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Black Blocs cativam e assustam manifestantes mundo afora

07/09/2013 12h56

Jovens mascarados e vestidos de preto andam em grupo no meio de protestos. Portam bandeiras negras ou símbolos anarquistas, quebram vidraças, entram em confronto com a polícia e embora não possuam líderança clara, têm nome definido: Black Blocs.

Essa poderia ser uma cena vista no Brasil, no Egito, na Turquia, na Grécia, nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar do mundo.

Para Francis Dupuis-Déri, professor de ciência política da UQAM (Université du Québec à Montréal) e autor do livro "Les Black Blocs", a internet e a crescente insatisfação com os governos e a economia impulsionam o movimento.

"Os Black Blocs são fáceis de identificar, eles usam roupas específicas. É algo simples de ser reproduzido. Alguém pode vê-los na TV e imitá-los. Acredito que a internet também tenha um papel crucial", disse.

De acordo com Dupuis-Déri, que pesquisa os grupos há dez anos, a internet se tornou o seu principal canal de comunicação porque permite que os grupos interajam rapidamente e organizem protestos.

"Os Black Blocs não são uma organização permanente. Pelo caráter anarquista desses grupos, eles não têm um líder ou um representante para falar com o governo, por exemplo. Antes e depois de uma manifestação, eles não existem", explicou.

No Brasil, como em outras partes, os Black Blocs usam o Facebook para postar vídeos, fotos e organizar atos. Foi por meio do perfil Black Bloc Egypt que jovens egípcios convocaram ataques ao palácio presencial e o fechamento de pontes no Cairo.

Identificando-se apenas como Morro, um dos administradores da página egípcia contou à BBC Brasil que o grupo já se reunia há dois anos para protestar. "Primeiro, pensamos em formar um movimento hooligan, mas depois vimos vídeos e Black Blocs na Grécia e nos inspiramos", disse.

As táticas violentas dos Black Blocs no Egito foram duramente reprimidas pelas forças de segurança. Ao menos três membros do grupo foram mortos e dezenas estão presos. Atualmente, o grupo tem presença tímida nas manifestações.

Assim como no Brasil, onde Black Blocs têm depredado agências bancárias e concessionárias de carro, no Egito o grupo provocou a desconfiança do público e de outros manifestantes.

"A maior parte das pessoas no Egito tem medo deles, acha que são vândalos ou bandidos", afirmou a ativista egípcia Nihal Zaghloul.

Tática

Surgida nos anos 1980 na Alemanha no âmbito dos movimentos de contra-cultura e em defesa dos squats, a tática de protesto Black Bloc originalmente pode ou não usar a violência e tem alvos específicos, como agências bancárias.

Da década de 1990 em diante, a técnica Black Bloc se espalhou pelas cenas anarquistas, punk, anti-facistas e ecológicas. E ganhou força em mobilizações contra o neoliberalismo e o capitalismo, como na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1999, em Seattle, em 2001, em Roma, ou durante a reunião do G20 em Toronto, em 2010.

Segundo Dupuis-Déri, os Black Blocs são em geral indivíduos com ativa participação política no dia a dia.

Os Black Blocs que participaram dos protestos de 2012 no Quèbéc, Canadá, se disseram "estudantes, trabalhadores, desempregados e revoltados", no "Manifeste du Carré Noir", que fizeram circular na internet.

Recentemente, grupos Black Blocs atuaram em diferentes protestos contra os governos na Grécia, na Turquia, no Chile e no México.

"Os Black Blocs são sintomáticos de uma crescente insatisfação mundial com os governos e o sistema econômico. A violência em um movimento social sempre tende a assustar e afastar as pessoas, isso é senso comum. Mas há casos em que a violência chamou a atenção da mídia, levantou um debate público, denunciou repressões", explicou o cientista político.

Violência

Movimentos como os protestos de Seatlle fizeram conhecida a face violenta desses grupos, mas a violência "não é necessariamente usada pelos Black Blocs", diz o professor de ciência política canadense.

"Os atos violentos são dirigidos a alvos determinados como as forças de segurança e os bancos. Casos de furtos ou roubos não são comuns".

O acadêmico lembra também que a violência é uma constante histórica em lutas de movimentos sociais e revoluções.

"Mesmo o movimento feminista pelo direito ao voto no início do século 20 viu momentos de violência", diz Dupuis-Déri.

Em 1911, centenas de mulheres saíram às ruas de Londres em protesto e quebraram janelas e vitrines no centro comercial da cidade. A então líder do movimento feminista Emmeline Pankhurst disse que "o argumento da vidraça quebrada era o argumento mais valorizado na política moderna".

Depois da prisão em massa das ativistas ela ainda alegou que "elas tinham tentado tudo - protestos e reuniões - mas nada funcionara".