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Ofensiva israelense à Faixa de Gaza pode ter 'efeito bumerangue'

15/11/2012 15h10

A operação militar contra a Faixa de Gaza, iniciada em retaliação a ataques de foguetes feito por militantes palestinos contra o sul do território israelense, pode ter efeitos prejudiciais para Israel.

Segundo observadores do conflito, pode haver um aumento da violência e uma deterioração das relações com o principal vizinho árabe, o Egito.

A principal crítica recai sobre o assassinato do comandante militar do Hamas, Ahmed Jabari, na operação denominada "Coluna de Nuvem". Para analistas, a operação pode se revelar um tiro pela culatra.

De acordo com, Aluf Ben, do jornal Haaretz, Jabari era o "homem forte" de Gaza, um dos únicos lideres com autoridade para impor um cessar fogo às outras facções palestinas, mais radicais do que o Hamas, inclusive grupos salafistas que se identificam com a Al-Qaeda.

"A função de Jabari era preservar a segurança de Israel. Israel exigiu que o Hamas implementasse o cessar-fogo e ele era o homem encarregado de fazê-lo", afirmou Ben.

Na ausência de Jabari, grupos como o Jihad Islâmico, o Comitê de Resistência Popular, e facções salafistas poderão aumentar os ataques contra o sul de Israel.

Logo após a morte de Jabari, facções palestinas disseram que com a morte de Jabari Israel havia aberto "as portas do inferno".

De acordo com o governo israelense o objetivo da ofensiva é "restaurar a tranquilidade para o sul de Israel e o poder de dissuasão frente ao Hamas".

Cisjordânia

O Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, tem interesse em se manter no poder e, para isso, necessita de uma situação estável com Israel, que domina o fornecimento de água, energia e alimentos para a região.

Desde a última grande ofensiva israelense à Faixa de Gaza, denominada "Operação Chumbo Fundido", em janeiro de 2009, houve um acordo tácito de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

De acordo com o jornalista palestino, Hanna Siniora, a nova ofensiva poderá fortalecer o Hamas também na Cisjordânia, hoje controlada pelo partido moderado Fatah.

"O Hamas poderá se apresentar ao público palestino como líder da resistência à ocupação israelense, e dizer que o Fatah apenas negocia sem alcançar resultado algum", disse Siniora à BBC Brasil.

De acordo com a avaliação de Siniora, o substituto de Jabari será "mais radical".

Para Mahdi Abdul Hadi, diretor da Passia - Associação Palestina de Estudos Internacionais - a ofensiva à Faixa de Gaza contribui para desviar a atenção do mundo e do próprio público palestino, da iniciativa diplomática do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

Abbas declarou que no dia 29 deste mês pretende encaminhar um pedido formal de reconhecimento do Estado Palestino como Estado não-membro das Nações Unidas, com status de observador.

Egito

Segundo Abdul Hadi, além de Israel e do Hamas, o Egito é outro "protagonista muito importante" no confronto.

"Existe agora um novo Egito, que não irá ficar de braços cruzados vendo a Faixa de Gaza ser bombardeada", disse o analista à BBC Brasil, em referência ao novo governo egipcio, liderado por Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana.

Poucas horas depois do início da ofensiva israelense à Faixa de Gaza, Mursi instruiu o embaixador egipcio em Israel a retornar ao país.

O governo egipcio anunciou que tomará "medidas mais graves" se Israel não interromper o ataque à Faixa de Gaza.

"O Egito, liderado por Mursi, está retomando a liderança do mundo árabe, e não se comportará como o ex-presidente Hosni Mobarak, que colaborou com o bloqueio israelense à Faixa de Gaza", afirmou Abdul Hadi.

O acordo de paz entre Israel e Egito, firmado em 1979, é considerado um dos pilares estratégicos de Israel no Oriente Médio.

Caso a relação com o Egito se deteriorar, o país se encontrará em uma situação estratégica totalmente nova e muito mais complexa.