Topo

Imigrantes em barcos à deriva relatam mortes em 'briga por comida'

18/05/2015 08h35

Imigrantes resgatados de um barco que ficou à deriva por semanas no Sudeste Asiático disseram que cerca de cem pessoas morreram em brigas por comida a bordo.

Segundo eles, alguns foram apunhalados, outros enforcados, golpeados até a morte com tábuas de madeira ou lançados ao mar.

Milhares de imigrantes de Bangladesh e Mianmar estão à deriva após serem impedidos de desembarcar na Indonésia, Malásia e Tailândia - após ações de autoridades marítimas destes países, que estariam, segundo ONGs, promovendo um "ping-pong humano" nas águas do Índico.

A maior parte dos imigrantes é da minoria étnica muçulmana rohingya, que sofre perseguição em Mianmar. Já os imigrantes de Bangladesh estão em busca de emprego.

"Uma família foi golpeada até morrer com tábuas de madeira. O pai, a mãe, o filho. E depois jogaram seus corpos no mar", disse Mohammad Amin, um dos sobreviventes.

Os relatos sobre as brigas por comida a bordo foram dados por alguns dos 700 imigrantes ilegais que foram resgatados por pescadores na Indonésia na sexta-feira. As informações não puderam ser verificadas pela BBC, mas pelo menos três pessoas disseram a mesma coisa.

A agência de migrações da ONU estima que 8.000 pessoas estejam a deriva no mar do sudeste asiático.

Apesar de 700 pessoas terem sido resgatadas na sexta-feira, quando o barco em que viajavam começou a afundar, outras duas embarcações com centenas de pessoas a bordo seguem à deriva na região do Golfo de Bengala.

A situação pode piorar: nesta segunda-feira, pescadores disseram que o governo da Indonésia ordenou que eles não resgatassem mais imigrantes, ainda que os barcos estivessem afundando. Os pescadores, no entanto, afirmaram que vão continuar salvando os migrantes.

"Eles são seres humanos, precisamos resgatá-los", disse um pescador que, temendo represálias, não quis se identificar.

Desnutridos e desidratados

Os migrantes que tiveram que lutar por comida queriam desembarcar na Malásia, mas afirmam que a Marinha do país os obrigou a abandonar suas águas territoriais.

A embarcação ficou dois meses no mar e, recentemente, foi abandonada pela tripulação. Os sobreviventes, agora, estão alojados em galpões na costa de Langsa, Indonésia.

Muitos estão desnutridos e desidratados. Recebem atendimento em uma clínica de emergência.

Vários deles são mulheres e crianças.

Perseguição

O governo de Mianmar declarou que não era responsável pela situação dos migrantes e destacou que pode não comparecer a uma cúpula regional convocada para tratar da crise se a questão dos rohingya for um dos temas.

Enquanto aumenta a preocupação internacional com a situação dos migrantes no mar, o chanceler da Malásia, Anifah Aman, se reuniu com o seu colega de Bangladesh, Abul Hassan Mahmood Ali, no domingo, para discutir a crise.

Os rohingyas são uma minoria muçulmana não reconhecida pelo governo de Mianmar, uma país de maioria budista. Os rohingyas não apenas não são considerados cidadãos como também são perseguidos. Eles são submetidos a trabalhos forçados e não têm direito à propriedade, entre outras restrições.

"O governo está nos torturando", disse Zukura Khotun, mãe de três filhos que embarcou com a esperança de se reunir com seu marido, que imigrou para a Malásia.

No domingo, foi informado que ao menos cinco embarcações de tráfico de pessoas, com até mil migrantes a bordo, estavam na costa norte de Mianmar.

Já que a Tailândia, Malásia e Indonésia não permitem o desembarque em suas costas, os traficantes de pessoas estão relutantes quanto a iniciar a viagem.

Mas não permitem que os imigrantes abandonem os barcos a não ser que paguem uma quantia em dinheiro, informa Jonah Fisher, correspondente da BBC em Yangon, capital de Mianmar.

Nos últimos três anos, mais de 120 mil rohingyas tomaram o rumo do mar em busca de refúgio em outros países, segundo a agência de refugiados da ONU.