo", disse Chávez.
O presidente venezuelano também ordenou a retirada de seu embaixador de Assunção. Além disso, ele suspendeu o envio de petróleo ao Paraguai, no volume de 7,5 mil barris por dia.
"Nós não vamos apoiar este golpe de Estado de nenhuma forma - direta ou indireta", disse.
O candidato da oposição à Presidência da Venezuela, Henrique Capriles, disse que não concorda com o julgamento político que está sendo feito no Paraguai.
Já os jornais - muitos deles alinhados à oposição - têm sustentado que Lugo foi retirado do poder dentro de todos os marcos legais.
A maior parte dos governos condenou a retirada do ex-presidente do poder, afirmando que ele não teve tempo suficiente para se defender das acusações no Congresso.
Alguns países tomaram medidas duras, como a Venezuela, que suspendeu o envio de petróleo ao Paraguai. Outros, como o Brasil, se limitaram a convocar seus embaixadores para consultas e ainda estão avaliando quais são as medidas mais adequadas.
Confira abaixo, no relato de correspondentes da BBC, como a crise política do Paraguai repercutiu na região.
ARGENTINA E BOLÍVIA - Vladimir Hernandez
O governo argentino foi o primeiro país a retirar seu embaixador do Paraguai, após a indicação de Federico Franco como presidente interino.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, condenou rapidamente o resultado da votação, chamando o episódio de "um golpe de Estado".
O ministro das Relações Exteriores da Argentina foi um dos enviados da missão da Unasur à Assunção para tentar mediar a situação no Senado e evitar a destituição de Lugo.
Na Argentina, a crise foi coberta com bastante profundidade pela imprensa e televisão. Os principais jornais enviaram correspondentes à capital paraguaia. Rádio e televisão - em especial os canais alinhados ao "kirchnerismo" - cobriram constantemente o caso Lugo, com acusações de "golpe de Estado".
Uma das principais comunidades imigrantes da Argentina é a paraguaia.
Na Bolívia, também se alinhou aos demais governos da região, enquanto o país enfrenta uma crise interna própria, em meio a uma greve da polícia.
O presidente boliviano também chamou a destituição de Lugo de "golpe de Estado". Bolívia e Paraguai foram adversários ferozes nos anos 1930.
BRASIL - João Fellet
O governo brasileiro condenou o "rito sumário de destituição" e convocou o embaixador no Paraguai para consultas. No entanto, o Itamaraty disse em uma nota oficial que o governo brasileiro "não tomará medidas que prejudiquem o povo irmão do Paraguai".
A convocação do embaixador brasileiro para consultas, que no protocolo diplomático indica séria reprovação à decisão paraguaia, foi anunciada horas após a Argentina adotar a mesma postura.
A queda de Lugo teve repercussão favorável entre grande parte dos "brasiguaios" - como são chamados os cerca de 350 mil brasileiros e seus descendentes que começaram a migrar para o Paraguai em busca de terras baratas nos anos 60.
Primeiro presidente esquerdista na história recente do Paraguai, Lugo era apontado por brasiguaios e grandes proprietários de terra como um aliado dos sem-terra. Segundo fazendeiros "brasiguaios", enquanto permaneceu no cargo, ele estimulou ocupações, o que teria provocado uma escalada na violência no campo.
CHILE - Rodrigo Bustamante
No Chile, a imprensa seguiu de perto o processo que levou à destituição de Fernando Lugo. No campo político, as reações foram variadas.
O governo do presidente Sebastián Piñera teve uma atitude classificada de "prudente" pelos ministros: chamou seu embaixador em Assunção, Cristián Maquieira, para consultas.
A oposição chilena falou em "golpe de Estado institucional" no Paraguai e cobrou uma postura "mais proativa" do governo, mas o ministro das Relações Exteriores, Alfredo Moreno, enfatizou que o Chile não tomará nenhuma atitude enquanto os presidentes da região não se pronunciarem nas cúpulas da Unasul e do Mercosul.
EQUADOR - Paúl Mena Erazo
O presidente equatoriano, Rafael Correa, reiterou que não reconhecerá nenhum outro presidente do Paraguai que não Fernando Lugo.
Ele também disse que "em oito meses haverá eleições no Paraguai, e que o governo que emergir destas eleições - se forem transparentes, democráticas - será aí sim reconhecido pelo governo equatoriano".
Seguindo esta orientação, o governo de Quito retirou seu embaixador do Paraguai, Julio Prado. Para o governo equatoriano, a saída de Fernando Lugo é um golpe de Estado. Correa quer que a Unasur aplique a Carta Democrática - estabelecendo medidas em caso de "rompimento democrático" em um país da região.
Setores da oposição criticam o fato de o Equador rechaçar "intervencionismo estrangeiro" em países como Síria e Líbia, mas estar agora pressionando o Paraguai.
URUGUAI - Denise Mota
O presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, classificou a destituição de Fernando Lugo de "golpe de Estado parlamentar". Em comunicado oficial, o chanceler Luis Almagro considerou que "a imposição de um novo presidente nessas condições não condiz com as práticas democráticas fundamentais".
Mujica disse ainda não estar de acordo com a imposição de sanções econômicas ao Paraguai, porque "isso termina sendo pago pelas pessoas", mas apoiou a suspensão da participação do país em processos de decisão do Mercosul. O Uruguai também retirou seu embaixador, Enrique Fischer, de Assunção.
"Em solidariedade com o povo paraguaio", entidades como a Federação de Estudantes do país e a coalizão governista Frente Amplio estão organizando manifestações pró-Lugo no centro de Montevidéu. Mas partidos de oposição (Nacional, Colorado e Independiente) vêm ressaltando a constitucionalidade do processo.
Os meios de comunicação do país também se dividem sobre o tema. Os mais conservadores enfatizam a legalidade da saída de Lugo. Os que estão mais próximos da esquerda criticam sua deposição.
VENEZUELA - Abraham Zamorano
O presidente Hugo Chávez fez críticas duras contra o novo regime Paraguaio e classificou o impeachment de Fernando Lugo como um golpe de estado. Ele chamou o novo presidente paraguaio de "usurpador".
"Para nós, o presidente do Paraguai ainda é Fernando Lugo. Nós não reconhecemos este governo", disse Chávez.
O presidente venezuelano também ordenou a retirada de seu embaixador de Assunção. Além disso, ele suspendeu o envio de petróleo ao Paraguai, no volume de 7,5 mil barris por dia.
"Nós não vamos apoiar este golpe de Estado de nenhuma forma - direta ou indireta", disse.
O candidato da oposição à Presidência da Venezuela, Henrique Capriles, disse que não concorda com o julgamento político que está sendo feito no Paraguai.
Já os jornais - muitos deles alinhados à oposição - têm sustentado que Lugo foi retirado do poder dentro de todos os marcos legais.
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