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Extrema-direita sai na frente em primeiras eleições na França após ataques

7.dez.2015 - Marine Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, dá entrevista em Lille, no norte da frabça - Pascal Rossignol/Reuters
7.dez.2015 - Marine Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, dá entrevista em Lille, no norte da frabça Imagem: Pascal Rossignol/Reuters

Hugh Schofield

Da BBC News em Paris

07/12/2015 08h29

A mensagem do primeiro turno das eleições regionais francesas é simples e direto: outra vez, a extrema-direita saiu na frente.

Pela terceira vez em um ano e meio, Marine Le Pen pode dizer, legitimamente, que a Frente Nacional (FN) é o partido mais popular do país. Dados preliminares apontam que o partido lidera em pelo menos seis de 13 regiões da França.

Isto já havia acontecido nas eleições europeias e nas eleições departamentais, e é um desempenho impressionante para um partido que até há pouco tempo era visto como carta fora do baralho.

Os Republicanos, do ex-presidente Nicolas Sarkozy, de centro-direita, estão em segundo lugar, à frente dos Socialistas, do presidente François Hollande, segundo os primeiros números.

Assim que os resultados preliminares foram divulgados, Le Pen disse que o "resultado excelente" provou que a Frente Nacional é "sem dúvida, o primeiro partido da França". A legenda espera, agora, que este desempenho dê fôlego para a candidatura dela à Presidência francesa, em 2017.

A disputa, que elege 1.671 representantes de 13 regiões da França, foi o primeiro teste eleitoral desde os ataques em Paris, em novembro, que deixaram 130 mortos.

As ações podem ter influenciado o voto, já que levaram ao topo da agenda nacional questões relacionadas a imigração e segurança, que sempre foram assuntos centrais da extrema-direita.

Tudo o que a FN teve a dizer foi "eu tinha avisado" - e foi difícil para os Socialistas ou Republicanos responderem.

Mas é errado ligar a vitória de Le Pen unicamente aos temores de ataques. O partido dela vinha crescendo havia quatro anos.

Os problemas que preocupam eleitores são muito mais ligados à economia e à sociedade do que à segurança. Os ataques ofuscaram, por exemplo, o anúncio dos últimos dados de desemprego. Após uma breve melhora, este número voltou a subir.

Para mais e mais eleitores, a receita oferecida pelos dois maiores partidos ( o de Sarkozy e o de Hollande) é indistinguível. Existe, claramente, um sentimento contra o status quo no qual a FN está tomando vantagem.

O bom desempenho da FN não, necessariamente, se traduzirá em poder. As eleições regionais, como a maioria das eleições francesas, são em dois turnos. No próximo domingo, eleitores poderão apoiar os dois principais partidos.

Mas em ao menos duas regiões - no norte e na Cote d'Azur - é quase uma certeza que a FN irá obter o controle. Em uma terceira - Alsácia - sua chance é bem grande. E em outras não seria uma surpresa se ganhasse.

Os dois principais partidos poderiam, em teoria, adotar medidas para evitar a vitória da Frente. O terceiro partido em uma determinada região - Socialista ou Republicano - poderia renunciar da disputa e pedir que seus eleitores votassem para impedir o avanço da FN.

O Partido Socialista já se retirou do segundo turno em pelo menos duas regiões, no norte e no sul, para evitar uma vitória da Frente.

Em anos anteriores, Republicanos e Socialistas trabalharam juntos para evitar conquistas da Frente. Mas as duas maiores legendas decidiram que é melhor para a democracia que elas permaneçam na disputa - mesmo que isso signifique maiores chances para a extrema-direita.

Regras diferentes impedem que esta situação se repita na eleição que realmente importa - à Presidência. Nesta, apenas dois candidatos avançam ao segundo turno: como no Brasil, nunca é uma disputa entre três nomes.

Então, mesmo se Marine Le Pen avançar ao segundo turno das eleições presidenciais, é improvável que ela vença: a maioria combinaria seu voto para o candidato adversário.

Isto, certamente, deixa seus rivais mais aliviados.