Avanço militar de Rússia e EUA gera temores de nova corrida armamentista
Em meio às crescentes tensões com o Ocidente, o presidente russo, Vladimir Putin, voltou aos holofotes internacionais ao anunciar um incremento no arsenal nuclear do país.
A decisão vem como contrapartida ao crescente enfraquecimento do equipamento militar convencional do país. Moscou está no meio de uma significativa modernização de suas armas nucleares estratégicas, que incluem novos mísseis balísticos, bombardeiros e submarinos.
Nos últimos anos, armamentos mais velhos e obsoletos foram tirados de serviço, e o tamanho do arsenal total da Rússia vinha caindo.
No entanto, esse enxugamento pode em breve chegar ao fim, levantando questionamentos sobre os poderes nucleares do país.
O que alarma o Ocidente agora é a ênfase da retórica russa em armamentos nucleares em detrimento dos tradicionais.
Ameaças de uso de armas nucleares de curto alcance na península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, vinham sendo acompanhadas por alertas velados de atacar países-membros da Otan (a aliança militar ocidental).
'Modernização'
Nesta terça-feira (16), a Rússia disse que colocará em funcionamento mais de 40 novos mísseis balísticos intercontinentais até o fim do ano.
A iniciativa faz parte de um programa de modernização das Forças Armadas do país e ocorre depois que os Estados Unidos propuseram aumentar sua presença militar em Estados da Otan no Leste Europeu --movimento que desperta preocupações quanto a uma possível nova corrida armamentista.
A Otan condenou o anúncio do governo russo, classificando-o de "injustificável" e "perigoso".
A disputa entre a Rússia e o Ocidente tem como pano de fundo o papel de Moscou no conflito que se desenvolve no leste da Ucrânia.
Segundo Putin, as novas armas russas poderiam vencer os sistemas de defesa antimísseis mais avançados tecnicamente.
A Otan e líderes do Ocidente acusaram a Rússia de enviar soldados e armas pesadas, incluindo tanques e mísseis, aos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia.
A Rússia nega a acusação e reforça que os russos que lutam contra o governo ucraniano são "voluntários".
No fim da tarde desta terça-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou por meio de um comunicado que Putin "estava confirmando a tendência e o comportamento da Rússia; temos visto que a Rússia está investindo mais em defesa, em geral, e em sua capacidade nuclear, em particular".
"É injustificável, desestabilizador e perigoso", afirmou ele.
Stoltenberg acrescentou que "o que a Otan faz no leste da Ucrânia é algo comedido, defensivo e totalmente em linha com nossos compromissos internacionais".
Estados Unidos
Na segunda-feira (15), o ministro de Defesa polonês, Tomasz Siemoniak, afirmou que os Estados Unidos vão armazenar armas pesadas, incluindo tanques e veículos de infantaria, no país.
Siemoniak afirmou que o acordo foi discutido entre ele e o secretário de Defesa americano, Ash Carter, no mês passado.
Nas últimas semanas, as Forças Armadas americanas vêm conduzindo exercícios militares no leste da Europa, ante o papel crescente da Rússia no conflito da Ucrânia.
Já autoridades russas descreveram a estratégia dos Estados Unidos como tendo "consequências perigosas".
As três repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) também planejam armazenar armas pesadas americanas, afirmaram autoridades.
Os Estados Unidos apenas confirmaram que vão enviar uma brigada de 250 blindados à Alemanha, incluindo tanques, para apoiar aliados da Otan.
Segundo Carter, o governo americano ainda decidirá se esses veículos serão deslocados para outros países do Leste Europeu.
Se o plano for concretizado, seria a primeira vez desde o fim da Guerra Fria que os Estados Unidos posicionam forças militares no território de antigas repúblicas soviéticas hoje aliadas da Otan.
A iniciativa, segundo o ministro polonês, não seria "de curto prazo", mas duraria "anos ou décadas".
Até 5 mil militares da Otan poderiam ser equipados com armas a serem armazenadas no leste da Europa. Seria uma espécie de brigada de reação rápida da Otan, que poderia ser empregada a curto prazo.
A Casa Branca ainda teria de aprovar o armazenamento das armas pesadas, e nenhuma localização precisa foi determinada.
Além da Polônia e dos países bálticos, Bulgária, Romênia e Hungria também poderiam abrigar equipamento militar americano.
Os Estados Unidos também estão construindo uma base de defesa antimísseis na cidade de Redzikowo, no norte da Polônia, parte de um escudo voltado para proteger países da Otan da ameaça de projéteis de longo alcance vindos da Rússia.
O governo russo condenou o plano de escudos antimísseis e acusou a Otan de pôr em risco a segurança europeia.
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